Em números totais, de 1980 a 2013, obesos e pessoas em sobrepeso pularam de 857 milhões para 2,1 bilhões, respectivamente. O maior ganho em sobrepeso e obesidade ocorreu globalmente entre 1992 e 2002, principalmente entre as pessoas com 20 a 40 anos. Essas taxas variam muito entre os países e regiões, sendo que mais da metade dos 671 milhões de obesos atualmente vive em 10 países (veja infográfico). Nos países de alta renda, os maiores aumentos na prevalência do problema entre adultos estão nos Estados Unidos, na Austrália e no Reino Unido. No primeiro, cerca de um terço da população adulta é obesa, no segundo, 28% dos homens e 30% das mulheres. Entre os britânicos, a proporção de obesos cai, mas ainda é assustadoramente prevalente em um quarto da população adulta.
De uma forma geral, as taxas de sobrepeso e obesidade de adultos têm aumentado tanto para homens (de 29% para 37%) quanto para as mulheres (de 30% para 38%). A diferença entre os gêneros, porém, chama a atenção nos países desenvolvidos, que abrigam 62% dos obesos e os homens apresentam maiores taxas do problema. Nas nações em desenvolvimento, o fenômeno inverso é observado.
O relatório indica ainda que o público que mais sofre com o avanço da doença pelo mundo é também o mais vulnerável: as crianças. Entre elas, o aumento da obesidade durante o período analisado chegou a 47%. “É um problema que afeta pessoas de todas as idades e renda, em todos os lugares”, declarou Christopher Murray, diretor do Instituto de Metrologia da Saúde e Avaliação (IHME) e cofundador do estudo, intitulado Global Burden of Disease (GBD). “Nas últimas três décadas, nenhum país tem alcançado sucesso na redução das taxas de obesidade. Avaliamos que ela subirá de forma constante, conforme a renda aumente, especialmente nos países de renda baixa e média, a menos que medidas urgentes sejam tomadas para resolver essa crise de saúde pública”, acrescenta.
IMC
Os pesquisadores do GBD, distribuídos em diversas instituições mundiais de saúde, utilizaram o conhecido índice de massa corpórea (IMC), que categoriza como sobrepeso a divisão entre o peso e a altura ao quadrado que resulte em mais de 25 kg/m² e como obesidade o resultado acima de 30 kg/m². Eles foram liderados por Emmanuela Gakidou do IHME, que faz parte da Universidade de Washington, nos Estados Unidos. Os índices brasileiros foram coletados por especialistas das universidades Federal de Minas Gerais (UFMG), de São Paulo (USP) e da Região de Joinville (Univille).
Segundo a líder do trabalho, o fator mais preocupante é que, ao contrário de outros grandes riscos para a saúde global, como tabaco e nutrição infantil, o excesso de peso não está caindo no mundo. “Nossos resultados mostram que o aumento da prevalência da obesidade tem sido substancial e generalizado e que surgiu ao longo de um curto período de tempo”, alerta Gakidou. Ela acredita que a meta da Organização das Nações Unidas (ONU) para impedir o aumento da doença até 2025 é muito ambiciosa e provavelmente não será alcançada “sem uma ação eficiente e mais pesquisas para avaliar o efeito das intervenções em toda a população”.
O preço do conforto
“A busca pela redução da obesidade é muito complicada. Primeiro, porque é uma doença crônica e cada vez mais prevalente. No transcorrer do tempo, todos procuraram um conforto excessivo, que representou para o homem uma alimentação cada vez mais calórica, mais inadequada e menos atividade física. A quantidade de veículos automotores aumentou muito e, com isso, ficou menor o trânsito das pessoas a pé. Em alguns lugares do mundo em que isso tem mudado, como em países da Europa, a obesidade começa a se estabilizar. Hoje, é arriscado andar de bicicleta no Brasil. Cada vez há mais conforto e menos atividade física, cada vez eu procuro usar mais o carro e vou caminhar menos.”
Mário Carra, presidente da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso)