A servidora pública Rafaela Alvim, 39 anos, se divorciou depois de sete anos de casada e se viu exatamente nessa situação: sem companhia e com dois filhos. Resolveu sair com uma prima mais nova, mas se sentiu um peixe fora d’água. “Fui a uma festa e me achei supervelha. Não queria mais aqueles meninos, queria uma pessoa madura. Minhas amigas estavam todas casadas ou comprometidas. Tive que adaptar minhas amizades. Algumas conhecidas viraram verdadeiras amigas de balada e acabei conhecendo muita gente, criei um círculo totalmente novo”, lembra Rafaela.
Depois da primeira experiência traumática, a servidora pública decidiu se curtir por um ano, para assumir a condição de solteira. “A gente não decide voltar a paquerar, é uma situação meio imposta. Você fica em um limbo, pensando no futuro, no que fazer agora. Não se encaixa mais na galera solteira nem nos casais. Quando finalmente achei alguém, foi totalmente por acaso e eu me senti ridícula, nem sabia paquerar mais. Demorei quase dois anos para relaxar completamente e aceitar que eu estava na pista mesmo”, assume.
Além de toda a parte psicológica a vencer, a mineira Rafaela acha que Brasília impõe uma barreira: “É superesquisito, os caras aqui não chegam para conversar, não interagem. Ou ele está bêbado e vem te incomodar ou é amigo de um amigo. É difícil conhecer gente nova”, conta. A solução encontrada pela servidora pública foi o Tinder. Segundo ela, no aplicativo, as pessoas estão mais abertas a se conhecer. Foi por meio do celular que começou várias paqueras — e uma delas se transformou recentemente em namoro.
Rafaela explica que a maturidade afastou de vez a paciência com casinhos rápidos e superficiais, com conversas levinhas e sem conteúdo com desconhecidos. E, na procura por alguém que se encaixe nos requisitos de quem já teve um relacionamento que não deu certo, a idade dos pretendentes conta bastante. “Aos 35 anos, eu queria só os homens de 30 anos; achava os da minha idade muito velhos. Mas descobri que os de 30 agora são muito mais meninos e imaturos do que quando eu tinha a mesma idade; minhas experiências não foram muito boas. O engraçado é que, do outro lado, eles adoram mulheres mais velhas, mais experientes”, conta a servidora pública. Agora, Rafaela encontrou um meio-termo — o namorado tem 41 anos.
Ajudinha on-line
- Tinder: o aplicativo já é bastante famoso. Quem se inscreve deve disponibilizar algumas informações do Facebook, como amigos, páginas curtidas e fotos. Em seguida, o Tinder mostra pessoas próximas a você que estão solteiras e interessadas em conhecer gente nova — assim como seus interesses e amigos em comum. É possível delimitar a idade e a distância dos pretendentes. E não se preocupe: os curtidos só saberão que você está interessado se a curtida for mútua. O aplicativo abre um chat para que os dois se conheçam melhor.
- WeChat: é parecido com o Whatsapp, para troca de mensagens. Tem uma função chamada “olhar ao redor”, na qual o aplicativo sugere pessoas perto de você para começar uma conversa.
- Badoo: funciona mais ou menos como o Tinder, mas é necessário pagar para ter acesso a um maior número de pessoas.
- Down: lembra o Bang with Friends, do Facebook, no qual o usuário marcava os amigos com os quais estaria disposto a ter uma relação e os dois só descobriam se o interesse fosse mútuo? Pois virou aplicativo para celular. O Down funciona mais ou menos do mesmo jeito, mas é possível escolher entre sexo casual ou um encontro romântico — e dá para encontrar amigos de amigos também.
