Saúde

Casais optam por ter famílias numerosas e quebram padrão de um ou dois filhos

Adaptações no estilo de vida e resgate dos laços contribuem para a escolha de casais por famílias grandes

Paula Takahashi

Um é pouco, dois também, três é bom, mas por que não tentar o quarto? Para a maior parte dos casais, nada mais sábio que o ditado original. Pelo menos no que diz respeito ao número de filhos. Mas há quem negue as convenções atuais estipuladas para a formação da família e considere dois herdeiros pouco, abrindo brecha para adaptações na expressão popular. “É muito pouco. Sei que o padrão hoje é de um, no máximo dois, mas a gente não queria só isso. Nossa meta sempre foi ter mais”, admite a designer de interiores Mirian Thiele da Silva, de 32 anos, ao lado do marido, o engenheiro químico Anderson Luiz da Silva, de 36. Com Jéssica no colo, nascida há menos de dois meses, e as pequenas Emanuelle, de 3, e Gabriela, de 2, o casal não descarta a possibilidade de mais uma gravidez. “Ainda está cedo para falar em ter mais um, mas é algo em que pensamos. Sempre houve consenso entre nós”, garante Mirian.


Munyque Romano, mãe de Anita e Francisco, na época grávida de Aurora: prioridade é cuidar da prole
Fora dos padrões, eles ouvem de tudo. Que são guerreiros, corajosos e, principalmente, loucos. As justificativas para tanto estranhamento parecem incontáveis: questões financeiras, dificuldade em conciliar a tarefa de pai e mãe com a carreira profissional e o aumento da violência são apenas as mais recorrentes. Para quem está na contramão das estatísticas, que estimam 1,7 filho por família mineira, todos esses pontos pesam, assim como para qualquer pai. A diferença é que, do outro lado da balança, as alegrias de uma família numerosa reunida à mesa, dos laços criados entre os irmãos e as relações emocionais e afetivas aprofundadas em casa, têm força ainda maior.

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O peso dessa escolha vai muito além dos cálculos realizados para fechar o orçamento no fim do mês. Requer um mudança profunda no estilo de vida e uma retomada do papel mais puro e essencial da mãe no lar. É por isso que muitas delas resolveram voltar para casa e se encarregaram da formação dos filhos, hoje, em grande parte, terceirizada. “Do jeito que o mundo está, com crianças cada vez mais alienadas, é errado. Quero dar uma educação diferente para os meus filhos. Quero que eles sejam críticos, que pensem e tenham liberdade para se expor, vestir e ser como quiserem”, afirma a geóloga Munyke Romano, de 31, mãe de Anita, de 6, de Francisco, de 2, e de Aurora, de 3 meses.

Em acordo com o marido, o também geólogo Rafael Romano, de 40, Maunyke decidiu que a prioridade de sua vida seria cuidar da prole e hoje faz boa parte do trabalho em casa. Para a psicóloga Marisa Sanábria, a escolha desses casais não pode ser encarada como um retrocesso ou um recuo aos tempos de nossos avós, quando a mulher cuidava da casa e o homem saía para o trabalho. “É, sim, um desvio de rota. São pais e mães que estão fazendo uma crítica e questionando o modelo atual, que sabemos que está esgotado”, afirma Marisa. Para a especialista, essa é uma tentativa de resistir a um modelo predatório e capitalista. “É uma forma de se rebelar em relação ao que é certo e o que é errado. De ir contra certos mandatos do que é ser bem-sucedido e ter êxito”, avalia.