A engenheira civil Rúbia Andere Nogueira, de 40 anos, tem voz meiga e aparência delicada. De cabelos compridos, gosta de roupas românticas. Ao concorrer a um cargo gerencial, a jovem avaliou que eram necessárias adequações na imagem muito delicada. Passou por uma consultoria que lhe apontou o visual que lhe desse mais credibilidade. O dress code é o reflexo da empresa, como lembra Lucas Ribas Wilson, vice-presidente e sócio da Asap Minas Gerais – empresa especializada em recrutamento e treinamento de executivos. O termo em inglês significa código de vestimenta e compreende as regras que orientam as roupas que os colaboradores devem usar no ambiente de trabalho. “Deve traduzir os valores e conceitos da organização. É a forma como uma empresa quer ser percebida”, diz.
Esses códigos podem variar de acordo com o ramo de atividade. A forma como um profissional de uma empresa de tecnologia e inovação se veste costuma ser bem despojada, o que é bem diferente, por exemplo, de um escritório de advocacia. “Na empresa de tecnologia da informação, querem passar uma imagem de profissionais descolados e antenados com as inovações. Do alto executivo ao analista, o vestuário é mais informal.” No ambiente jurídico, em que é necessário criar uma imagem de respeito, transparência e confiança, trajes mais clássicos, como o terno e a gravata ou o tailleur , costumam predominar.
A aparência compõe a imagem pessoal. Enquanto a aparência é a forma como a pessoa se veste, a imagem é composta também pelo comportamento, atitudes e conhecimentos técnicos. “Embora não seja o fator decisivo, a apresentação é algo muito importante para o mercado de trabalho”, pondera. Para ele, muitas pessoas se baseiam no bom senso ao escolher as roupas, o que pode ser um problema. Como é algo subjetivo, essa percepção pode mudar para pessoa a pessoa. Em outras palavras, o que pode ser razoável para você pode não ser para o seu gestor. Uma maneira de não errar é observar como os gestores se vestem. “Eles são o espelho para a equipe.”
Foi o que ocorreu com a Rúbia depois que conseguiu a sonhada promoção no final do ano passado. Ela passou a ser referência para sua equipe. Depois de algumas tentativas sem sucesso, ela foi aprovada no concurso interno para gerenciar a divisão de coordenação, controle e desenvolvimento operacional metropolitano da Copasa. “Busquei adequar minha imagem para demonstrar mais segurança e firmeza.” A adequação incluiu a mudança no penteado. Os cabelos longos e soltos foram aparados e amarrados em um coque. Calças, camisas, saltos não muito altos e um anel preto deram a ela um tom mais sério. Também mudou os tons de roupas, optando por cores mais clássicas, e procurou adequar o tom da voz, que era muito doce.
Avaliação imediata
A consultora de imagem e professora do curso de extensão em consultoria de imagem, moda e estilo da UFMG Cibele Ramos Lima lembra que diversos estudos demonstram que as pessoas, nos 30 primeiros segundos, elaboram a impressão sobre o outro. Apesar de parecer muito pouco, o tempo é suficiente para intuir a profissão que a pessoa ocupa, o sucesso que ela tem e se ela se cuida ou não. Ela lembra que a preocupação com a imagem, antes restrita ao universo de artistas e políticos, que sempre estão na vitrine por serem figuras públicas, passou também a fazer parte da vida de pessoas comuns. A própria Cibele já alterou a apresentação quando se tornou coordenadora de comunicação e marketing em uma faculdade em Belo Horizonte. Ela cortou os cabelos na altura dos ombros para ter mais autoridade e credibilidade. “O cabelo comprido remete à juventude e a um certo descolamento.”
