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Resultado da pesquisa 'Marcas Líderes de Vendas Nielsen/SuperHiper' da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) de 2014 revela que o Nescau/Nestlé é o mais vendido seguido do Toddy/Pepsico. Na sequência, aparecem o Ovomaltine/AB Foods, Nesquik/Nestlé e Santa Amália/Santa Amália. Seguindo o critério de marcas mais vendidas no Brasil, o Saúde Plena mostra a quantidade de açúcar presente em cada um dos produtos da categoria achocolatados.
Para se ter uma ideia, 75% dos componentes de uma embalagem de Nescau são açúcares. Na de Toddy, o percentual é de 90% Veja gráfico:
A escolha de alimentos é livre e nenhum especialista em criança quer cercear esse direito. O que se faz necessário em tempos de epidemia de obesidade, como vem alertado a Organização Mundial de Saúde (OMS), é informação para que a decisão seja consciente. A nutricionista Cláudia Guimarães, que trabalha com educação e reeducação alimentar há 18 anos, faz um primeiro alerta: “Assim como o café, o achocolatado também diminui a absorção do cálcio”. Para ela, a presença desse pó nas mamadeiras e copos de meninos e meninas é um hábito familiar que vem sido passado de geração a geração. Além disso, funciona, em muitas situações, como um facilitador para que a criança tome o leite “exatamente pelo sabor bastante adocicado”, diz Cláudia. A nutricionista sequer considera o produto industrializado como um alimento. “É algo que dá sabor, mas como tem indicação de energia, as pessoas acham que é bom. Mas qual energia? O açúcar simples que está no topo da pirâmide alimentar”, responde a própria especialista.
Pirâmide alimentar é um gráfico que distribui os grupos alimentares e as proporções que cada um deles deve ser ingerido e serve como um roteiro para uma alimentação saudável. “O açúcar está no topo e o espaço desse topo é reduzido. Isso quer dizer que o consumo deve ser reduzido”, explica Cláudia.
Nutricionista especializada em pediatria, Karine Durães concorda. “O achocolatado é dispensável por conta do excesso de açúcar. A sacarose ou o açúcar branco não são necessários na vida da criança. Esse carboidrato simples, de alto índice glicêmico, não tem nutrientes. O ideal é que esse carboidrato viesse de outras fontes como cereais, tubérculos e frutas”, recomenda. A especialista lembra ainda que o excesso de consumo de açúcar predispõe a criança a doenças crônicas como diabetes, colesterol alto e obesidade. “Para proteger a criança, o consumo de açúcar deve ser limitado. Acontece que uma colher de achocolatado muitas vezes já é o máximo de açúcar que a criança deve consumir durante o dia”, explica. Para piorar, de acordo com ela, o açúcar está presente também em outros alimentos consumidos diariamente pelos pequenos como bisnaguinhas, biscoitos, doces, alguns molhos de tomate, sucos industrializados. Ou seja, em apenas uma refeição como o café da manhã, por exemplo, é muito provável que meninos e meninas estejam ingerindo açúcar em porções superiores às que precisam.
Karine observa, no entanto, que algum açúcar pode sim, ser consumido por crianças maiores de 2 anos. “Mas é necessário escolher o açúcar que essa criança irá consumir. Se optar por tomar achocolatado uma vez ao dia, não cabe mais açúcar na dieta dessa criança. A pirâmide alimentar infantil sugere até uma porção ao dia, que representa uma colher de açúcar refinado”, reforça.
Cláudia Guimarães acredita que a facilidade pode ser também uma das razões para as famílias optarem pelo achocolatado no leite das crianças. “Pensar a saúde da criança significa ir além da praticidade. Será que esse pai ou essa mãe pararam para pensar ou estão repetindo um hábito? Nutricionalmente, o achocolatado não é interessante por causa da quantidade de açúcar. Além disso, as crianças ficam habituadas a sabores muito doces”, alerta.
Vice-presidente do Comitê de Nutrologia da Sociedade Mineira de Pediatra, Joel Alves Lamounier explica que o gosto adocicado é algo que o ser humano tem mais predileção. “Nossa cultura valoriza muito o açúcar. O costume de alimentos muito adocicados é um hábito e deveria ser combatido desde a infância. Mas para que isso aconteça, precisa-se também da ajuda dos pais em mudar os seus próprios hábitos e reduzir a quantidade de alimentos doces ou de açúcar nos alimentos”, diz. Para ele, a informação seria uma das formas para provocar mudanças.
