Alguns bichos já nascem sem um membro, outros sofreram uma mutilação em algum momento — atropelamento, maus-tratos e doenças são as principais causas. Ao contrário do que muitos pensam, animais deficientes podem ter qualidade de vida. Felizmente, existem tratamentos que os beneficiam, como fisioterapia e acupuntura.
Rafaela Magrini, 28 anos, veterinária e dona dos vira-latas João e Maria, já emocionou muita gente com a história de superação dos dois. Os animais foram deixados na rua junto com seis irmãos. Apenas os dois nasceram sem os membros da frente. Os animais foram recolhidos e entregues à veterinária. A princípio, a pessoa queria sacrificá-los. A veterinária, revoltada com essa decisão, preferiu recolher o dinheiro da eutanásia para cuidar dos animais. “No dia em que a pessoa chegou aqui, querendo a eutanásia dos cachorros, eu fui muito grosseira com ela. Mas depois, eu compreendi que não é todo mundo que está preparado para ver um cachorro sem patas.”
Foram seis meses cuidando, amamentando e tratando da adaptação dos animais. Os pets foram para a adoção, só que a história teve outra reviravolta quando a veterinária decidiu ficar com os irmãos. “Quando eles fizeram 6 meses e estavam aptos a serem adotados, eu não tive coragem, já estava apegada”, conta a veterinária, que, além da dupla, tem mais três cachorros e seis gatos.
João e Maria estão com 3 anos, são supersaudáveis e um sucesso no Facebook, com várias curtidas. Rafaela conta que a internet serviu para incentivar a luta contra o preconceito. Segundo ela, a campanha na web é para mostrar que, apesar de serem deficientes, eles podem ter uma vida normal. É claro que adotante e adotado precisam de um tempo para se adaptarem. Os irmãos, por exemplo, chegaram a experimentar cadeiras de rodas. Não deu certo, eles se sentiam presos e levavam tombos com o aparelho. Hoje, Maria prefere andar com peito apoiado no chão, enquanto João se equilibra nas patas traseiras, a um palmo de distância do solo. Os animais são muito dóceis, alegres e saudáveis. A única preocupação da veterinária é que eles desenvolvam algum problema de coluna no futuro.
Dogi é um vira-lata de 5 anos. Ele é cadeirante e ficou quatro anos à procura de um lar. O cãozinho foi atropelado e perdeu o movimento das pernas. Durante esses quatro anos, ficou alojado em hotéis e abrigos temporários. A secretária Bárbara Freitas, 25 anos, e o analista de marketing Marcos Campos, 26, o adotaram por meio do Facebook. Para Bárbara, foi amor à primeira vista.
Mesmo sem conhecer o animal, ela ficou comovida pelo fato de ele ser deficiente físico e estar há muito tempo sem dono. “Escolhemos ele primeiro pela doçura e, depois, por ser cadeirante. Dificilmente, as pessoas adotam animais idosos ou especiais, e decidimos dar essa oportunidade. Hoje, não conseguimos imaginar nossa casa sem ele”, conta Bárbara.
Apesar de todas as limitações, o cachorro é muito feliz e adaptado à rotina da casa. Ele precisa usar fraldas, e os donos têm cuidado de aplicar pomada para assadura e sempre observar as patas traseiras dele, já que elas arrastam no chão o tempo inteiro. “O uso da cadeirinha de rodas é muito importante, pois só dessa forma ele consegue brincar e passear na rua sem machucar as patinhas, aliás, quando ele está na cadeirinha, corre mais que todos, é muito ativo”, diz a secretária. O tratamento de Dogi é completado com sessões de fisioterapia e acupuntura. Bárbara e Marcos têm ainda outros dois cães, três calopsitas e um peixe beta. Todos convivem em perfeita harmonia.
Cadeira de rodas caseira
A química Dani Navarro, 28 anos, fabrica cadeira de rodas para animais. Ela e o marido começaram a produção depois que o cachorro da vizinha foi atropelado. Montaram essa primeira cadeira com PVC e deu certo — a alegria do animal os encheu de orgulho.
O objeto sai por cerca de R$ 40. Dani diz que a construção é bem simples e que chegou a receber encomendas até de fora do país — duas dos EUA e diversas de Portugal. Neste momento, porém, ela não está mais aceitando pedidos, mas envia o passo a passo da montagem. “É emocionante vê-los correndo de novo. Sei que, de uma forma ou de outra, estou ajudando, dentro das minhas possibilidades”, afirma.