
“Estamos enfrentando uma epidemia de magnitude jamais vista em termos de distribuição de casos no país: Gueckedou, Macenta, Kissidougou, Nzerekore e, agora, Conacri (a capital)”, alertou Mariano Lugli, coordenador do MSF. Por sua vez, o porta-voz da OMS, Tarik Jasarevic, que está no país desde a semana passada, assinalou que a preferência pelo termo surto, em vez de epidemia, se justifica pelo estágio inicial dos registros. “Em francês, língua que falamos aqui, diz-se ‘épidémie’ porque não há outro termo equivalente, mas preferirmos nos referir à situação como surto por ainda estar no começo”, explicou ao Estado de Minas.
Desde janeiro, a Guiné enfrenta uma proliferação da febre hemorrágica causada pelo ebola. Em seu último balanço, o Ministério da Saúde do país atesta que 22 óbitos em decorrência do vírus estão confirmados em laboratórios. Há 44 pessoas sob monitoramento. Na Libéria, além das quatro mortes, há três casos de infecção pelo vírus confirmados e outros sob investigação, segundo a OMS. Nenhuma vítima teve a doença diagnosticada em Serra Leoa – aguarda-se o resultado de exames em cinco pacientes.
Diante da situação, o governo do Senegal, ao norte da Guiné, fechou as fronteiras com o vizinho. A Mauritânia decidiu restringir o comércio com os países afetados. A empresa aérea Gambia Bird, que deveria começar a atuar na Guiné no último fim de semana, adiou o início das operações por causa do surto. Em comunicado, a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental destacou que a doença é uma séria ameaça à segurança na região.

Acredita-se que o ebola, descoberto em 1976, seja transmitido por morcegos. O vírus se espalha quando pessoas saudáveis entram em contato com fluidos corporais de indivíduos infectados, como sangue, suor ou leite materno. Depois de um período de incubação entre dois e 21 dias, os pacientes passam a ter febre alta, dor muscular, conjuntivite, vômitos e fraqueza. Sangramentos pela urina e pelas narinas também são comuns. Além da facilidade de transmissão, o vírus provoca uma alta taxa de mortalidade – entre 25% e 90% dos infectados. Desde o primeiro registro, cerca de 2,2 mil casos foram confirmados. Desses, 1,5 mil não resistiram às complicações da infeção.
A partir da confirmação de um primeiro caso, todas as pessoas que tiveram contato com a vítima precisam ser isoladas e monitoradas. Médicos, enfermeiros e auxiliares que atendem pessoas infectadas devem usar roupas isolantes, luvas, máscaras e óculos de proteção, o que, muitas vezes, não ocorre em comunidades pobres e afastadas. Segundo organizações de saúde, a orientação da população é uma peça-chave para evitar novas vítimas.
O presidente da Guiné, Alpha Condé, fez um pronunciamento à nação anteontem, para tranquilizar a população e orientá-la a seguir medidas de precaução, como manutenção da higiene pessoal e distanciamento dos infectados. “Meu governo e eu estamos muito preocupados com essa epidemia”, disse Condé, acrescentando: “Peço às pessoas para que não entrem em pânico nem acreditem nos rumores que estão alimentando o medo”. Segundo Tarik Jasarevic, da OMS, apesar do clima de apreensão, os guineanos estão tranquilos e recebem informações diárias sobre como proceder.