A tecnologia, desenvolvida na Suíça, é indicada para quem apresenta malformação do ouvido externo ou doença do ouvido médio e perda auditiva de até 40dB. O dispositivo chegou ao Brasil no fim do ano passado e chama a atenção pelo baixos riscos de infecção que oferece, já que os pacientes são submetidos a uma cirurgia menos invasiva para a colocação do Bonebrigde. Diferentemente da primeira geração de implantes auditivos, que também demanda maior acompanhamento clínico, o novo dispositivo é colocado logo abaixo da pele (veja imagem ao lado) e a condução sonora se faz por meio da ressonância no estribo. Por isso, a cicatrização é mais rápida e o aparelho não imprime tanta pressão ao ouvido do paciente, reduzindo drasticamente a sensação de incômodo.
Outro ponto que facilita a adaptação ao implante é o fato de ele ser flexível. Constituído de silicone e titânio, o equipamento acompanha o desenvolvimento do sistema auditivo dos pacientes. Assim, ele pode ser colocado em crianças e não precisa ser substituído posteriormente. Essa aplicação, no entanto, não é aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Na Europa, pode-se implantá-lo em pessoas com no mínimo 4 anos.
Sem reabilitação
No caso de Eudileia, o dispositivo foi implantado no ouvido direito, menos comprometido com a otite. “O aparelho convencional não resolvia mais. Eu não escutava em detalhes os sons e achava que era normal, mas não era”, conta. Para ela, a falta de nitidez sonora gerou desgaste no ambiente de trabalho. “Eu era caixa de supermercado e, muitas vezes, tive problema com o cliente porque ele falava algo e eu não entendia.” Outro empecilho era o incômodo causado pelo aparelho tradicional. “Havia também o risco de inflamação ainda pior”, detalha.
A situação de Eudileia é bem comum a países em desenvolvimento, de acordo com o diretor-geral do Instituto Brasileiro de Reabilitação Auditiva (Inbraud), Henrique Gobbo. “O Brasil tem muitos casos de infecção de ouvido que acabam evoluindo para otites severas. Ainda é um problema de saúde pública em razão da falta de acompanhamento e de conscientização dos cuidados que se deve ter com o sistema auditivo”, explica.
Peter Graso, engenheiro da Med-El e desenvolvedor do Bonebrigde, chama a atenção para o fato de o dispositivo não necessitar de um processo de reabilitação após ser implantando. “Assim que o paciente o recebe, ele volta a escutar. Isso ocorre porque essas pessoas têm um ouvido interno que é bastante eficaz. Então, a cóclea funciona. Quando se dá uma amplificação ao ouvido interno, o paciente tem uma capacidade de elaborar o som muito bem”, explica.
Em 18 dias, a ferida causada pela implantação do Bonebrigde em Eudileia estava cicatrizada e, em menos de um mês, ela pôde regular o aparelho. A sensação de retomar a audição foi estarrecedora. “Eu parecia uma boba, não sabia se sorria ou se chorava. Agora, até consigo ouvir a conversa abafada quando a porta da sala está fechada. Além disso, consigo ouvir o avião passando”, relata.
A repórter viajou a convite da MED-EL Medical Electronics