“Eu não sabia nem como me vestir. Não quero um relacionamento sério agora, tenho que me cuidar, mas resolvi sair mesmo assim. É bom para lembrar que o ex não é o único homem do mundo, que existem outros tipos de carinho. Fomos para um barzinho legal e acabamos ficando.” - Valéria Dutra, 37 anos, faturista
A faturista Valéria Dutra, 37 anos, teve um fim de relacionamento traumático. Foram seis anos de namoro esperando o momento certo para se casar, aguardando o ex passar em um concurso público para conseguir a estabilidade desejada por quem vai começar uma vida a dois. Já procuravam apartamento para comprar. “Eu tinha certeza que íamos ficar juntos para sempre. Ele perdeu 40kg e, finalmente, passou em um concurso — e terminou comigo. Fiquei arrasada, sem chão. Eu ia casar e, de repente, acabou. Tive uma crise de depressão por querer viver algo que eu sabia que não podia mais acontecer”, lembra.
Foram 8kg perdidos e a necessidade forte de tomar remédios para dormir e controlar a ansiedade. Um dia, meio dopada, ela quebrou um copo e cortou o dedo. O episódio, aparentemente banal, a ajudou a organizar a cabeça. Ela tinha uma ferida aberta tanto emocionalmente quanto fisicamente. E as duas iam sarar. “Pensei: sei que essa dor vai passar, que a ferida vai se curar, assim como o machucado interno. Se eu ficar sofrendo, não vou sair dessa”, conta.
Valéria decidiu focar na carreira para garantir o próprio futuro, sem depender de ninguém. Matriculou-se numa universidade e vai começar a estudar para um concurso público. Ali, espera conhecer gente nova.
Só o ato de sair do casulo já rendeu um encontro. Um amigo do trabalho a convidou para sair, com o intuito de consolá-la. “Eu não sabia nem como me vestir. Não quero um relacionamento sério agora, tenho que me cuidar, mas resolvi sair mesmo assim. É bom para lembrar que o ex não é o único homem do mundo, que existem outros tipos de carinho. Fomos para um barzinho legal e acabamos ficando”, explica.
Na depressão de Valéria, o pensamento mais recorrente era de que a vida tinha acabado. Aos 37 anos, ela acreditava que ninguém ia se interessar por ela e que um relacionamento sério demandaria muito tempo para acontecer. Mas, agora, percebeu que a vida continua. “A gente tem de fazer uma escolha: ou se entrega à tristeza ou recomeça a vida. Fazendo a escolha certa, acabamos ficando mais vaidosas e começamos a reparar nas pessoas à nossa volta. Se saio arrumada, percebo que os homens me olham e eu posso corresponder. Já olho logo para o dedo à procura da aliança!”, resigna-se.
Não tem idade (mesmo)
Quando perguntada se ainda paquera, Antônia de Oliveira, 83 anos, conhecida como dona Tonica, é enfática: “Claro! Eu é que não vou dançar sozinha!”. Ela está solteira há 40 anos — o casamento terminou em divórcio ainda na juventude e ela passou longos anos sozinha. Alguns anos depois, iniciou um relacionamento, que durou 14 anos. “Terminamos, pois ele estava me traindo. Fiquei quase oito anos sozinha, até que me aposentei e comecei a frequentar os bailes da terceira idade para conhecer gente”, lembra.
E ela garante: os métodos de paquera são praticamente os mesmos, independentemente da idade. Foi por meio de olhares e os risos envergonhados, por exemplo, que conheceu o namorado atual. “A gente sempre se olhava nos bailes, apesar de ele estar com uma namorada. No dia do meu aniversário, os convidados fizeram uma fila para me cumprimentar e ele ficou por último. Me deu parabéns e me chamou para dançar. Estamos juntos desde então”, lembra. Ela conta que a receita do sucesso é ser feliz consigo mesma e não poupar sorrisos.
Apesar do namoro sério, dona Tonica confessa que ainda é paquerada nos bailes: “Tem um senhor que está sempre me chamando para dançar, me olhando e me chamando de ‘minha linda’, fica me mandando beijo toda vez que eu passo. Meu namorado sempre vem comigo, morre de ciúmes!”.