“Eu sou Davi, tenho quase 3 anos e fui diagnosticado com leucemia (do tipo mieloide aguda, um dos mais agressivos) em agosto de 2013...” Com uma mãozinha de sua mãe, o pequeno herói se apresenta na fan page Vamos ajudar o Davi (https://goo.gl/H9Tf7w), no Facebook. No dia 7, ele passou por um transplante de medula óssea para curar seu câncer e passa bem. A página, criada em novembro do ano passado, foi mais uma iniciativa – que tem virado tendência – de utilizar a tecnologia à favor da conscientização e solidariedade na rede.
Aproveitando-se desse hábito dos novos tempos, e com o objetivo de ajudar um número maior de pessoas, empreendedores mineiros lançam nesta segunda-feira o aplicativo I’m Donor (Eu sou doador, em português) para cadastro de doadores de órgãos e sangue. Para se ter uma ideia, o estoque de sangue da Fundação Hemominas está 40% menor do que a demanda. “Estamos mobilizando todas as unidades, por meio da campanha Plano Relógio, para aumentar em 20% o estoque, porque seremos sede da Copa do Mundo. Com a intensificação do número de turistas, pode ocorrer uma demanda grande”, ressalva Cíntia Calu, de 29 anos, captadora do Hemocentro de Belo Horizonte. A campanha se estenderá até 8 de agosto.
Segundo ela, o baixo estoque se deve principalmente ao frio: muitas pessoas ficam doentes, com problemas alérgicos, ou mesmo tomam a vacina da gripe e, por isso, ficam impossibilitadas de doar. Feriados e férias também fazem com que os doadores se ausentem dos pontos de coleta. “O grupo sanguíneo O negativo é o mais requisitado, porque é usado em prontos-socorros quando não se sabe o tipo do sangue do paciente. Já o A e o O positivo tem-se em maior quantidade no estoque, porque são o tipo de grande parte da população”, explica.
A rede da Hemominas tem 21 pontos de coleta, incluindo um novo centro no Shopping Estação BH, em Venda Nova. Só o Hemocentro atende diariamente 280 pessoas, cerca de 6 mil por mês. Cíntia diz que é possível perceber um leve aumento no número de candidatos que nunca doaram sangue nos últimos anos, e, em geral, nesse grupo estão os jovens. Em 2012, foram 103.045 cidadãos que se dispuseram a doar, contra 105.145 em 2013. “Esse aplicativo atingirá justamente o público que não foi educado a doar sangue. A ideia é perfeita, desde que a informação transmitida seja correta”, ressalva.
Aplicativo na veia
O aplicativo demorou oito meses para ficar pronto. O usuário pode fazer o login com a sua conta do Facebook e informar o que está disposto a doar (sangue, medula e/ou órgãos). É possível solicitar doações de sangue para parentes ou amigos que estiverem internados em alguma clínica ou hospital, além de divulgar mensagens em sua rede social. Do outro lado, hospitais, hemocentros, bancos de órgãos, pele e medula poderão enviar pedidos de doações aos usuários. Aquele que tiver perfil compatível com a solicitação receberá uma notificação push com local, endereço, telefone e prazo para atender o pedido.
O cirurgião dentista William Macedo Silva, de 30 anos, sendo oito deles como doador de sangue, foi um dos escolhidos para testar a versão beta do aplicativo. Ele aprovou a novidade e disse que a plataforma funcionará como uma rede de interação que aumentará os doadores. “Para se cadastrar é bem simples, pode ser feito por uma rede social. Dá para fazer uma busca por pontos de coleta mais próximos, de acordo com sua localização, e realizar um check-in no local”, conta. Segundo ele, uma seção informativa esclarecendo como os procedimentos são feitos seria algo positivo a acrescentar no app. “É importante saber, por exemplo, que doar é benéfico para o organismo. Estimula a produção sanguínea de células novas”, diz.
Sua esposa, Viviane Rosental, dentista, de 29, nunca doou sangue, mas depois de conhecer o aplicativo se sentiu mais motivada a se cadastrar, especialmente pela praticidade oferecida. “Muitas vezes as pessoas não doam porque acham que os postos estão longe do trabalho. Lembrava só da Hemominas, mas descobri pelo aplicativo que a coleta é feita até em shopping”, conta. Um recurso que poderia ser desenvolvido, segundo ela, é o envio de notificações também por SMS, já que nem sempre as pessoas ficam com o plano de dados ligado o dia todo no smartphone.
