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Segundo a presidente da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia da Bahia e membro da Comissão de Mortalidade Materna da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Ana Luiza Fontes, apesar de todos os esforços e programas institucionais que buscam ajudar a saúde da gestante, ainda há muito para caminhar. “Nós não vamos conseguir bater a meta do milênio de chegar a um indicador de 35 óbitos a cada 100 mil nascidos vivos. Temos mais que o dobro disso.”
Para Fontes, seria possível ter dados muito mais baixos se houvesse um maior cuidado com as mulheres em idade fértil: prepará-las para a gravidez e, quando gestantes, fazer uma melhor triagem daquelas que precisam de cuidados específicos ou sofrem algum tipo de risco. “O aborto ainda é a quarta causa de mortalidade materna no país. São dados estarrecedores. Para ter uma ideia, acreditamos que mais de 90% das mortes maternas relacionadas à gravidez poderiam ser evitadas.” Segundo o relatório da OMS, apesar dos avanços nos últimos 20 anos, houve muito pouco progresso na prevenção da gravidez, dos abortos, das mortes maternas e das infecções sexualmente transmissíveis.

Complicadores
Dados relativos a outro relatório da OMS, também publicado na tarde de ontem na Lancet Global Health, acrescentam uma informação importante ao levantamento: as principais razões da mortalidade materna. A maioria das mulheres perdem a vida em consequência de complicações durante e após a gravidez e o parto, mas o trabalho afirma que um em cada quatro óbitos é causado por condições médicas preexistentes, como o diabetes, a infecção pelo HIV, a obesidade, entre outros fatores que tendem a se agravar com a gravidez. A proporção é similar à encontrada para a hemorragia grave, um dos principais motivos da morte de gestantes no Brasil.
Segundo o chefe do Serviço de Obstetrícia do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Breno José Acauan, a hemorragia mata principalmente aquelas que sofreram um aumento da pressão sanguínea durante a gravidez, condição conhecida como pré-eclâmpsia. “Para prevenir essas situações, é preciso ter um suporte hospitalar e assistencial adequado. Nesses 20 anos, isso melhorou, inclusive o fato de o pré-natal estar mais acessível, porém ainda sem a qualidade necessária”, avalia. De acordo com Acauan, a maior dificuldade é percebida já nos profissionais de atendimento, muitos não têm preparo para responder às necessidade básicas de um pré-natal. “É preciso detectar se há uma gestação de alto risco ou não. Se ela já tem condições que podem ser agravadas quando gestante. São mortes potencialmente evitáveis.”
Pressão perigosa
A hipertensão arterial específica da gravidez recebe o nome de pré-eclâmpsia e, em geral, se instala a partir da 20ª semana de gestação. O problema pode evoluir para a eclâmpsia, uma forma grave da doença que põe em risco a vida da mãe e a do feto. As causas dessas enfermidades ainda não são bem estabelecidas pela ciência. O que se sabe é que estão associadas à hipertensão arterial, que pode ser crônica ou específica da gravidez.
Subnotificação é obstáculo
Segundo o relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), um grande desafio para enfrentar a mortalidade materna é a falta de dados precisos. Embora o conhecimento sobre o número de mulheres que morrem e as razões por trás do problema estejam melhorando, ainda há muitos casos não registrados e não declarados. As falhas na contagem e na análise são mais comuns em países de baixa renda, em que muitas mulheres morrem em casa. A estimativa é de que apenas um terço de todas as mortes no mundo é registrado e menos de 100 países registram a causa do óbito conforme a Classificação Internacional de Doenças da OMS. A questão interfere, entre outras áreas, na alocação de recursos do governo para programas de saúde da mulher.