Aos 20 anos, arrumou um emprego no Exército e foi transferido para Brasília. Um tempo depois, passou a trabalhar na iniciativa privada enquanto cursava ciências contábeis na Universidade de Brasília. Cuidou do departamento financeiro de empresas de telefonia, prestou serviços de consultoria. Quando finalmente se decidiu pelos concursos, passou no primeiro que fez. “Prestei, passei e vi que aquilo, na verdade, não me realizaria”, resume. Há quatro anos, abriu mão de um vencimento de R$ 14 mil na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e passou a se dedicar exclusivamente a treinar concurseiros.
“Eu já dava aula em cursinhos preparatórios e um amigo meu na época me apresentou o coaching. Isso mexeu comigo. Fui pesquisar mais, comecei a assistir a vídeos, ler sobre o assunto e pensei ‘é isso!’”, lembra Márcio. Formou-se coach por duas instituições brasileiras, em life coaching, executive coaching e ainda em neurocoaching, uma variação do método baseada na neurociência e que ele diz ser hoje a base de todo o seu trabalho. “Como o coaching é uma espécie de orientação, eu percebi que poderia aproveitar minha experiência e orientar o público que eu já conhecia.”
Suas sessões, ao contrário do que é usual pelos “consultórios” de coaching, são coletivas. O processo acontece em uma sala de aula dentro de um cursinho preparatório na Asa Norte, que o contratou para que os alunos de uma turma premium de preparação tivessem acesso privilegiado aos serviços de Márcio. Por R$ 1,5 mil, no entanto, qualquer pessoa — inclusive não concurseiros, segundo ele — é bem-vinda aos seus processos. São, no máximo, 15 pessoas por turma, reunidas em pufes arranjados em um círculo de uma sala acarpetada. O processo dura 10 encontros, quase três meses.
Hoje, ele atende com capacidade máxima: 255 pessoas. Além das sessões de coaching, ele se divide entre palestras e atividades extras, como uma sessão de filme com pipoca e coaching em uma sala de cinema da cidade, programada para o próximo mês. Sua página no Facebook coleciona mais de 30 mil fãs e suas frases motivacionais publicadas diariamente na rede social sob a hashtag “#MMsays” chegam a ter 200 curtidas e dezenas de compartilhamentos.
Embora pouco ortodoxo, o método do coaching coletivo, Márcio garante, é eficiente. “No coaching, você não precisa saber do passado da pessoa para traçar uma estratégia para ela. E, na sessão individual, a pessoa tende sempre a querer contar a história dela inteira”, justifica. O processo tem três etapas: definir uma meta — e ele diz que “passar em um concurso” não vale, já que isso não diz nada sobre o que você quer fazer, mas sim sobre o que você não quer, o que não é suficiente —; traçar um plano para que se alcance essa meta; identificar as forças resistentes, ou seja, o que sabota o seu sucesso; e finalmente agir.
Alessandro Marques, coach de 31 anos especializado em concursos, não gagueja nem titubeia ao afirmar que tem 100% de sucesso com os coachees que o procuram esperando uma aprovação em um certame. Todos os que passaram pelo seu treinamento, ele diz, conseguiram a tão desejada aprovação.
Ele enveredou pela carreira de coach como uma espécie de plano B. Aos 20 anos, cursava matemática em Formosa (GO) e se destacava como professor da disciplina da cidade — tanto que chegou a ser convidado a dar algumas palestras. Acabou gostando mais da palestra do que da sala de aula. “Nessa época, o coaching nem existia no Brasil, mas vim fazer em Brasília um curso de planejamento de vida e, quando fui planejar a minha, descobri que não queria ser professor de matemática, queria montar uma empresa de palestras.”
Abandonou a matemática, tomou fôlego e veio para Brasília cursar administração, que, ele acreditava, serviria à sua nova carreira dos sonhos. É aí que Alessandro encontra o mundo dos concursos: sem grana, o serviço público foi a saída para que ele conseguisse se bancar enquanto os negócios não lhe dessem retorno. “Sempre soube que o serviço público era temporário. Era o patrocinador dos meus negócios”, brinca. Em seis meses, passou em dois deles. Conheceu o coaching ainda antes de se formar, em 2006, quando se preparava para abrir sua empresa de palestras por meio de um curso de programação neurolinguística. “Eu me apaixonei”, diz.
