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O que é importante saber sobre a doença de diagnóstico difícil e que, nos Estados Unidos, é chamada de ‘assassino silencioso’? No Dia Mundial do Combate ao Câncer de Ovário, o Saúde Plena conversou com a oncologista Angélica Nogueira para alertar a população feminina sobre os primeiros sinais e sintomas da doença. Informação é a estratégia fundamental para favorecer o diagnóstico precoce, ampliar as chances de cura e aumentar a taxa de sobrevida com a garantia da qualidade de vida.
Para se ter uma ideia do quão difícil é detectar esse tumor ginecológico, 3/4 dos cânceres no ovário já estão em estágio avançado quando acontece o diagnóstico. “A alta mortalidade está diretamente relacionada à dificuldade em se diagnosticar a doença. O ovário tem espaço para crescimento e esse aumento de volume acontece de forma indolor, a mulher não sente. Entre o início da doença e o aparecimento dos sintomas podem se passar meses”, alerta.
Outra dificuldade, segundo a médica, é que esses sintomas são inespecíficos. “Não é como o câncer de útero que a mulher sangra. São sinais que se confundem com outras doenças”, diz. Por essa razão, conhecer os sintomas é extremamente importante. “A partir do momento que as mulheres têm a informação e se conscientizam da gravidade do câncer de ovário, elas podem ajudar médicos a detectarem a doença”, afirma. A recomendação é: sentiu que alguma coisa está fora do habitual, é importante dar ênfase à queixa. “A forma como a paciente relata os sintomas influencia no retorno do especialista. É importante dizer, por exemplo, que o corpo nunca funcionou daquela maneira”, sugere Angélica Nogueira.
Os sintomas do câncer de ovário são:
- aumento do volume abdominal/inchaço contínuo
- dificuldade de comer/sensação de saciedade/falta de apetite/sensação de empanzinamento
- dor abdominal ou pélvica
- necessidade frequente e urgente de urinar
- menstruação desregulada
- alteração no hábito do intestino
- náusea
“É muito comum que esteja errado o primeiro diagnóstico que a mulher recebe. Os sintomas são geralmente confundidos com outras doenças ginecológicas, do trato urinário ou gastrointestinais”, explica a oncologista. É importante ter em mente, entretanto, que um sinal isolado não é motivo para alarde. Segundo Angélica Nogueira, os indícios precisam ser persistentes em pelo menos uma semana.
Identificação do tumor
“O primeiro passo para diagnosticar o câncer de ovário é lembrar da doença. E isso vale tanto para o paciente quanto para o médico. Geralmente, se de boa qualidade, um exame de imagem - ultrasson, tomografia ou ressonância magnética – pode gerar a suspeição do diagnóstico”, pontua a oncologista.
Em seguida, um exame de sangue pode ajudar a fortalecer a suspeita. Geralmente, de acordo com a Angélica Nogueira, a maioria das pacientes com câncer de ovário tem o CA-125 aumentando. “O CA-125 é um marcador tumoral”, explica.
Só que o diagnóstico conclusivo vem com a biópsia. “Idealmente deveria ser feita por um ginecologista oncológico porque em caso positivo a cirurgia é realizada no momento que o tumor é confirmado”, reforça.
Rastreamento da doença
Ao contrário do câncer de mama e do câncer de colo de útero que têm protocolos consolidados de rastreamento da doença – como a mamografia e o papanicolau respectivamente -, no caso do de ovário, segundo Angélica, nenhum método testado se mostrou eficaz. “O que os estudos dizem é que fazer de rotina exames seriados de imagem ou de CA-125 não reduz a mortalidade populacional”, explica a oncologista.
No entanto, a especialista afirma que três estudos internacionais com mais de 100 mil mulheres em cada um deles estão sendo realizados neste momento e que a expectativa é de resultados promissores para que seja desenvolvido um método de rastreamento do câncer de ovário.
Entre 10 e 15% dos casos da doença são de origem hereditária. “A origem familial deve ser motivo de atenção. Mulheres que têm histórico familiar de casos repetidos de mama e/ou ovário, história de câncer de mama bilateral em um indivíduo da família e homem na família com câncer de mama devem se atentar para a síndrome do câncer hereditário”, salienta Angélica.
Para ela, se a mulher se enquadra em alguma dessas situações, a paciente deve procurar a avaliação de algum oncologista ou oncogeneticista. “Se a paciente se encaixa nesse grupo, há benefício de se fazer o CA-125 e exames de imagens intercalados a cada seis meses. Estudos mostram, que, nesses casos, o rastreamento tem impacto significativo na redução da mortalidade por câncer de ovário e mama”, diz a médica.
Dentro desse grupo, ela também indica o teste para verificar a mutação de gens BRCA, como é o caso de Angelina Jolie. “O National Comprehensive Cancer Network (NCCN), importante órgão dos Estados Unidos que orienta condutas médicas, indica que toda paciente com câncer epitelial de ovário seja submetida à testagem da mutação em BRCA devido ao grande impacto positivo para a própria paciente e para a família dela”, reforça Angélica. A médica diz que essa é uma determinação recente que ainda não é de conhecimento de toda a comunidade médica brasileira.
Avanços
O câncer de ovário é tema de intenso foco de estudo mundo afora tanto para o desenvolvimento de métodos eficazes de rastreamento que diminua a taxa de mortalidade quanto de pesquisas focadas em tratamentos. Angélica Nogueira diz que novas medicações estão sendo lançadas. No Brasil, a Anvisa aprovou a entrada de um medicamento (o bevacizumabe) que é um inibidor da formação de novos vasos sanguíneos e seria um tratamento alternativo à cirurgia e quimioterapia convencional. “Estudos sobre esses novos medicamentos mostraram bons resultados de sobrevida livre de progressão da doença e melhora da qualidade de vida no estágio inicial, recidivado e avançado”, diz Angélica.
A taxa de sobrevida é de cinco anos entre 60 e 70% dos casos com o tratamento habitual. No entanto, a boa notícia, segundo a especialista, é que pacientes recém-diagnosticados já se beneficiarão das novas tecnologias que estão sento incorporadas ao tratamento. “A quimioterapia é muito efetiva na primeira fase da doença. A maioria das mulheres já apresentam resposta no tratamento inicial. Se diagnostica em estágio precoce, a combinação cirurgia e quimioterapia cura 30% das delas”, diz.
Câncer de ovário do tipo epitelial é mais comum em mulheres acima de 40 anos. Nas mais jovens, os tumores são do tipo germinativos e, nesses casos, é mais fácil preservar um dos ovários. “A maioria dos casos de câncer de ovário é do tipo epitelial e, nessa condição, é preciso retirar os dois ovários na maioria das pacientes”, reforça a médica.
Por aqui, está sendo criado o Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA), do qual a médica Angélica Nogueira é a presidente. INCA, UFMG e ICESP são algumas das instituições que fazem parte do EVA. “A intenção é divulgar as formas de prevenção e de tratamento e realizar pesquisas de câncer ginecológico na população brasileira sul-americana”, resume a presidente.