O publicitário e sócio criador do aplicativo, Athos Martins Oliveira, de 28, conta que no mês que vem a plataforma deve ganhar funcionalidade de cadastro pelo Google %2b, além de expansão de compartilhamento por outras redes sociais, como o Twitter. Ele assegura que não é preciso temer vazamento de dados, especialmente por causa do tráfico de órgãos. Somente os centros conveniados terão acesso às informações e, mesmo assim, por meio de senhas.
A expectativa é de 10 mil usuários no primeiro mês. Em princípio, a utilização do serviço pelos centros de captação não será cobrada. O modelo de negócios se dará por meio de espaços publicitários dentro do aplicativo. “As empresas querem associar sua marca a um projeto de bem social”, diz Athos. Segundo ele, o programa começa em Belo Horizonte e região, mas o objetivo é levá-lo para todo o Brasil e até para outros países.
Quem PODE doar
» Pessoas entre 18 e 69 anos de idade. Jovens de 16 e 17 anos precisam estar acompanhados dos responsáveis legais ou portando autorização. Pessoas com mais de 61 anos poderão doar se tiverem realizado, pelo menos, uma doação antes dos 60 anos. É preciso ter e estar com boa saúde, pesar acima de 50kg e dormir bem na noite anterior à doação. Mulheres, mesmo se menstruadas ou em uso de anticoncepcionais, também podem doar.
Quem NÃO pode doar
Aquele(a) que:
» teve hepatite após os 11 anos, exceto se tiver comprovação laboratorial da época em que a pessoa tratou da hepatite A (IgM positiva);
» se expôs a situações de risco acrescido para doenças sexualmente transmissíveis;
» teve gripe, resfriado ou diarreia nos sete dias anteriores à doação;
» ingeriu bebida alcoólica nas últimas 12 horas anteriores à doação;
» usou ou usa drogas injetáveis;
» apresenta ferimento ainda não cicatrizado;
» estiver grávida ou em período de amamentação; após o parto normal, é necessário aguardar três meses; após cesárea, seis meses;
» fez qualquer exame por endoscopia nos seis meses anteriores à doação;
» fez cirurgia por laparoscopia nos seis meses anteriores
à doação;
» fez tatuagem nos últimos 12 meses anteriores à doação;
» fez ou faz tratamento dentário (a pessoa pode ser impedida de doar por um período de até 30 dias, conforme o caso).
Regras
» Para doar, o candidato não pode estar em jejum. Se a doação de sangue for feita pela manhã, é preciso estar bem alimentado. Se for à tarde, deve-se esperar três horas após o almoço. O prazo mínimo entre uma doação de sangue total e outra é de 60 dias, para os homens, e 90 dias, para as mulheres. Para doadores acima de 60 anos, o intervalo é de seis meses. O material utilizado para a coleta do sangue é descartável, e não há risco de se contrair doenças. A cada nova doação, o candidato passará por nova triagem clínica, e o sangue será submetido a rigorosos testes laboratoriais.
Documentos necessários:
» Documento original e oficial de identidade que tenha foto, filiação e assinatura.
Para baixar:
Disponível, gratuitamente, para dispositivos Android. Será liberado em breve para iOS. A empresa informa que o Google Play confirmou que o aplicativo será liberado hoje (19/05/2014) e, caso não consiga fazer o download, o interessado deve enviar sua dúvida pelo fale conosco do site imdonor.com.
SERVIÇO
Interessados em doar sangue devem procurar uma das unidades de atendimento da Hemominas. Veja a lista no site (hemominas.mg.gov.br). A doação pode ser feita na hora do comparecimento ou agendada com antecedência, por telefone. Algumas unidades disponibilizam o serviço de pré-agendamento on-line.
Tecnologia solidária busca doadores de sangue
Enquanto a Hemominas tem queda de 40% em seu estoque, empreendedores mineiros lançam aplicativo de cadastro para a doação, com esperança de aumentar o número de voluntários