Alessandro começou focado no coaching executivo, mas acabou sendo convidado por um cursinho preparatório para dar algumas palestras aos estudantes. De lá, não saiu mais. “Percebi que a galera não tinha foco e comecei aos poucos fazendo algumas experiências para ver se a coisa daria certo. Deu tanto, que logo tive que parar de dar o coaching em empresas para focar só nisso. Fui o primeiro coach do Brasil a fazer esse tipo de trabalho, focado em estudantes de concurso público”, se orgulha. Hoje, ele tem 240 coachees no Brasil inteiro — quem não mora em Brasília, pode fazer as sessões via Skype — e uma equipe de nove coaches, treinados segundo a metodologia específica que ele próprio desenvolveu e que envolve até algumas videoaulas ensinando, entre outras coisas, como fazer um resumo eficiente, por exemplo. São 10 encontros individuais ao longo de seis meses. O processo tem início, meio e fim. “Não adianta frequentar as sessões e não colocar as coisas em prática depois. É como ir a um nutricionista e não seguir a dieta. O resultado não vem. Por isso, o coaching não é para todo mundo”, afirma. Ter acesso à fórmula mágica de Alessandro para a aprovação em um certame — embora o trabalho pesado, ele frisa, seja do coachee, e não dele — sai hoje a R$ 2,2 mil.
Aposta com retorno garantido
A carioca Anna Carolina Pagano, 32 anos, passou de concurseira a servidora pública do Ministério Público da União há oito meses, depois de um “treinamento” com coach. “Ela me economizou dois ou três anos de estudo.” Desde que concluiu a faculdade de direito, Anna Carolina sonhava com uma vaga na promotoria. Estudando no Rio de Janeiro, viu que dificilmente passaria em uma prova aqui na capital. Mudou-se de vez para Brasília em 2006.
Sem dinheiro, começou a trabalhar, paralelamente, como advogada em um escritório particular. Acabou deixando os estudos de lado, mas, um ano depois, foi demitida e se viu obrigada a voltar para o Rio. Em 2012, no entanto, Anna quebrou o cofrinho, juntou tudo o que tinha na poupança e voltou para Brasília. “Vim com o dinheiro contado. Aluguei uma quitinete na Asa Sul e tinha pressa de passar, porque meu dinheiro estava acabando”, lembra. Quando conheceu o coaching, em 2013, pareceu uma excelente ideia. “Eu estava desesperada. Ou passava ou ia acabar tendo que voltar para o Rio. Resolvi apostar”, conta.
Durante o processo de coaching, Anna entendeu que deveria desistir da promotoria em curto prazo e focar nas vagas para analista, já que ela tinha urgência, e parar de fazer qualquer concurso que surgisse pelo caminho para prestar somente aqueles nos quais ela realmente teria chances. Também foi orientada a organizar a grade de estudos de forma que eles rendessem. “Hoje, eu tenho plena convicção de que eu não passava porque não sabia organizar meu material. Eu conseguia resumir capítulos de 100 páginas em quatro, mas depois não voltava para reler os resumos. Além disso, você tende a dar mais importância às matérias de que você gosta mais”, relembra.
Fora a parte prática do processo — organizar, focar, fazer e passar —, ela conta que o coaching a ajudou também a sair da zona de conforto. “Se você pensar bem, é melhor você passar as tardes estudando numa biblioteca do que trabalhando. Então, essa situação acaba ficando confortável. O coaching me acordou para isso”, conta. O alívio da advogada veio um mês depois do fim das suas sessões de coaching: ela obteve a segunda maior pontuação no DF para o cargo ao qual disputava, em uma concorrência de 220 candidatos para cada vaga. Tomou posse da sua vaga em outubro e a agonia de viver de poupança finalmente chegou ao fim. Por enquanto, o sonho da promotoria está em segundo plano. “Eu estou trabalhando em uma área que gosto muito e o cargo de analista está me sa tisfazendo. Se um dia quiser, volto a estudar da forma que aprendi.”