A pouco mais de um mês do circuito de rua, é hora de mudar a rotina de preparo para garantir o melhor desempenho possível ao longo dos 21.097 metros do trajeto. O fisioterapeuta Helder Montenegro, presidente da Associação Brasileira de Reabilitação de Coluna (ABRC) e do Instituto de Tratamento da Coluna Vertebral (ITC), alerta que o momento agora é de desaceleração. “É hora de reduzir o ritmo. No jargão dos atletas, a fase é de polimento, já que daqui pra frente não se consegue mais uma melhora significativa no desempenho”, reconhece o especialista.
Insistir em treinos pesados pode aumentar as chances de uma lesão e comprometer a participação no circuito. “Quem aumenta muito o fluxo de corridas num curto espaço de tempo começa a ter lesões de sobrecarga, como as tendinopatias, que englobam os problemas no tendão, canelite e até fratura por estresse na tíbia”, enumera o fisioterapeuta, especialista em fisioterapia esportiva e ortopédica, Matheus Mardenn Oliveira. Facite plantar e complicações no aparelho extensor do joelho também são comuns.
Diante da proximidade da prova, o momento é de manter os ganhos conquistados nos meses anteriores. A dica vale não apenas para evitar machucados inesperados, mas também para garantir o reestabelecimento exigido pelo corpo. “É preciso respeitar os intervalos de descanso. Caso contrário, o corpo fica sujeito à fadiga. A pessoa pode até achar que está bem, mas chega no dia da corrida e não consegue se desenvolver como esperava”, pondera Matheus. É nessa hora que muitos “quebram”, jargão aplicado àqueles que não conseguem concluir o percurso e abandonam a corrida no meio do caminho.
Corredora há seis anos, a advogada Janaína Gomes, de 26 anos, sabe muito bem os limites do corpo, experiência que conquistou em quatro provas de meia-maratona e três voltas da Pampulha. “No auge de uma preparação para a meia, chego a correr quase 40 quilômetros por semana e as corridas de resistência, chamadas de longões, são de cerca de 18 quilômetros”, calcula Janaína. Três semanas antes da 5ª Meia Maratona ela espera reduzir os treinos semanais para 25 quilômetros. “Na semana da prova, as atenções se voltam para a alimentação. Faltando três a quatro dias, aumento bem a injeção de carboidrato e a hidratação, além de priorizar o sono, que é fundamental”, afirma.
Prestes a correr sua segunda meia maratona, o bancário Norton Campos de Faria, de 36, está focado em reduzir o tempo e intercala os longões de até 20 quilômetros com as provas de velocidade. “Estou treinando tiros em percursos mais curtos durante a semana e nos fins de semana faço as corridas de resistência. A poucas semanas da prova, as minhas corridas são focadas em recondicionamento. Por isso, pego mais leve”, garante. A intenção é diminuir o estresse muscular e melhorar fatores técnicos. “Como corrigir a passada”, exemplifica.
O ideal é evitar ganho de peso nesta reta final. Por menor que seja a quantidade, qualquer quilo a mais pode ter grandes reflexos sobre as articulações. “Durante uma corrida de 21 quilômetros, as articulações chegam a receber até sete vezes o peso do corpo do atleta. Portanto, qualquer quantidade a mais faz muita diferença, principalmente nas articulações do joelho e tornozelo, as que mais sofrem”, afirma Matheus.
LONGO PRAZO
Quem nem sequer começou uma rotina de preparo para a meia não deve buscar isso agora. “Não é um projeto de curto prazo, mas de médio e longo. As partes motora, muscular e de tendão demoram de um mês e meio a três meses para se adaptar”, alerta Matheus. Mesmo aqueles que já têm um histórico nas corridas de rua, com provas decinco e 10 quilômetros, não devem se arriscar. “Isso tem sido um grande causador de lesões. Os atletas amadores não seguem uma escala normal de respeito fisiológico e estabelecem metas por conta própria, sem acompanhamento profissional”, observa Helder.
Para vencer grandes distâncias, como uma meia maratona, o ideal é estabelecer uma rotina de treinos com supervisão de profissionais especializados. “Esse acompanhamento é importante, uma vez que os músculos e articulações saem da normalidade em desafios de longa distância. As microlesões são cumulativas e alguém precisa fazer a quebra dessas lesões sequenciais com mobilizações no joelho, quadril, lombar e cervical, buscando restabelecer essa normalidade”, aconselha Helder.