O aumento também foi significativo quando considerada a taxa de mortos por 1 milhão de habitantes. No mesmo período de dez anos, a taxa dobrou. Foi de 5,4 para 11,9, segundo dados do Ministério da Saúde.
Os dados levam em consideração as mortes nas quais a obesidade aparece como uma das causas no atestado de óbito. Segundo especialistas, como o excesso de peso é fator de risco para diversos tipos de doenças, como câncer e diabetes, o número de vítimas indiretas da obesidade é ainda maior.
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Ministério da Saúde diz que obesidade parou de crescer
Segundo o Ministério da Saúde, o aumento das mortes é um reflexo da "epidemia de obesidade" registrada hoje no País. "Outros países viveram isso primeiro, com alto consumo de alimentos industrializados e sedentarismo. O Brasil, ainda que mais tarde, está vivendo agora. Pesquisas feitas anualmente pelo ministério mostram que a obesidade e o sobrepeso têm aumentado muito", afirma o secretário de Atenção à Saúde do ministério, Helvécio Magalhães.
O último levantamento da pasta mostrou que mais da metade dos adultos brasileiros tem sobrepeso e pelo menos 17% da população está obesa.
Há dois meses, o aposentado Angelino Pires de Moraes, de 86 anos, tornou-se mais uma vítima do excesso de peso. Com 100 quilos e pouco menos de 1,80 de altura, ele sofreu um enfarte dentro de casa e morreu na hora. "Ele tinha colesterol alto e hipertensão. O médico já tinha avisado que o coração estava obstruído por gordura, mas ele não mudava a alimentação", conta o barbeiro Sérgio Buscarino de Moraes, de 50 anos, filho do aposentado. "Meu pai era teimoso e piorou depois que a minha mãe morreu, há cinco meses. Ficou deprimido e passou a cuidar menos da saúde", diz.
Medidas
Para especialistas, não é só a mudança de hábitos dos brasileiros que aumentou a mortalidade por obesidade. De acordo com Marcio Mancini, chefe do grupo de obesidade e síndrome metabólica do Hospital das Clínicas de São Paulo, as políticas públicas de prevenção e tratamento devem ser aprimoradas. "Não se faz prevenção em unidades básicas de saúde. Há o tratamento para diabetes, colesterol, hipertensão, mas pouco se faz para barrar o ganho de peso. Essa mesma preocupação deveria existir nas escolas", afirma ele.
De acordo com o médico, quanto mais cedo se instala a obesidade, mais cedo a pessoa pode morrer. "Se uma pessoa já tem obesidade mórbida com 20 anos e permanece assim, a doença vai encurtar a vida desse paciente em 12 anos", diz ele.
Para Maria Tereza Zanella, endocrinologista da Unifesp, é preciso mudar os hábitos desde a infância. "As crianças vivem em apartamento, jogam videogame e comem produtos industrializados. São alimentos que têm um sabor agradável e as crianças vão se acostumando, mas isso deve ser evitado", diz ela.
Além da prevenção falha, os médicos apontam estrutura insuficiente para o tratamento da obesidade. "O SUS não oferece o tratamento medicamentoso, e os centros de referência para cirurgia bariátrica não dão conta da demanda", diz Mancini.
Em março, pelo menos 3 mil obesos de várias regiões do Brasil lotaram o ginásio da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para passar por triagem em busca de cirurgia bariátrica. A fila de espera tem 2 mil pessoas.
Morte por obesidade atinge mais as mulheres
Do total de óbitos registrados entre 2001 e 2011, 64% tiveram como vítimas pessoas do sexo feminino. "Dados do IBGE de 2009 já mostravam que a prevalência de obesidade mórbida (quando o Índice de Massa Corpórea é superior a 40) é muito maior entre as mulheres", afirma Almino Ramos, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica.
As maiores vítimas estão na faixa etária dos 50 aos 59 anos. "Como a obesidade reduz a expectativa de vida, é esperado que os obesos sejam afetados por doenças graves mais cedo, na faixa etária dos 50 anos", diz o endocrinologista Marcio Mancini, do Hospital das Clínicas.
Os especialistas explicam que, além do monitorar o IMC, as pessoas devem ficar atentas à circunferência abdominal, que indica a presença de gordura visceral, ou seja, aquela que se aloja entre os órgãos e aumenta o risco de enfarte. "A medida não deve passar de 102 cm no homem e de 88 cm na mulher", afirma Mario Carra, da Abeso.
O IMC da dona de casa Neide Fabretti Aguilar Martins, de 71 anos chegou a 51. Com 127 quilos e 1,55 metro de altura, ela desenvolveu diabetes e hipertensão, além de uma artrose no joelho, provocada pelo excesso de peso. Há dez anos, iniciou tratamento que combinava dieta, atividade física na água e uso de inibidores de apetite. Hoje com 81 quilos, ela diz estar mais ativa. "O médico quer que eu chegue aos 70 quilos e eu estou tentando. É um cuidado para o resto da vida."