Com o aumento da quantidade de cirurgias, o número de pessoas que aguardam um transplante caiu 40% em cinco anos – a fila diminuiu de 64, 7 mil pessoas em 2008 para 38,7 mil em 2013. Em Minas, segundo o MG Transplantes, o avanço se deve ao plantão permanente na busca por doadores para todas as necessidades. “São 24 horas por dia de atenção a todos os que estão enfrentando a espera”, garante o médico Charles Simão Filho, diretor do complexo de transplantes. Em Minas, o aumento no número de transplantes nos últimos 10 anos chegou a 56,3%.
Este ano, soma-se aos bons resultados no país a parceria entre empresas aéreas, Aeronáutica e Ministério da Saúde, favorecendo o transporte para doações. Só no primeiro trimestre, mais de 2 mil órgãos e equipes de transplante foram transportados de avião, um aumento de 86% em relação ao mesmo período de 2013. Vale destacar que o Brasil precisou de mais de duas décadas para chegar a 9,9 doadores por milhão de pessoas. Nos últimos três anos, esse índice subiu para 13,5. Até o próximo ano, a meta é chegar a 15 doadores por milhão. Expectativa tímida, comparada aos 35 doadores por milhão de pessoas, alcançados na Espanha.
Na outra ponta do drama, em terras brasileiras, a agonia da espera. Jáder Sampaio, de 49 anos, está há mais de seis anos à espera de um doador de rins. O que começou com a urina espumante, no fim dos anos 1990, terminou com a falência dos rins. O diagnóstico da doença renal veio depois de exame admissional, quando o professor universitário foi aprovado em concurso público. Por quase uma década, Jáder conseguiu cuidar da função renal. Até se tornar dependente da hemodiálise – uma máquina (rim artificial) para filtrar as impurezas do sangue.
É uma luta que não parece ter fim. Nos últimos cinco anos, são cinco sessões semanais de duas horas e meia diárias de tratamento. Foi numa manhã de cuidados no Instituto Mineiro de Nefrologia, no Bairro Funcionários, na Região Centro-Sul de BH, que o professor aposentado recebeu a reportagem do Estado de Minas. Tomado de vida, amor pela família e vontade de viver, Jáder não faz drama. De fala tranquila e sorriso animador, o doutor em administração lida de forma exemplar com sua condição. No entanto, reconhece que nem sempre foi assim.
“Quando a gente passa pelas perdas, pelas muitas fases da doença, vem a força. No início, foi muito difícil. Tive depressão e precisei de acompanhamento psiquiátrico”, revela. Para Jáder, estudioso, entre outras matérias, do assunto doação de órgãos, a luta de uma paciente na fila por doação é mesmo uma saga. “Para entender melhor a situação, é preciso ouvir os profissionais de saúde intensivistas. Se por um lado temos uma estatística positiva, por outro temos ainda a resistência de familiares dos possíveis doadores e a dificuldade de acesso dos doutores às doações”, avalia.
Demora que mata
Monalisa Maria Gresta, de 54 anos, enfermeira intensivista há 30 anos, já esteve na Comissão Intersetorial de Doação de Órgãos e Tecidos (Cidot). A especialista, com mestrado no assunto, conhece bem as agruras dos pacientes à espera de um transplante. Tanto que sua dissertação de mestrado ganhou o título de “A espera que mata”. No trabalho acadêmico, Monalisa acompanhou de perto, em imersão de três anos, o cotidiano de agonia de duas dezenas de pacientes em fio de esperança. “Inclusive, com casos de espera sem sucesso, com morte de uma familiar”, conta.
Para a profissional de saúde do Hospital das Clínicas da UFMG, a legislação avançou muito no Brasil, onde o processo tem sido “transparente, acessível e rastreável”. “Ainda precisamos derrubar o mito de que há a possibilidade de uma oferta paralela de um órgão. Não existe isso. Há uma transparência admirável, hoje, no Brasil”, elogia. Monalisa, entretanto, entende que é preciso avançar mais. “Por exemplo, na melhora da credibilidade das instituições hospitalares junto à população”.
“É fato também que a comunidade médica também precisa amadurecer no trato, na abordagem, da família de um possível doador”, avalia. Monalisa defende uma capacitação ainda maior dos profissionais de saúde, “da portaria aos CTIs”, pontua. Envolvida com a causa, em permanente campanha pela conscientização da população para a importância da doação de órgãos, a enfermeira deixou a dedicação exclusiva aos CTIs para trabalhar mais efetivamente pela doação.
REDES SOCIAIS Para estimular a doação de órgãos no país, o Ministério da Saúde também investe em campanhas e ações de mobilização. Uma delas, é a parceria com o Facebook, no qual o internauta declara ser doador em seu perfil. Cerca de 140 mil pessoas já se declararam doadores no www.facebook.com/doacaodeorgaos
ESTADO GRAVÍSSIMO
Era considerado gravíssimo na noite de ontem o estado de saúde da adolescente Renata Lara de Oliveira, de 13 anos, que entrou em quadro de falência renal, segundo a médica intensivista Adrianne Leão Sete e Oliveira. A paciente passava por hemodiálise e estava sedada com analgésicos, embora consciente. Há 40 dias, a garota, que tem miocardiopatia dilatada há três anos, aguarda por um transplante de coração no centro de tratamento intensivo (CTI) do Hospital das Clínicas, em BH. Os primeiros sintomas da doença costumam ser dificuldade respiratória durante os exercícios e fadiga, decorrentes do quadro de insuficiência cardíaca.
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Doar é salvar vidas
A doação de órgãos e sua destinação para transplantes é coordenada em Minas Gerais pelo Complexo MG Transplantes, responsável pela captação e distribuição de órgãos em todo o estado, por meio da Central Nacional de Captação de Doação de Órgãos (CNCDO). O complexo é composto por centros de notificação, captação e distribuição de órgãos na Grande BH, Zona da Mata e regiões Sul, Oeste, Nordeste e Leste do estado. Linha de orientação à população: 0800-0283-7183; e-mail mgtransplantes@saude.mg.gov.br; endereço: Avenida Professor Alfredo Balena, 400, 1º andar, Santa Efigênia, BH; telefones: (31) 3219-9200 e 3219-9211