O trabalho é parte de uma pesquisa para avaliar os benefícios da terapia com música no atendimento a mães e bebês de risco. A proposta de identificar a influência dos sons no quadro clínico dos prematuros é inspirada na experiência de uma UTI neonatal dos Estados Unidos. Segundo Cybelle Maria Veiga Loureiro, coordenadora do bacharelado em musicoterapia da UFMG, a metodologia busca uma estimulação auditiva integrada a outros canais sensoriais. “Estímulos sonoros são utilizados na facilitação da ritmicidade cardíaca e respiratória, e no auxílio à obtenção de respostas: reflexos motores, sinais viscerais e sensoriais”, explica.
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O feto já se comunica ativamente com o meio e o sistema auditivo, quarto sistema a amadurecer em termos anatômicos e fisiológicos. Segundo a especialista em neonatologia, mesmo no útero ele percebe sons, como o batimento cardíaco da mãe, e é capaz de reagir a eles. Ele encontra-se bem protegido dos ruídos externos pela parede uterina e pelo líquido amniótico, mas já apresenta respostas, como, por exemplo, o susto, a partir de 25 semanas. A partir de 35 semanas já reconhece mais sons, tendo preferência pela voz materna, um importante componente na construção do vínculo entre mãe e filho.
“Quando um bebê nasce de forma prematura, essas etapas do desenvolvimento sensorial são interrompidas e ele é exposto ao ambiente hostil e barulhento da UTI neonatal, o que interfere em suas funções fisiológicas, como alteração da frequência cardíaca, da saturação de oxigênio, maior tempo de choro, dificuldade para dormir e até mesmo dor. Pode ocorrer também uma maior dificuldade para reconhecer a voz humana. Esse conjunto de fatores acabam por afetar o desenvolvimento sensorial do bebê, explica Raquel.
É nesse sentido que a musicoterapia tornou-se um recurso terapêutico que estabiliza a frequência cardíaca e o ritmo respiratório. “Ela reduz o estresse fisiológico, acalmando os bebês, e favorece o ganho de peso, contribuindo de forma significativa para a sua recuperação”, observa a médica. Também é sabido que a musicoterapia aumenta o sucesso da amamentação. “O desenvolvimentos de habilidades e de vínculo nessa fase é fundamental para a programação comportamental futura do bebê. Sem dúvida a musicoterapia é um recurso terapêutico que favorece o desenvolvimento comportamental neurossocial.”
PARA TODOS
Além dos prematuros, outros bebês, em especial aqueles com condições neurológica crônicas, se beneficiam da musicoterapia. Mas não é preciso ter qualquer problema para recorrer à música. Rafaela e Raquel, de 1 ano, e Enzo, de 11 meses, reagem a todos os estímulos na aula de musicalização de bebês do Núcleo Villa-Lobos. Segundo a dentista Fabiana de Oliveira, mãe de Rafaela, a menina começa a dançar assim que ouve o som de um instrumento. Não é diferente com Raquel. “Ela está desenvolvendo a fala e o aspecto motor. Como não quero colocá-la na escola, é ainda uma forma de ela se socializar com outros bebês”, defende a mãe, a servidora pública Ester Silva Barbosa.
A fonoaudióloga Andressa Garibaldi, de 35 anos, nota os progressos de Enzo. “Em dois meses já sinto uma evolução. Ele está começando a imitar o que ouve. Além disso, é um momento a mais que tenho com ele. Não é toda mãe que pode tirar uma manhã para poder brincar com o filho assim”, comemora. Segundo Betânia Parizzi, doutora em ciências da saúde e desenvolvedora do método, toda criança tem o direito ao estímulo musical, que pode ser um diferencial no seu desenvolvimento geral. “Esse trabalho promove não só o desenvolvimento musical, o que já seria maravilhoso, mas também dá a essa criança uma maior competência comunicativa”, explica.