O coaching pode ser um processo de aumento de resultados, pessoais ou profissionais. Pode ser uma espécie de treinamento, como nos esportes — é daí que vem o termo, em inglês — para que se alcance metas. Pode ser uma parceria e um processo de autodescobrimento. Ou pode ser tudo isso. A palavra é um tanto quanto nova no vocabulário do brasileiro. Apareceu por aqui há não mais do que 15 anos e há cinco vem ganhando certa fama. Mesmo nos Estados Unidos, onde surgiu, não é algo muito antigo: especialistas calculam três décadas de existência. Acredita-se que o conceito tenha sido herdado do esporte de alto rendimento: a ideia de que a figura de um técnico, o coach, pode ser a chave para guiar uma pessoa ao sucesso, no esporte, nos negócios e na vida pessoal, por meio de estratégias bem definidas e traçadas ao longo de um processo que dura, em média, quatro meses.
A história não é consenso. A definição também não. Mas o uso do serviço de coaching, especialmente por empresas interessadas em melhorar a performance, tem criado no Brasil um nicho de mercado considerável, a ponto de alguns chamarem de “profissão do futuro”. Grandes multinacionais se renderam aos encantos da técnica. McDonald’s, Coca-Cola, redes varejistas, bancos. Segundo um levantamento da Bristol University, 88% dos executivos britânicos usam a técnica. Nos Estados Unidos, mais de 40%. Há profissionais que chegam a cobrar de grandes corporações US$ 250 mil (cerca de R$ 600 mil) por um ciclo de 18 meses. Aqui no Brasil, a sessão varia entre R$ 300 e R$ 1 mil, a depender da experiência do coach.
“O conceito de caro é relativo”, defende Villela da Matta, presidente da Sociedade Brasileira de Coaching, instituição que diz ter sido a responsável pela chegada do método ao Brasil, há 15 anos, e que contabiliza mais de 8 mil coaches (treinadores) formados no módulo mais básico. “O resultado é muito alto para o valor investido. Eu posso cobrar R$ 5 mil a hora. Mas, se o meu cliente faturar R$ 500 mil em cima disso, foi barato”, argumenta. Antes do coaching, Villela atuou por 20 anos em corporações globais, liderando times, fazendo planejamento estratégico, com vendas e projetos de fusão. Como coach, tem façanhas, como a de conseguir triplicar o faturamento de uma empresa em três meses.
O título, no entanto, não é exclusivo de administradores ou pessoas com longas carreiras em cargos executivos. Tampouco de psicólogos ou educadores físicos. Apesar disso, a técnica soa muitas vezes como uma sessão de terapia: promove autoconhecimento, melhora relacionamentos, estimula o crescimento pessoal. Coaches e psicólogos avisam: não passa de confusão. Por vezes, as duas profissões se estranham. “A verdade é que ambos, bons coaches e bons terapeutas, lidam com conflitos internos”, diz o psicólogo Michael Bader, doutor pela Universidade de São Francisco, nos Estados Unidos. “Os coaches hoje estão se organizando como profissionais, mas usam fundamentos básicos da terapia, como ouvir ativamente, empatia, se colocar do lado do paciente… Coisas que o psicólogo Carl Rogers enfatizava mais de 50 anos atrás. Claro que existe muito criticismo e maledicências. Mas, no fim, todo mundo que alimenta essa rixa está errado, se autopromovendo por motivos financeiros e de status.”
O fato é que o mercado não dá sinais de que o coaching é apenas um modismo — pelo contrário. Estima-se que existam hoje mais de 45 mil coaches no mundo. Em 2009, a faculdade de medicina de Harvard criou o Institute of Coaching, no McLean Hospital, um hospital psiquiátrico em Massachusstes, nos Estados Unidos, a fim de “incrementar a integridade e a credibilidade” no campo e, em 2012, a expressão life coach entrou de vez para o dicionário Merriam-Webster, o equivalente americano ao nosso Aurélio.
Não confunda
Coach: profissional que conduz o processo
Coaches: plural de coach
Coachee: aquele que passa pelo processo de coaching
Coaching: o processo
Fonte: Livro A bíblia do coaching: uma visão geral
Feliz todos os dias
Adriana Marques, 38 anos, acredita que se pode ser feliz todos os dias. Assim, ela justifica por que largou a carreira na qual já era bem-sucedida há nove anos para se dedicar ao coaching. Aos 29 anos, a então professora de educação física era sócia de uma academia no Lago Sul. Tinha também 23 alunos como personal trainer. “Modéstia à parte, já cobrava na época bem mais do que a média pela hora do personal. Tinha um padrão bem confortável, eu adorava minha vida”, conta.
Meio sem querer, deparou-se com o coaching em um congresso de educação física nos Estados Unidos. O painel abordava a similaridade de rendimento dos atletas de alta performance e de executivos de altos cargos. “A vitória solitária é triste. Depois desse painel, fiz um curso de coaching por lá mesmo e já voltei para o Brasil diferente”, continua.
