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O organismo passa por um processo de adaptação durante a viagem aérea. Isso porque a pressão dentro da cabine da aeronave não é igual à do nível do mar. Procura-se atingir uma pressurização interna de, no máximo, 2.400 metros, equivalente à altitude da Cidade do México , que é bem tolerada por indivíduos saudáveis. Além de uma menor oxigenação do sangue, para se manter em um ambiente hipobárico (com ar rarefeito), observa-se aumento das frequências cardíaca e respiratória. “Os gases presentes no organismo, como no intestino e dentro da tuba auditiva, expandem em seu tamanho duas vezes, e isso é um problema. Por isso, o indivíduo gripado não deve voar e o que fez cirurgia recente vai sentir certo desconforto”, explica a nefrologista Vânia Elizabeth Ramos Melhado, presidente da Sociedade Brasileira da Medicina Aeroespacial (SBMA) e professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
As estatísticas mostram que a maioria dos problemas ocorre depois de quatro horas de voo. O mais comum é haver desmaio. Segundo Vânia, a suspeita é de que o corpo não tenha conseguido se adaptar à falta de oxigenação e haja expansão de gases no organismo. As mortes em aeronave são mais raras. Em quase todas as companhias aéreas do mundo, são registrados, em média, três casos por ano. Geralmente, os passageiros apresentavam doença prévia. “Para quem é saudável, as condições de voo não fazem nenhuma diferença. Todas as mortes a bordo envolvem pessoas doentes, que não deveriam estar dentro do avião, e sim no hospital ou no transporte aeromédico”, pontua a presidente da SBMA. A nefrologista acrescenta que aeroporto é lugar de morte súbita, pois anda-se muito e carrega-se peso. Para um passageiro com angina, por exemplo, é alta a chance de sofrer um infarto em um ambiente com baixa oxigenação depois do estresse físico.
No Brasil, a situação é preocupante. O fluxo de pessoas que viajam para tratamento é grande, assim como o número de voos com mais de quatro horas em território nacional. Na companhia aérea onde trabalha, Vânia Melhado analisa, por dia, 20 relatórios médicos de passageiros enfermos que querem se deslocar de avião. A política é sempre autorizar o embarque com segurança. “O paciente faz revascularização do miocárdio (ponte de safena) 48 horas antes e chega ao aeroporto querendo voar. Estamos vivendo um momento de confusão: a aviação comercial não é transporte aeromédico”, destaca.
O pior pode ocorrer com passageiros que não declaram a doença, pois eles não estão livres de passar mal a bordo. O cardiologista Sérgio Timerman, diretor do comitê de emergências cardiológicas da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), esclarece que problemas como pneumonia, doença pulmonar obstrutiva crônica, asma aguda, pneumotórax e doença cardíaca podem agravar o quadro de hipóxia (baixa de oxigênio). “Embora o transporte dentro de uma cabina pressurizada, normalmente, elimine ou reduza o potencial para complicações de hipóxia, existem fatores individuais significativos ou doenças predisponentes que são exacerbados à altitude.” Ingestão de álcool, fatores emocionais, como medo de voar, e tabagismo, que produz monóxido de carbono e reduz a capacidade do sangue em se combinar com o oxigênio, também são fatores de risco para agravar as consequências da falta de oxigenação.
Em caso de emergência a bordo, é o comandante do voo quem analisa a necessidade de um pouso de emergência, mas nem sempre é possível executá-lo. Por isso, os aviões comerciais são obrigados pelo Ministério da Saúde e o Ministério da Aeronáutica a carregar conjuntos médicos de emergência (CME). “Apesar de na maioria dos voos ser encontrado um médico entre os passageiros, essa não é a melhor abordagem. Nem sempre os médicos estão preparados tecnicamente para atender emergências fora do ambiente hospitalar. Os comissários de bordo, único recurso humano que está sempre presente nos voos, são os elementos-chave e recebem treinamento apenas básico”, ressalta Timerman.
De acordo com o cardiologista, todo passageiro portador de uma condição de saúde que possa, potencialmente, descompensar a bordo deve tomar alguns cuidados básicos: ter em mãos relatório médico, bem como informações de contato do médico assistente e do seguro de saúde; levar na bagagem de mão a medicação de uso diário, evitando atrasos no caso de extravio de malas, e verificar com a empresa aérea escolhida os recursos disponíveis a bordo para atender emergências.
