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O segredo está na simplicidade. “As pessoas acham que as crianças precisam de muitos brinquedos, muitas atividades, muita coisa. Esses gastos todos são para, muitas vezes, preencher o vazio de não ter o pai por perto ou um irmão para brincar”, avalia Mirian. A geóloga Munyke Romano, de 31, que, assim como Mirian, acabou de sair da terceira gestação, faz a mesma crítica. “Muitos falam que não é possível ter tantos filhos. Afinal, como vão pagar o balé ou a escola de línguas? Mas será que nosso filho precisa de tudo isso? O que eu quero é simplificar a vida deles”, conta Munyke.
Para ela, as famílias poderiam viver com menos e dedicar mais tempo ao cuidado das crianças. “Mas as pessoas não querem abrir mão de nada. Querem sair para trabalhar, ganhar mais e, para se retratar com os filhos, dão tudo”, afirma Munyke. As convenções impostas pela sociedade acabam aprisionando a mulher, que tem que ter uma profissão, ser bem-sucedida e ainda dar conta do papel doméstico. Quem não se enquadra nessas exigências sofre críticas e enfrenta julgamentos. Mas, como todos que contaram suas histórias para o Bem Viver justificam, trata-se de uma escolha. “Dá trabalho sim, mas as alegrias são enormes. É muito mais gratificante do que qualquer conquista profissional”, garante o geólogo Rafael Romano, que compartilha com Munyke a tarefa de cuidar de Anita, Francisco e Aurora.
OUTRA VISÃO Obstetra e diretor técnico do Instituto Nascer, de Belo Horizonte, Hemmerson Henrique Magioni reconhece que são pouquíssimos os casais que optam por famílias numerosas. “O que vejo nas pessoas que seguem por esse caminho é que elas têm uma visão de mundo, de sociedade e até da natureza que é diferente. Essa percepção e esse entendimento fazem com que as mulheres se voltem para o cuidado da família e optem por mais filhos”, observa. Para a psicóloga especializada em terapia de família e casal, Aléssia Leone, essas são pessoas mais sensibilizadas ao convívio.
Munyke e Rafael são exemplos disso. “Somos muito diferentes com relação ao consumismo e à educação deles. Ainda buscamos, por exemplo, fazer a maior parte das coisas que comemos. Preocupo-me muito com a alimentação”, conta Munyke. Ela também faz questão de passar para os filhos, por mais novos que sejam, conceitos básicos que hoje a maior parte dos pequenos não tem acesso. “Costuramos as roupas juntos, eles me acompanham na quitanda para a compra de verduras. Percebo que muita criança não sabe sequer o que é alface, e não quero que eles sejam assim”, afirma.
PARTE DA HISTÓRIA Além de uma percepção socioeconômica alheia à convencional, esses casais costumam ter algum histórico de famílias numerosas e, por isso, estão acostumados com um grande movimento na casa e desenvolveram uma forte relação pessoal e afetiva com os parentes. “E eles querem passar isso para frente. Respeitando a vida que eles se propõem a ter, isso é possível”, avalia Hemmerson. “Lembrança doce” é como a psicóloga Marisa Sanábria descreve a recordação que temos das famílias enormes, típicas do século passado. “Na nossa cultura o que vem à cabeça é uma mesa farta e cheia. Temos esse arquétipo de que são famílias felizes, com muitas relações e afetos”, avalia.
Esse convívio familiar certamente exerceu grande influência na decisão tomada pelo engenheiro químico Anderson Luiz da Silva, de 36 anos, juntamente a Mirian, de ter vários filhos. “Para ter uma ideia, a Mirian tem 11 tios”, conta Anderson. “Ele tem dois irmãos e eu duas irmãs. Gostamos de casa cheia, de criança correndo para todo lado. Os filhos trazem essa alegria para a casa”, acrescenta Mirian.