O mundo corporativo exige uma imagem de credibilidade, o que, em outras palavras, quer dizer que a parcimônia deve prevalecer. O dito popular “vestida para matar” deve dar lugar ao vestida para trabalhar. Nesse sentido, há alguns cuidados a serem tomados para a apresentação. As mulheres devem evitar decotes, transparências e esmaltes coloridos e com desenhos sobre as unhas. Roupas justas, curtas e as peças que mostram a barriga também devem ser abolidas no ambiente de trabalho. “É melhor que os piercings e tatuagens não fiquem à mostra.” A preocupação deve se estender aos sapatos. Nada de botas e saltos muito altos e com muitos detalhes. “Lingerie à mostra jamais. Nem maquiagem berrante.” É preciso ponderação também na hora de colocar os perfumes. “Exageros de fragrância irritam demais no ambiente de trabalho.”
Devem-se evitar os cabelos molhados e também mantê-los com aspecto de cuidado. Para Cibele, quanto mais natural o cabelo melhor. Um ponto polêmico são os cabelos black power em ambientes corporativos. Muitas jovens estão assumindo a textura do cabelo natural. Nesses casos, é importante buscar empresas que estão abertas para essa proposta e não impõem a escova às funcionárias.
Com os cabelos bem cuidados nas diferentes texturas, a mulher deve optar por um bom corte e tons mais neutros. As saias devem ser na altura do joelho e as calças retas. Para dias mais quentes, a indicação são as calças capri. “Quem precisa alongar a silhueta pode optar por tons nude.” Os tons pastéis são também indicados para as roupas de trabalho.
Os homens devem evitar punhos de camisa puídos, roupas mal passadas, principalmente blazeres. Os que usam barba, é importante ter cuidado. Ela deve estar sempre aparada. “Barba por fazer é o pior de tudo”, diz Cibele. Eles devem ter sempre um bom corte. Os sapatos sociais devem estar bem cuidados. Uma alternativa às calças de alfaiataria são os jeans, que devem ser clássicos e com lavagens escuras. As camisas podem ser de tricoline ou de malha, no estilo polo. As meias devem ser na tonalidade das calças e dos sapatos. Outro cuidado deve ser tomado ao escolher as meias para sapatênis, que são mais finas que as meias esportivas e mais grossas que as meias sociais. O blazer em brim é uma peça curinga que ajuda a compor o visual. Os cintos e pastas devem ser sempre de boa qualidade. Os homens também devem ter um cuidado com óculos de grau, relógio e caneta – que são os acessórios masculinos.
CRIATIVIDADE
Mas engana-se quem pensa que o dress code pode ser – com perdão do trocadilho – uma camisa de força. Lucas Ribas lembra que homens e mulheres podem usar os acessórios para garantir a individualidade, mesmo em empresas onde se exige o uso de uniformes. A forma como a pessoas se vestem é a maneira de passar um pouco sobre sua personaldidade. É o que acredita a escritora e poeta Mônica Aquino, de 35 anos, que quer construir uma imagem relacionada à criatividade.
Depois de reformar o apartamento com a ajuda de um arquiteto, ela avaliou que deveria fazer o mesmo com sua aparência e contratou uma consultoria para ajudá-la. “É uma questão de linguagem. A forma como me visto é o que levo para o mundo externo.”
O primeiro passo foi uma limpeza e organização do guarda-roupa. “Queria passar um ar mais criativo, alegre no meu vestuário.” Nesse processo, Mônica encantou-se com o universo dos tecidos, modelagens e combinações. Depois de selecionar no guarda-roupa – o que deveria ser reformado, o que estava adequado à imagem que ela quer passar e o que deveria ser doado– , a escritora foi às compras. Com a ajuda da consultora, adquiriu peças básicas e clássicas e investiu em acessórios mais descolados. “Só usava óculos escuros pequenos. Comecei a usar óculos grandes.” Mônica também passou a brincar mais com os sapatos. Antes ela escolhia calçado apenas pela praticidade. Agora olha também o design e as cores. Todas as peças são combinadas de forma lúdica para que tenha uma imagem despojada e criativa.
Dress code: roupas ajudam a construir imagem e a se adequar melhor ao ambiente corporativo
O termo em inglês significa código de vestimenta e compreende as regras que orientam as roupas que os colaboradores devem usar no ambiente de trabalho