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Com exceção da cesariana, brinca o médico, qualquer cirurgia ginecológica hoje pode ser feita via laparoscopia, inclusive para tratamento da endometriose e do prolapso genital (queda da bexiga e do intestino). Antes feitas de forma invasiva, hoje essas intervenções preservam o máximo dos nervos da área afetada, permitindo que a micção (controle urinário) e as funções sexuais sigam normalmente. “É a técnica que chamamos de ‘nerve-sparing surgery’, ou seja, uma cirurgia que poupa as terminações nervosas e permitem uma ótima preservação do assoalho pélvico, o que garante a qualidade de vida em muitos sentidos para a mulher, da higiene à sexualidade plena”, resume.
Um outro ganho para as cirurgias ginecológicas foi a histeroscopia. Um pequeno telescópio é introduzido, via vaginal, no útero, e permite realizar, sem necessidade de pontos e cortes - e muito menos de retirada do órgão – a eliminação de miomas, por exemplo. E com a demanda de apenas um dia de internação. “Com essas técnicas, podemos evitar que o medo da cirurgia faça com que mulheres convivam por longos períodos com problemas que têm solução, a exemplo do prolapso genital”, aponta Bicalho.
Em relação aos vários tipos de câncer que atingem o aparelho reprodutor feminino, um grande avanço recente foi o uso da técnica conhecida como linfonodo sentinela, que já é utilizada no tratamento do câncer de mama. O linfonodo sentinela é aquele que primeiro recebe a drenagem linfática de um tumor. Por meio de um aparelho chamado Gama Probe, que é composto de uma sonda de detecção e de sistema de registro digital da radiação gama, é injetado um radiofármaco ou um corante especial que localiza esse linfonodo ‘vigilante’.
Assim, é possível identificar e realizar a análise do tumor antes que ele se espalhe por meio do sistema linfático. “Em tempos em que a disseminação do HPV caracteriza uma epidemia e faz crescer o número de casos de câncer de colo de útero, inclusive em meninas de 16 a 18 anos, essa técnica pode ser muito importante. Nos casos em que a lesão for benigna, é possível preservar o útero, ovários e trompas. Protegendo, portanto, a capacidade reprodutiva”, salienta o diretor da Sogimig.
De acordo com Délzio Bicalho, a técnica do linfonodo sentinela já demonstrou bons resultados. Cerca de 50% das pacientes que passaram pelo procedimento tiveram sucesso na tentativa de engravidar posteriormente. Destas, 70% não tiveram outros problemas ao longo da gestação e levaram o bebê para casa. A evolução mais recente dessa técnica foi apresentada nesta quinta-feira, durante o evento na capital mineira, no curso de Oncologia Ginecológica, ministrado pela estadunidense Shannon Westin, professora assistente do MD Anderson Cancer Center, um dos principais centros de oncologia do mundo.
Simplicidade e internação reduzida
Já na direção dos procedimentos para quem não deseja mais ter filhos, a novidade é o dispositivo Essure, que permite realizar a ligadura de trompas no consultório médico, por meio da histeroscopia. Elimina-se a necessidade de internação e anestesia geral. “O método está chegando ao Brasil agora e já é utilizado na rede pública no Distrito Federal e no Rio Grande do Sul. Seguro e com riscos muito reduzidos em relação ao procedimento tradicional, acreditamos que em breve será mais disseminado no país”, explica.
Completando a lista de inovações que pretendem dar mais segurança e tranquilidade para a mulher que necessita passar por uma cirurgia ginecológica, o Congresso trouxe também o Programa de Recuperação Melhorada da clínica norte-americana Mayo. “Até recentemente, era comum que a paciente precisasse fazer longos períodos de jejum, passar por lavagens intestinais e vários dias com uma sonda para auxiliar na eliminação de urina. O conceito agora é de agredir o mínimo possível e fazer com que a mulher retorne para o conforto da sua casa, cama e banheiro muito mais rápido”. Resume Bicalho.
O programa é feito por meio do uso de bebidas calóricas e nutricionais, técnicas minimamente invasivas (sempre que possível) e a atuação de uma equipe que inclui, além do cirurgião, do anestesista e dos enfermeiros, o fisioterapeuta, o nutricionista e outros profissionais de saúde ligados ao bem-estar. O período de jejum é menor, o uso da sonda é feito apenas por algumas horas e há menos necessidade de analgésicos, mesmo em grandes cirurgias. “Uma recuperação rápida significa mais qualidade de vida”, conclui o especialista.