Há 50 anos, a ciência persegue essa forma de evitar uma doença que infecta mais de 50 milhões de pessoas por ano no mundo. A pesquisa do laboratório Sanofi Pasteur, que envolve no total 40 mil voluntários em vários países, inclusive no Brasil, é a única que conseguiu chegar a um passo tão avançada no desenvolvimento, a chamada fase 3, com resultados considerados satisfatórios. Até então, o melhor índice alcançado havia sido de 30%.
Pesquisadores brasileiros também estão nessa corrida, mas os trabalhos encontram-se em etapas anteriores. A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), por exemplo, desenvolve uma versão com financiamento 100% público, prestes a ser testada em macacos. Já a Universidade de São Paulo (USP) realiza, em 2014, os primeiros testes da vacina em humanos, com um grupo pequeno de voluntários. Clique aqui para saber mais.
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O médico referência em imunização José Geraldo Ribeiro, diretor científico da Imunológica Vacinas Humanas, pondera que o número apresentado – 56% - ainda é preliminar. “A expectativa é de que, até o segundo semestre, sejam divulgados os resultados em relação a cada tipo de vírus, para que se tenha uma ideia melhor da possibilidade de uso dessa vacina. Nos estudos de fase 2, com um número de voluntários mais restrito, houve uma eficácia de 60% em relação ao tipo 1 e de 90% em relação ao tipo 4, por exemplo. Já a eficácia em relação ao tipo 2 foi mais baixa”, completa Ribeiro.
O especialista avalia que, no cenário atual, em que o controle do vetor – o Aedes Aegypti – enfrenta grandes dificuldades devido à perfeita adaptação do mosquito à vida urbana, a vacina com as características apresentadas até agora já seria bem-vinda. “A dengue está se tornando uma doença de importância pediátrica, e as crianças estão adoecendo de forma grave. Uma vacina com esse índice de sucesso e segurança já seria fundamental para a prevenção, e já poderia ser usada em larga escala até que surgisse uma mais eficiente”, detalha o médico.
Sheila Homsani destaca que a empresa já aproxima-se da fase de registro, fabricação em escala industrial, aprovação junto às agências reguladoras e lançamento dos produtos. As vacinas serão produzidas em uma fábrica totalmente dedicada à dengue na localidade francesa de Neuville-sur-Saône. A partir daí, o fornecimento para as redes públicas e privadas de cada país seriam negociados com os ministérios e distribuidores locais. A previsão de início deste processo é o final de 2015.
Crianças brasileiras vacinadas
No Brasil, a fase 3 não está longe dos resultados asiáticos. Aqui, 3.550 crianças e jovens de 9 a 16 anos já tomaram as três doses previstas, nas cidades de Natal, Fortaleza, Goiânia, Vitória e Campo Grande. Os testes são realizados em parceria com universidade locais. Em toda a América Latina, serão 20 mil voluntários. “Até o final de 2014, esperamos ter todos os dados consolidados, lembrando que pode haver variação de resultados de país para país, em função de fatores característicos de cada ambiente e da população”, esclarece Sheila Homsani.
A OMS tem como meta reduzir o número de mortes por dengue em 50% até 2020. “O índice obtido com essa vacina aproxima-se do necessário para alcançar essa meta, mas é importante que as três doses sejam aplicadas”, alerta a médica. Sheila completa que, no Brasil, as crianças pequenas têm ampla cobertura vacinal, mas depois que crescem, deixam de ser imunizadas. “Quase metade da população brasileira deixa de tomar os reforços e doses necessárias na idade adulta. Esse 'detalhe' é muito importante para o sucesso da prevenção”, esclarece.
A variedade de tipos do vírus da dengue sempre representou o maior desafio à produção de uma vacina contra a doença. A partir dos resultados individualizado em relação aos tipos existentes – 1,2,3,4 –, cada região do globo, inclusive o Brasil, deverá refletir sobre o impacto da imunização. Isso deverá considerar o cenário de vírus circulantes. Em 2014, por exemplo, observou-se maior circulação do tipo 1 no país. Em 2013, o destaque foi o tipo 4. No momento, não temos nenhuma vacina contra a doença, que infecta dezenas de milhões de pessoas todos os anos e provoca milhares de mortes. Qualquer vacina segura que chegue ao mercado já será boa. O que todos nós não podemos esquecer, no entanto, é que o processo até chegar à distribuição no SUS é longo. Em uma visão otimista, isso acontecerá daqui a dois ou três anos. Não podemos relaxar com as medidas atuais de prevenção e de eliminação dos focos do mosquito em nossas casas.