Empresária desde nova, Adriana diz que aprendeu a ganhar respeito no seu ambiente de trabalho na base da voz de comando. “Sempre fui muito intensa, me exaltava com facilidade, discutia muito. Hoje, essa minha intensidade me leva para o bom humor”, conta. A mudança de comportamento ela credita ao método, que alterou também a carreira e a vida financeira. Mudança, aliás, é a palavra que aparece quando busca em seu repertório uma definição para o método: uma parceria que visa o aumento da performance do coachee (aluno) baseado em mudança de comportamento e tomada de ação. De voz e discursos firmes, Adriana dá a impressão, em poucos minutos de conversa, que nasceu para a oratória.
Hoje, é trainer da Sociedade Brasileira de Coaching em Brasília, o que significa ministrar cursos de formação de novos coaches, segundo o método da instituição. É presidente da sua empresa de coaching, a Coaching Club, que atende, com uma equipe de seis coaches, pessoas e empresas. Já formou 22 turmas de treinadores nas suas salas, mesmo sabendo que nem todos saem dali determinados a seguirem a profissão. O marido e o pai, convencidos da validade do negócio, embarcaram na aventura de Adriana e hoje atuam na mesma área.
Com mais anos de experiência no mercado de Brasília, Adriana tem hoje um perfil bastante definido de clientela: “O perfil do meu cliente é a pessoa decidida, que tem um objetivo muito claro”, conta. Na empresa que dirige, um processo de life coaching, com duração de três meses, custa entre R$ 3 mil e R$ 6 mil, o equivalente a até R$ 500 por sessão. Para o executive coaching, aplicado a empresas, esse valor vai de R$ 6 mil a R$ 10 mil. “O mercado é bom. Posso dizer hoje que tenho o carro que eu quero, viajo quando quero, para onde quero. Mas tem que ser bom. O mercado não assina mais embaixo para os picaretas”, avalia.
Ela conta com cerca de 50 clientes de life coaching, mas confessa que nem todo mundo está preparado para enfrentar o processo. “Tem gente que não aguenta. O coaching é baseado na tomada de responsabilidade. Você é responsável pela sua vida. Enquanto eu não assumo a minha vida, posso dar qualquer desculpa para tudo o que dá errado, posso culpar os outros. Por isso, o coaching é para quem está disposto a entrar em ação e arcar com o todo”, explica. O foco de Adriana, contudo, é maior em empresas. Entre os clientes, nomes como o Sebrae Nacional, a Confederação Nacional da Indústria, o Banco do Brasil, o Ministério do Meio Ambiente e o Tribunal de Contas da União.
Leia a reportagem completa:
Profissão de coach não é regulamentada nem no Brasil nem no mundo
Coaching é muito procurado por concurseiros
Instituiçõe particulares se empenham em conduzir estados sobre a eficiência do coaching
Profissão de coach não é regulamentada nem no Brasil nem no mundo
Coaching é muito procurado por concurseiros
Instituiçõe particulares se empenham em conduzir estados sobre a eficiência do coaching
A história não é consenso. A definição também não. Mas o uso do serviço de coaching, especialmente por empresas interessadas em melhorar a performance, tem criado no Brasil um nicho de mercado considerável, a ponto de alguns chamarem de “profissão do futuro”. Grandes multinacionais se renderam aos encantos da técnica. McDonald’s, Coca-Cola, redes varejistas, bancos. Segundo um levantamento da Bristol University, 88% dos executivos britânicos usam a técnica. Nos Estados Unidos, mais de 40%. Há profissionais que chegam a cobrar de grandes corporações US$ 250 mil (cerca de R$ 600 mil) por um ciclo de 18 meses. Aqui no Brasil, a sessão varia entre R$ 300 e R$ 1 mil, a depender da experiência do coach.
“O conceito de caro é relativo”, defende Villela da Matta, presidente da Sociedade Brasileira de Coaching, instituição que diz ter sido a responsável pela chegada do método ao Brasil, há 15 anos, e que contabiliza mais de 8 mil coaches (treinadores) formados no módulo mais básico. “O resultado é muito alto para o valor investido. Eu posso cobrar R$ 5 mil a hora. Mas, se o meu cliente faturar R$ 500 mil em cima disso, foi barato”, argumenta. Antes do coaching, Villela atuou por 20 anos em corporações globais, liderando times, fazendo planejamento estratégico, com vendas e projetos de fusão. Como coach, tem façanhas, como a de conseguir triplicar o faturamento de uma empresa em três meses.
