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Há mulheres que se refazem na própria companhia, mergulham em si mesmas e, nessa jornada, mudam muita coisa além dos cabelos e das roupas — por vezes, deixam a vida sentimental como uma conta para ser resolvida no futuro. E não há nenhum problema nisso, já que estar solteira deixou de ser um problema. Mas há inúmeras outras que sentem falta de alguém ao lado numa fase da vida em que afeto e sexo já não rimam com quantidade e sim com qualidade. E, então, elas saem em busca. Saem mesmo? Mas para onde? Com quem? Com quais expectativas? Em que condições?
Não são perguntas fáceis de responder. E, não, não é fácil encontrar um novo amor numa fase mais madura — mesmo para as que nunca puseram aliança no dedo e permanecem solteiras depois dos 30 e poucos. Tampouco é fácil achar mulheres que assumam essa busca, temerosas de serem julgadas à revelia por uma sociedade que ainda carrega ranços machistas. A Revista do Correio ouviu várias recusas. Mas saiu por aí e acabou cruzando com algumas que estão de volta à paquera.
Em comum, elas confessam que a independência feminina assusta os homens; que os mais novos gostam das mais velhas e que balada não rende cantada inteligente, mas é bom para ver e ser visto. Ainda assim, é bom salientar que não existem regras nesse universo tão fluido, que é encontrar um novo amor — e isso vale para qualquer idade. Portanto: qualquer lugar pode ser “o” lugar e qualquer fila de banco, caixa de supermercado ou corridinha no parque pode ser a oportunidade perfeita para achar um solteiro interessante. De coração aberto e olhos também, enquanto procuram, as mulheres divertem-se um bocado.
“Fiquei viúva há sete anos depois de 22 anos de casada. É uma situação extremamente complicada. Perdi meu melhor amigo, a pessoa que eu amava. Mas a minha maior preocupação, além do bem-estar das minhas filhas, era não ficar triste. A vida é boa demais para ficar deprimida. É importante também estar bem para as pessoas que ainda precisam de nós. Então, quis lidar com o problema internamente. Mesmo assim, demorei quase oito meses para me arrumar e querer que alguém olhasse pra mim”, lembra a servidora pública Dalete Maia, de 48 anos.
Para ajudar nesse processo, os amigos foram imprescindíveis. Aos recém-separados, divorciados e solteiros convictos, a servidora pública pediu que não deixassem de convidá-la para sair, mesmo que ela não aceitasse no primeiro momento.
Durante um relacionamento longo, é comum que o casal assuma uma única personalidade e trabalhe para conquistar objetivos comuns. E quando a pessoa se vê novamente sozinha? Para Dalete, foi preciso uma busca interior para se redescobrir. “Passei a ser uma mulher com filhos, mas sem marido. Voltei, olhei para trás para ter certeza de quem eu era e descobri que eu sou a mesma pessoa de antes”, explica.
Só então pôde parar para observar o mundo e fazer as pazes consigo mesma. “Foi difícil, mas me sinto bem agora. Eu tive amigos que estavam lá para me ajudar, para não me deixar só, e eu consegui”, conta. Hoje, Dalete está sem namorado. “Eu procuro uma pessoa bacana, só teria um relacionamento se fosse mais light”, explica.
O luto necessário
Voltar a paquerar ou aceitar ser paquerada depois de um relacionamento sério não é fácil. Segundo o psicólogo e especialista em relacionamentos amorosos Ailton Amélio, recuperar a autoestima nessas situações depende muito das condições do término, mas, em média, a mulher pode demorar até três anos para deixar de se enxergar como uma pessoa comprometida. “Para aceitar uma nova pessoa, é preciso se entender como solteira, assumir que o relacionamento anterior acabou. Não é fácil, não existe uma fórmula para voltar à ativa rapidamente.”
Um término complicado pode exigir terapia para aceitar o interesse de outros homens e o fato de que nunca é tarde para voltar a se relacionar. Segundo a psicóloga Tamara Santos, é imprescindível passar por uma fase de luto. “Despedir-se da vida de casada e assumir a solteirice é importante. Sem essa fase, pode ser que o antigo relacionamento volte a assombrar ou acabe influenciando outras relações”, explica.
A postura e a autoestima da mulher fazem muita diferença — a bagagem, a maturidade e a experiência podem ser tratadas como vantagens ou como fatores que dificultam novos relacionamentos. Essa balança, no entanto, segundo a especialista, tende a pender para o lado negativo.