

Mas, antes que ela terminasse, um segurança e outro monitor da exposição a abordaram novamente. Os argumentos eram que “ela não estava amamentando mais, a criança estava só dormindo no peito” e “não era permitido amamentar no Museu”. Priscila acabou decidindo se retirar, mesmo sem terminar de ver a exposição, mas fez um desabafo nas redes sociais.
A sequência de acontecimentos após o desabafo:
-um pedido de desculpas do MIS, informando que os funcionários seriam mais bem orientados e que as mães que visitam o local têm total liberdade de amamentar seus filhos no espaço expositivo;
-a organização, pelas redes sociais, de um 'mamaço', ou seja, uma grande reunião de mães no espaço do museu, dispostas a amamentar seus filhos sem serem importunadas. O Museu reiterou o pedido de desculpas e chegou a incluir o evento, de iniciativa do grupo Matrice, em sua programação, no último dia 16 de fevereiro.
A polêmica não está restrita ao MIS, é claro. Na capital paulista, um caso anterior já havia motivado um projeto de lei, ainda em tramitação na Câmara Municipal, que prevê multa aos estabelecimentos que proibirem ou provocarem constrangimento às mães durante a amamentação.
Não está restrita a São Paulo, também. Em Belo Horizonte, a retirada de uma foto do Facebook sob a justificativa de “conteúdo impróprio” motivou a doula (de forma simplificada, acompanhante de parto) e fotógrafa Kalu Brum a organizar um mamaço no Parque Municipal.

O caso mais emblemático, no entanto, acabou sendo o de outra mãe inglesa. Ela teve uma foto (tirada sem seu consentimento) postada em redes sociais com a legenda: “tudo bem que está um dia de sol, mas não há necessidade de você deixar seu bebê se alimentar no seu mamilo em plena cidade. Vagabunda”. Emily Slough, de 27 anos, estava fazendo compras naquele dia e parou para descansar um pouco nos degraus de uma loja, enquanto fazia um lanche. Matilda, de oito meses, também pode matar a fome.
A foto foi postada em uma página do Facebook que reúne imagens variadas do cotidiano urbano, sem identificação dos autores, algumas com conteúdo ofensivo. A jovem disse que, após o choque inicial, pensou em simplesmente ignorar o fato e seguir sua vida, mas depois enxergou naquilo uma possibilidade de conscientização.
Resultado? Uma amamentação em massa, ou seja, o que no Brasil chamamos de mamaço, na cidade de Staffordshire. “As mães que estão fazendo o melhor pelos seus filhos devem ser confinadas a um banheiro? Você gostaria de comer em um banheiro, com uma colcha tampando seu rosto? Gostaria de agradecer a quem tirou essa foto, porque se tornou um símbolo contra essa disciminação”, disse Emily aos jornais birtânicos. E ela não está desamparada. O ‘Ato da Igualdade’ de 2010, estabelece que é ilegal discriminar, assediar ou tratar de modo desfavorável as mães que estejam amamentando na Inglaterra, no País de Gales e na Escócia.
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O advogado conta que acompanhou o caso de uma mãe constrangida em um shopping da capital mineira. Ofendida, ela buscou a justiça. A empresa optou por pedir desculpas e fazer um acordo amigável. “Em casos assim, não recomendo que a mãe fique calada. Ela deve procurar o juizado de menores e a delegacia mais próxima. Se possível, além de registrar a ocorrência, deve procurar um advogado e acionar o estabelecimento por danos morais. Embora a jurisprudência quanto a essa questão não seja unânime, a maioria dos juízes respeita e incentiva o direito à amamentação”, esclarece.

"Este é um dos primeiro direitos que a criança tem", reforça Ludmila Lima, nutricionista da associação de combate à desnutrição infantil Dona de Leite. “Do ponto de vista nutricional, não há necessidade de um lugar específico para a amamentação. Mas há, sim, a necessidade de oferecê-lo quando a criança sentir fome, seja lá em qual local a mãe estiver. Não há como prever a necessidade de um recém-nascido. O choro não aceita um ‘não’”, defende. “O leite materno é um alimento completo do ponto de vista de todos os nutrientes e anticorpos que a criança precisa nos primeiros meses de vida. A amamentação exclusiva no peito é recomendada internacionalmente até os seis meses. Quem se incomoda com isso deve estar mal informado”, afirma a nutricionista.
Ludmila explica que a complementação é dispensada até os 6 meses de idade, e que a partir daí a criança pode receber outros alimentos. Mas, se possível, o ideal é amamentar até os dois anos. “A amamentação é cercada de mitos em relação ao local em que ela ‘pode’ ou ‘não pode’ ser feita, à ingestão de alimentos e medicamentos, mas é importante salientar que a avaliação deve ser individual. Cada organismo reage de uma maneira. O que vale para todas as mães é: não existe leite fraco e é importante tomar muita água. De resto, há muitas dicas erradas por aí, de pessoas que não têm o conhecimento necessário. Em caso de dúvidam, a mãe deve procurar orientação especializada”, pondera a nutricionista.

Se você está grávida, com dificuldades na amamentação ou ainda deseja doar leite, procure a Maternidade Odete Valadares. O Banco de Leite funciona, diariamente, das 7h às 19h e o atendimento externo é feito de segunda a sexta-feira, das 8h à 17h. A equipe oferece atendimento das intercorrências do aleitamento materno (ingurgitamento, traumas mamilares, treinamento mãe/filho, relactação, lactação adotiva, mastite puerperal), atendimento psicológico, curso mensal gratuito para o casal grávido e visita domiciliar para coleta de leite materno, entre outros serviços.
Av. do Contorno, 9494, Prado, Belo Horizonte
Telefone: (31) 3337-5678 e 3298-6008
Linhas de ônibus: SC01 A, SC01 B, SC03 A, SC03 B, 9210
Se você quiser saber mais sobre o trabalho da organização não governamental Associação Dona de Leite, visite o site www.donadeleite.org.br e a página no Facebook: www.facebook.com/projetodonadeleite