Saúde

Falhas graves em estudo sobre células-tronco devem resultar em punição a cientista

Comitê de investigação do Centro Riken de Desenvolvimento Biológico divulgou um relatório com problemas detectados no trabalho de Obokata, que, em janeiro, publicou um artigo na revista Nature apresentando uma nova maneira de fabricar células-tronco pluripotentes

Correio Braziliense

Celebrada no início do ano, quando anunciou uma revolução na medicina regenerativa, a jovem cientista japonesa Haruko Obokata, 30 anos, cometeu irregularidades incompatíveis com os princípios da ciência e deverá de ser punida por isso, anunciou nesta terça-feira um comitê de investigação do Centro Riken de Desenvolvimento Biológico, onde a pesquisadora trabalha. O grupo divulgou um relatório com problemas detectados no trabalho de Obokata, que, em janeiro, publicou um artigo na revista Nature apresentando uma nova maneira de fabricar células-tronco pluripotentes, aquelas que se transformam em qualquer tipo de tecido do corpo.


Sem necessidade de usar embriões nem de manipular geneticamente o núcleo, as batizadas células STAP poderiam, de acordo com Obokata e colaboradores, ser geradas a partir de estruturas adultas expostas a uma substância de pH ácido. Contudo, logo depois de o artigo ser publicado, alguns cientistas levantaram a voz contra o resultado. Um deles foi Paul Knoepfler, diretor do Laboratório Knoepfler de Células-Tronco, da Universidade da Califórnia (EUA). “Em todo o mundo, os cientistas estão tentando usar os métodos descritos no artigo nas últimas semanas. Lancei uma ferramenta para que esses pesquisadores relatem seus resultados. Tivemos nove relatos até agora e eles são muito negativos. A própria Nature fez sua pesquisa com 10 grandes laboratórios de células-tronco e nenhum conseguiu produzir as STAPs”, afirmou Knoepfler, à época. Outros pesquisadores identificaram duplicidade na imagem do embrião que teria sido gerado a partir das STAP.

Diante das denúncias, o Centro Riken formou um comitê de investigação. “Ao misturar imagens procedentes de experiências diferentes e utilizar dados anteriores, a professora Obokata atuou de forma que não pode ser permitida. Isso não pode ser explicado apenas por sua imaturidade”, afirmou o relatório apresentado ontem. “Levando em consideração a pobreza das notas de seu laboratório, é absolutamente evidente que vai ser muito difícil para outra pessoa seguir e entender seus experimentos, o que representa um sério obstáculo para uma troca saudável de informações. A atuação de Obokata e a forma acelerada como administra seus dados nos levam a concluir que carece não apenas de ética, mas de humildade e de integridade”, prosseguiu o documento.

As conclusões do comitê de investigação não significam, no entanto, que as células STAP sejam uma pura invenção e que nunca existiram. “Determinar se as células existem ou não exige estudos adicionais que vão além das competências do comitê de investigação, que tinha como missão apenas determinar se aconteceram ou não irregularidades na tese que apresenta os resultados dos trabalhos”, disse um dos integrantes do comitê, o professor Shunsuke Ishii. Embora a responsável pelas irregularidades seja a pesquisadora Obokata, os outros participantes deveriam ter exercido de maneira melhor as funções de controle, acrescentou ele.