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René Hurlemann é um dos pesquisadores envolvidos nessa linha de investigação. Em 2012, ele e colegas publicaram um artigo na revista especializada Journal of Neuroscience mostrando que homens com doses extras de ocitocina tendiam a ficar mais distantes de mulheres desconhecidas durante uma situação de interação social. A continuidade dos estudos resultou em outro artigo, publicado alguns meses atrás na Pnas.
No segundo experimento, 20 homens heterossexuais que estavam há mais de seis meses em um relacionamento foram divididos em dois grupos: uma parte recebeu ocitocina por meio de um spray no nariz e a outra, apenas soro. Tendo os cérebros monitorados, os voluntários foram expostos, então, a fotos das parceiras e de mulheres desconhecidas. A turma que recebeu ocitocina deu preferência às imagens das companheiras, considerando-as mais atraentes. Além disso, o sistema de recompensa cerebral deles era muito mais ativo quando viam as parceiras. “A ativação do sistema de recompensa com a ajuda de ocitocina tem um efeito muito seletivo”, diz, em comunicado, Dirk Scheele, coautor do artigo.
Hulermann frisa que a ocitocina não é a única peça responsável pela fidelidade, mas faz parte de um grande mecanismo cerebral. “Nossos dados sugerem que ela pode contribuir para essa ligação de pares humanos”, afirma. O cientista vê aí uma vantagem evolutiva. “À primeira vista, a monogamia não faz muito sentido. Na visão clássica, os homens têm vantagem se disseminam seus genes em muitas parceiras. Mas, quando a ocitocina fortalece o vínculo, aumenta a estabilidade e as chances de sobrevivência das crianças”, destaca. Para Tatiana Mourão, psiquiatra da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), esse é um aspecto interessante do estudo. “Ele mostra algo novo: o conceito de que o homem também teria vantagens com a fidelidade”, analisa.
Os dados podem levar ao uso da ocitocina como uma espécie de remédio para manter casais unidos? Dificilmente, dizem especialistas. “A indústria pode até criar medicamentos cada vez mais específicos como a ocitocina inalável, mas isso não vai garantir o ensino de habilidades emocionais e comportamentais que fazem parte de relacionamentos monogâmicos ou estáveis”, analisa Caroline Mota Branco Salles, psicóloga do Centro Universitário Iesb de Brasília. “A terapia com o hormônio de ligação poderia ser contraproducente. Só faria o anseio pelo parceiro maior”, acrescenta Hulermann, que, agora, pretende investigar o efeito do hormônio em mulheres.
Amor
A ocitocina é um hormônio presente no corpo humano, tanto feminino quanto masculino. É conhecida como hormônio do amor por estar ligada à sensação de prazer e de bem-estar físico e emocional. Tem ainda outras funções, como induzir o parto nas mulheres com mais de 41 semanas de gestação.