Uma das autoras da cartilha Doutor, posso viajar de avião?, a presidente da SBMA lembra que mesmo os passageiros saudáveis devem se cuidar para viajar com mais tranquilidade. Deve-se adotar uma dieta pobre em fibras um dia antes da viagem, sabendo que vai ocorrer expansão de gases, tomar bastante líquido, escolher roupa confortável, usar meia elástica e fazer exercícios com os pés para evitar a trombose, associada à imobilidade por muitas horas seguidas. “As pessoas ligam o péssimo hábito de tomar bebida alcoólica a uma sensação de relaxamento, mas estão piorando a situação. O ambiente é seco, frio e desidrata.” Vânia lembra o caso da adolescente brasileira que morreu em um voo de Miami para São Paulo no início do mês. Uma pneumonia é apontada como causa da morte da passageira, que teve uma parada cardiorespiratória pouco mais de uma hora antes da aterrisagem. Pelo que se sabe, ela também apresentou quadro de desidratação ao longo do voo.
Autonomia para o médico de aeroporto
O Conselho Federal de Medicina (CFM) estuda definir critérios mais claros para autorizar ou impedir o embarque de um passageiro enfermo. Atualmente, o médico da companhia aérea tem poder de veto, mesmo com a autorização para a viagem de avião do especialista que acompanha o caso. Para o coordenador da Câmara Técnica de Medicina Aeroespacial do CFM, Emmanuel Fortes, é preciso dar mais autoridade ao médico de aeroporto, para que ele possa tomar
decisões mais ágeis.
OS AVIÕES ESTÃO PREPARADOS?
» O conjunto médico de emergência (CME) tem por finalidade oferecer recursos a médicos voluntários que possam estar, eventualmente, a bordo, auxiliando e sendo auxiliados pelos comissários nos casos de emergências. Eles não se destinam ao transporte de passageiros sabidamente enfermos, que necessitam de transporte aeromédico;
» Os aviões comerciais carregam cilindros de oxigênio medicinal para uso emergencial. Esses equipamentos são especificamente homologados para uso aeronáutico, por isso apresentam limitações importantes em relação aos cilindros de uso rotineiro hospitalar;
» Recentemente, os desfibriladores externos automáticos (DEAs) foram incorporados aos conjuntos médicos. Nos Estados Unidos, eles são equipamentos obrigatórios para voos comerciais em aeronaves com capacidade maior ou igual a 30 passageiros;
» As grandes empresas aéreas internacionais têm adotado cada vez mais soluções de orientação médica remota. Centros especializados, usualmente ligados a hospitais de emergência, podem ser acessados através dos equipamentos de comunicação das aeronaves: telefonia por satélite ou rádios;
» Algumas companhias incorporaram também equipamentos de monitorização clínica múltipla digital, permitindo o envio de sinais biológicos, como pressão arterial, temperatura, oximetria e mesmo eletrocardiogramas diretamente do avião para centros de orientação médica. Dessa forma, é possível confirmar ou excluir diagnósticos de condições ameaçadoras da vida, como infartos e arritmias;
» Com o desenvolvimento de aeronaves de alta capacidade de passageiros, que dispõem de menos alternativas de aeroportos para efetuar um pouso não-programado, aumenta-se o interesse em soluções de telemedicina, que incorporam vários dos elementos, como sistemas de monitorização médica, centros de orientação remota e comissários de bordo com treinamento focado para cuidados intermediários.
Fonte: Sérgio Timerman, cardiologista
» O conjunto médico de emergência (CME) tem por finalidade oferecer recursos a médicos voluntários que possam estar, eventualmente, a bordo, auxiliando e sendo auxiliados pelos comissários nos casos de emergências. Eles não se destinam ao transporte de passageiros sabidamente enfermos, que necessitam de transporte aeromédico;
» Os aviões comerciais carregam cilindros de oxigênio medicinal para uso emergencial. Esses equipamentos são especificamente homologados para uso aeronáutico, por isso apresentam limitações importantes em relação aos cilindros de uso rotineiro hospitalar;
» Recentemente, os desfibriladores externos automáticos (DEAs) foram incorporados aos conjuntos médicos. Nos Estados Unidos, eles são equipamentos obrigatórios para voos comerciais em aeronaves com capacidade maior ou igual a 30 passageiros;
» As grandes empresas aéreas internacionais têm adotado cada vez mais soluções de orientação médica remota. Centros especializados, usualmente ligados a hospitais de emergência, podem ser acessados através dos equipamentos de comunicação das aeronaves: telefonia por satélite ou rádios;
» Algumas companhias incorporaram também equipamentos de monitorização clínica múltipla digital, permitindo o envio de sinais biológicos, como pressão arterial, temperatura, oximetria e mesmo eletrocardiogramas diretamente do avião para centros de orientação médica. Dessa forma, é possível confirmar ou excluir diagnósticos de condições ameaçadoras da vida, como infartos e arritmias;
» Com o desenvolvimento de aeronaves de alta capacidade de passageiros, que dispõem de menos alternativas de aeroportos para efetuar um pouso não-programado, aumenta-se o interesse em soluções de telemedicina, que incorporam vários dos elementos, como sistemas de monitorização médica, centros de orientação remota e comissários de bordo com treinamento focado para cuidados intermediários.
Fonte: Sérgio Timerman, cardiologista