Saúde

Pressão intraocular merece atenção

Quando ela se eleva, compromete estruturas muito importantes dos olhos. A doença chama-se glaucoma, é silenciosa e leva à cegueira irreversível

Augusto Pio

Assintomático, o glaucoma – uma das principais causas de cegueira irreversível no mundo – afeta 2,2 milhões de pessoas nos Estados Unidos. No Brasil, as estimativas apontam para mais de 1 milhão de portadores, em seus vários tipos. Caracteriza-se pelo aumento da pressão intraocular, que compromete os vasos sanguíneos que nutrem as estruturas do fundo do olho. Na falta de irrigação sanguínea adequada, as células do nervo óptico se comprometem e se, o problema persistir, elas podem morrer, provocando a perda da visão.


De acordo com Ricardo Guimarães, diretor do Hospital de Olhos, em Belo Horizonte, o glaucoma é uma doença no nervo óptico, normalmente associada ao aumento da pressão intraocular. “Este aumento ocorre devido a um bloqueio no canal que drena o chamado humor aquoso, líquido responsável por nutrir algumas estruturas do interior do olho. Com a obstrução, há o aumento desse líquido no olho, pressionando o nervo óptico, que é o elemento condutor dos estímulos visuais ao cérebro. Isto causa sérios prejuízos às fibras desse nervo, gerando uma gradativa perda de visão e podendo, inclusive, se não diagnosticado e tratado, causar cegueira.”

A pressão interna do olho pode aumentar de forma imperceptível, e é esse fator que preocupa os especialistas da área. “Em outros casos, à medida que a doença se desenvolve, os pacientes podem sentir sensibilidade aguçada à luz, lacrimejamento excessivo, surtos de visão borrada, forte dor ocular, halos coloridos ao redor das luzes e até náuseas e vômitos. O ideal é que todas as pessoas, tendo ou não casos de glaucoma na família, se preocupem com a prevenção e o diagnóstico visual precoce. Pois, o quanto antes essa ou outras doenças forem detectadas, maiores as chances de garantir ao paciente uma visão saudável e maior qualidade de vida”, acrescenta.
O especialista ressalta que, por se tratar de uma doença silenciosa, o glaucoma exige um exame especial para ser detectado, e a grande parte dos pacientes só chega aos consultórios oftalmológicos quando percebe a chamada “visão tubular”. Nesse estágio, a perda visual ocorrida já é irreversível. “O glaucoma não é contagioso, mas a doença é mais comum do que se imagina, sendo uma das principais causas de cegueira irreversível no Brasil e no mundo. Os principais sintomas são olhos vermelhos, desconforto e embaçamento.”

O oftalmologista Renato Brasil, da Clínica Biovisão, esclarece que a prevalência do glaucoma varia enormemente entre os grupos raciais, etários e étnicos. “Apesar de poder ocorrer em todas as idades, o glaucoma é uma patologia incomum antes de 40 anos de idade (média de 0,6%). Em indivíduos de 80 anos ou mais, esses números chegam a 7% ou 8 % (um aumento de mais de 10 vezes). A prevalência em negros é cerca de três vezes maior do que em brancos, em todas as faixas etárias. Em pessoas que têm parentes próximos (pais, irmãos e filhos) com a doença, as chances aumentam para 15%.”

Renato diz que, apesar do avanço das novas tecnologias, que ajudam no diagnóstico precoce do glaucoma, nada substitui um exame clínico oftalmológico de qualidade. “É por meio de um exame cuidadoso que conseguimos identificar fatores clínicos que sugerem o glaucoma e fatores associados à história clínica (história familiar, idade e raça). Os pacientes que podem ter alguma chance de ter o problema são submetidos a exames específicos (clínicos e complementares) que comprovem a perda da camada de fibras nervosas e alterações funcionais e estruturais na visão. O ideal é identificar uma alteração estrutural antes que ela se torne funcional, ou seja, antes que cerca de 30% das fibras nervosas sejam perdidas.”

“NÃO SENTIA NADA”
A funcionária pública aposentada Nísia Fonseca de Oliveira, de 77 anos, diz que costumava ir regularmente ao oftalmologista, acompanhando a mãe que sofria de catarata e glaucoma, até que resolveu fazer uma consulta. Foi quando descobriu que estava com catarata, tendo feito, inclusive, a cirurgia corretiva. “Eu não sentia nada. Logo depois da catarata, meu médico diagnosticou o glaucoma. Agora, com o acompanhamento, a pressão está controlada”, diz.