Assim como ela, muitas tunisianas recorrem à cirurgia para se amoldar a uma sociedade que continua conservadora por trás da fachada moderna e evitar ser rejeitadas por certos homens que afirmam, sem rodeios, que nunca se casariam com mulheres "já usadas".
A operação de reconstrução do hímen, uma pequena membrana situada na entrada da vagina, dura apenas meia hora e custa entre 800 e 1.400 dinares (400 a 700 euros), caso a mulher queira reconstituir a "virgindade" por alguns dias (himenorrafia) ou de forma duradoura (himenoplastia).
"O número de mulheres que recorre à himenoplastia ou à himenorrafia aumentou muito nos últimos anos", disse à AFP Moncef Kamel, médico que trabalha em Djerba, no sul da Tunísia. O doutor Kamel opera a cada ano uma centena de mulheres, de 18 a 45 anos, que chegam ao consultório "com o rosto tapado por um véu ou lenço e com grandes óculos (escuros)".
Costuma se tratar de mulheres que "têm uma atividade sexual normal" e que, no geral, provêm de meios sociais desfavorecidos. Mas faltam dados precisos sobre a proporção exata do fenômeno. "É um tema tabu, o que explica a falta de estatísticas oficiais", explicou o ginecologista Fauzi Hajri, que trabalha na capital, Túnis.
Hajri também opera uma centena de mulheres por ano e entre suas pacientes há argelinas e líbias. Ele constatou que sua atividade está submetida a variações sazonais, com um aumento considerável a partir do início da primavera, em abril, que também é a época dos casamentos.
Hipocrisia social
Para o doutor Hajri, este fenômeno se explica, sobretudo, pelo aumento da idade média do casamento. Muitos jovens tunisianos de ambos os sexos mantêm relações pré-nupciais e ao se aproximar o dia do casamento, as mulheres recorrem à reconstrução do hímen.
Esta prática revela, segundo o sociólogo Tarek Belhadj Mohamed, a hipocrisia da sociedade, que se nega a admitir a mudança de hábitos de grande parte da população.
Em seu livro, "Virges? La Nouvelle Sexualité des Tunisiennes" (Virgens, a Nova Sexualidade das Tunisianas, em uma tradução livre), a psicanalista Nedra ben Smail afirma que "os médicos calculam que apenas 5% das jovens não se preocupam com a virgindade antes do casamento. Vinte por cento seriam constituídos por 'verdadeiras virgens' e três quartos são 'virgens medicamente assistidas'".
"O estilo de vida na Tunísia parece moderno e aberto, mas a realidade reflete o contrário: nossa sociedade e inclusive as elites se mostram tolerantes com relação à virgindade na teoria; mas quando o assunto lhes diz respeito, vira uma condição primordial para o casamento", afirma Tarek Belhadj Mohamed.
"A virgindade é um certificado de validade para a mulher, que na nossa sociedade só tem uma função sexual e reprodutiva, enquanto o homem deve 'treinar' para se mostrar sexualmente maduro ao se casar", acrescentou. A reconstrução do hímen, afirma, é um ato de "hipocrisia social e uma discriminação com as mulheres".
Sob pressão, é melhor mentir
Salima não diz nada diferente, mesmo a Tunísia sendo desde os anos 1950 o país árabe onde as mulheres têm mais direitos. A Constituição adotada em janeiro reconhece inclusiva a igualdade entre os sexos.
"A hipocrisia dos homens e da nossa sociedade me empurra para fazer a operação. Mas para mim, umas gotas de sangue não representam a honra de uma mulher", diz Salima. A jovem, que obviamente preferiu omitir seu sobrenome, também explicou que uma vez quis "jogar limpo" com um homem.
"Mas assim que soube, recusou o casamento e fez tudo o possível para me levar para a cama. Esta é a mentalidade dos homens: uma mulher que teve relações sexuais antes do casamento é apenas uma prostituta e não pode ser boa mãe!", lamenta. Sabra, de 27 anos, não pensa que "a virgindade seja garantia de fidelidade" e reivindica "o direito da mulher a uma vida sexual". No entanto, também prefere mentir e ceder à pressão social a ficar sozinha.
"Se eu tivesse dito ao meu marido que não era virgem, não teria aceitado se casar comigo e este é o caso de muitas mulheres na Tunísia", afirma.