O título, no entanto, não é exclusivo de administradores ou pessoas com longas carreiras em cargos executivos. Tampouco de psicólogos ou educadores físicos. Apesar disso, a técnica soa muitas vezes como uma sessão de terapia: promove autoconhecimento, melhora relacionamentos, estimula o crescimento pessoal. Coaches e psicólogos avisam: não passa de confusão. Por vezes, as duas profissões se estranham. “A verdade é que ambos, bons coaches e bons terapeutas, lidam com conflitos internos”, diz o psicólogo Michael Bader, doutor pela Universidade de São Francisco, nos Estados Unidos. “Os coaches hoje estão se organizando como profissionais, mas usam fundamentos básicos da terapia, como ouvir ativamente, empatia, se colocar do lado do paciente… Coisas que o psicólogo Carl Rogers enfatizava mais de 50 anos atrás. Claro que existe muito criticismo e maledicências. Mas, no fim, todo mundo que alimenta essa rixa está errado, se autopromovendo por motivos financeiros e de status.”
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No Brasil, fica claro que o coaching tem ganhado adeptos. Aos poucos, o método deixa de ser visto como uma prática corporativa e conquista executivos, gente que quer mudar de carreira, emagrecer, passar em concursos, ser um líder melhor, ter melhores relacionamentos. Ao mesmo tempo, pessoas deixam carreiras estáveis e bem-sucedidas e, às vezes, os próprios negócios, para serem os treinadores. Nesta edição, a Revista se dedica a esclarecer o que, afinal, é esse “mercado da felicidade” que vem ganhando força nos últimos anos e quem são alguns dos representantes brasilienses.
Não confunda
Coach: profissional que conduz o processo
Coaches: plural de coach
Coachee: aquele que passa pelo processo de coaching
Coaching: o processo
Fonte: Livro A bíblia do coaching: uma visão geral
Feliz todos os dias
Adriana Marques, 38 anos, acredita que se pode ser feliz todos os dias. Assim, ela justifica por que largou a carreira na qual já era bem-sucedida há nove anos para se dedicar ao coaching. Aos 29 anos, a então professora de educação física era sócia de uma academia no Lago Sul. Tinha também 23 alunos como personal trainer. “Modéstia à parte, já cobrava na época bem mais do que a média pela hora do personal. Tinha um padrão bem confortável, eu adorava minha vida”, conta.
Meio sem querer, deparou-se com o coaching em um congresso de educação física nos Estados Unidos. O painel abordava a similaridade de rendimento dos atletas de alta performance e de executivos de altos cargos. “A vitória solitária é triste. Depois desse painel, fiz um curso de coaching por lá mesmo e já voltei para o Brasil diferente”, continua.
Empresária desde nova, Adriana diz que aprendeu a ganhar respeito no seu ambiente de trabalho na base da voz de comando. “Sempre fui muito intensa, me exaltava com facilidade, discutia muito. Hoje, essa minha intensidade me leva para o bom humor”, conta. A mudança de comportamento ela credita ao método, que alterou também a carreira e a vida financeira. Mudança, aliás, é a palavra que aparece quando busca em seu repertório uma definição para o método: uma parceria que visa o aumento da performance do coachee (aluno) baseado em mudança de comportamento e tomada de ação. De voz e discursos firmes, Adriana dá a impressão, em poucos minutos de conversa, que nasceu para a oratória.
Hoje, é trainer da Sociedade Brasileira de Coaching em Brasília, o que significa ministrar cursos de formação de novos coaches, segundo o método da instituição. É presidente da sua empresa de coaching, a Coaching Club, que atende, com uma equipe de seis coaches, pessoas e empresas. Já formou 22 turmas de treinadores nas suas salas, mesmo sabendo que nem todos saem dali determinados a seguirem a profissão. O marido e o pai, convencidos da validade do negócio, embarcaram na aventura de Adriana e hoje atuam na mesma área.
Com mais anos de experiência no mercado de Brasília, Adriana tem hoje um perfil bastante definido de clientela: “O perfil do meu cliente é a pessoa decidida, que tem um objetivo muito claro”, conta. Na empresa que dirige, um processo de life coaching, com duração de três meses, custa entre R$ 3 mil e R$ 6 mil, o equivalente a até R$ 500 por sessão. Para o executive coaching, aplicado a empresas, esse valor vai de R$ 6 mil a R$ 10 mil. “O mercado é bom. Posso dizer hoje que tenho o carro que eu quero, viajo quando quero, para onde quero. Mas tem que ser bom. O mercado não assina mais embaixo para os picaretas”, avalia.
Ela conta com cerca de 50 clientes de life coaching, mas confessa que nem todo mundo está preparado para enfrentar o processo. “Tem gente que não aguenta. O coaching é baseado na tomada de responsabilidade. Você é responsável pela sua vida. Enquanto eu não assumo a minha vida, posso dar qualquer desculpa para tudo o que dá errado, posso culpar os outros. Por isso, o coaching é para quem está disposto a entrar em ação e arcar com o todo”, explica. O foco de Adriana, contudo, é maior em empresas. Entre os clientes, nomes como o Sebrae Nacional, a Confederação Nacional da Indústria, o Banco do Brasil, o Ministério do Meio Ambiente e o Tribunal de Contas da União.