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Foi assim que começou o projeto Playing house, em português, Brincando de casinha. A fotógrafa retrata cenas de um álbum de família com dois manequins — um faz as vezes de marido e o outro, de filha. O figurino remete aos anos 1950, época em que o ideal de família nuclear perpassava a estética publicitária. É também uma provocação, para que o espectador perceba que, até hoje, a sociedade continua baseada nas mesmas tradições.
“Parece que atingi um nervo sensível quando pergunto: ‘O que na nossa cultura nos faz achar que não importa o que façamos com a nossa vida, é sempre insuficiente?’. Tenho recebido feedback do mundo inteiro, acredito que todas as pessoas estão sujeitas às mesmas pressões, mas ninguém fala nada a respeito”, afirma Suzanne. O cenário das fotografias era, a princípio, a própria casa da fotógrafa. Mas ela logo percebeu que chamava ainda mais atenção para o trabalho ao fotografar em público — a família de plástico, inclusive, embarcou para Paris para uma sessão de fotos.

Suzanne, que se relaciona com um companheiro, afirma ter uma família, apenas não com filhos. Nunca se casou por não acreditar que seja uma escolha certa para ela, mas carrega consigo o amor e o apreço pelos familiares que escolheu ter: os amigos. Para ela, é o suficiente. “Conforme amadureci, descobri que eu não tinha que fazer o que todo mundo estava fazendo só porque isso é o que se espera de mim. Nós precisamos aceitar nossas vidas pelo que elas são — e pelo que elas nos tornou — e parar de tentar atingir uma imagem de sucesso definido pelas tradições e pelas expectativas dos outros”, defende.

A verdade é que as mulheres vivem um tempo estranho na história. Nunca foram tão independentes, seguras e cheias de oportunidades. Mas, ao mesmo tempo, ainda se angustiam com a expectativa alheia. “Para as mulheres, não basta satisfazer apenas um quesito. É preciso estar em dia com educação, carreira, casa, família, realizações e o conhecimento. Se alguma dessas coisas é deixada de lado, as pessoas acham que tem algo de errado com a sua vida. De alguma forma, não é suficiente ser quem somos”, explica a fotógrafa.
Para a argentina Paula Schargorodsky, “a liberdade feminina tem data de validade”. Seu curta-metragem 35 e solteira fez sucesso na internet ao afirmar que, sim, ela estava sozinha, mas a condição não a define. Segundo ela, a sociedade aceita que a mulher viaje, estude, se divirta e faça tudo o que quer — mas apenas antes dos 30 anos. Ao atingir essa marca, a família e os amigos já começam a se preocupar que ela passe “o resto da vida só” ou fracasse profissionalmente.
No filme, a assistente de direção conta que todas suas amigas se casaram, tiveram filhos, e ela permaneceu como testemunha de todas elas, sem nunca ter subido ao altar. Em dois anos, compareceu a 18 cerimônias de casamento. A condição de solteira não foi falta de oportunidade — Paula teve vários namorados, casos de uma noite e amores que pareciam ser eternos. Mas ao encontrar o namorado aparentemente perfeito, percebeu que não estava sendo verdadeira consigo mesma e não se via como uma noiva. O rompimento era inevitável.

O projeto continua
Suzanne Heintz conta que o projeto Playing house ainda não está completo. O próximo passo é um livro e um documentário. Em junho, vai fotografar o próprio casamento com seu manequim como uma crítica à obrigatoriedade do casamento. Em seguida, o foco é no manequim infantil. A ideia é fotografá-lo na escola e entrevistar os colegas de sala para entender o que eles esperam de seus próprios futuros. Todas as imagens estão disponíveis no site de Suzanne: suzanneheintz.com.