O pediatra afirma que os achocolatados não são exclusividade do cardápio das crianças. “As características sensoriais e nutricionais do produto, assim como a conveniência e praticidade, fazem com que o alimento seja bem aceito”, pondera. Lamounier ressalta, entretanto que “na apresentação mais simples, o achocolatado contém cerca de 70% de sacarose ou de outros açúcares e cerca de 30% de cacau em pó. Outros ingredientes típicos usados na formulação de achocolatados comerciais incluem extrato de malte, açúcar e glicose, vitaminas e sais minerais como suplementos. A fortificação de achocolatados com sais de ferro vem sendo realizada com o intuito de diminuir o índice de anemia. Eles são consumidos por pessoas de todas as idades e no rótulo dos produtos estão descritas as quantidades dos nutrientes que compõem os achocolatados”, alerta.
No caso específico das crianças, o especialista aponta o impacto do excesso de açúcar na alimentação de meninos e meninas. “Podemos começar pelas cáries dentárias, fato já bastante comprovado. O excesso de açúcar pode levar ao excesso de peso, pois no metabolismo se transforma em gordura”, enumera. Além disso, o pediatra reforça que o consumo exagerado açúcar pode desencadear o diabetes. “Neste caso, cuidado maior devem ser tomados em casos de história de diabetes na família”, fala.
Quero mudar
A mudança de hábito alimentar não é uma tarefa fácil. Se não é para os adultos, imagine para os pequenos. Culinarista infantil, estudante de gastronomia e mãe de Eduardo, de 3 anos, Thais Ventura é autora do blog ‘As delícias do Dudu’. Foi um texto dela que gerou a mobilização do Infância Livre de Consumismo para alertar pais e mães sobre a quantidade de açúcar presente nos achocolatados. Ela acredita que muitas famílias têm no leite o refúgio da boa alimentação infantil, mas lembra que existem crianças com alergia ao alimento que crescem saudáveis. “O leite não pode ser o principal alimento de uma criança depois de um ano de idade. O cálcio é um nutriente que não pode faltar para a criança, mas existe uma infinidade de alimentos que podem suprir essa necessidade diária”.
Uma dica que ela dá para os casos das crianças que já se acostumaram com o leite com o chocolate em pó é tentar o caminho reverso. “A família pode começar com o cacau em pó para manter a cor da bebida e acrescentar açúcar mascavo. Com o tempo, vai diminuindo a quantidade de açúcar até que o paladar da criança se acostume”, indica.
Cláudia Guimarães sugere o leite batido com fruta. “É rico em fibra e sais minerais”, afirma. A nutricionista diz que os pais podem começar com uma brincadeira associando a cor da fruta com o resultado do leite batido para entusiasmar meninos e meninas para a mudança.
O pediatra Joel Alves Lamounier afirma que o leite é uma das melhores fontes de cálcio que a criança tem na alimentação. “Sua importância está principalmente na formação de ossos e dentes, além de outras funções no organismo”.
Outras fontes de cálcio
Vale lembrar ainda que o leite não é o único alimento rico em cálcio. “Iogurtes, queijos, algumas verduras verde-escuras, gergelim, coentro, peixes, crustáceos e bebidas vegetais fortificadas também são ricos em cálcio”, enumera Karine Durães.
Lamounier cita o brócolis, espinafre, agrião. Entre os peixes, salmão, bacalhau e sardinha também são ricos em cálcio, além dos cereais e dos próprios derivados de leite. “É importante lembrar que a vitamina D exerce papel fundamental na fixação do cálcio nos tecidos duros e a principal fonte de vitamina D é o sol, pelo menos 15 minutos diariamente. Mas alimentos como ovos, óleos vegetais, manteiga e vísceras animais também contêm a vitamina. A absorção do cálcio pode ser prejudicada pela presença de fibras na dieta e deve ser evitado cafeína e proteína em excesso”, completa.
Segundo o pediatra, a Academia Americana de Pediatria passou a recomendar maiores quantidades de cálcio de acordo com as faixas etárias (veja tabela). “É importante lembrar também que o cálcio está relacionado com a osteoporose, e, portanto, a preocupação de uma boa ingestão desse nutriente na alimentação”, informa.
O Ministério da Saúde recomenda o consumo de 1.000 miligramas de cálcio ao dia para adultos e de 700 miligramas para crianças de 7 a 10 anos, segundo Lamounier. Para as mulheres que já passaram pela menopausa, o consumo deve ser de 1.300 miligramas por dia, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). “A ingestão do mineral também deve ser aumentada no crescimento, durante a gravidez e no período da lactação”, diz o especialista.
Atenção na hora de escolher o leite
Outra preocupação que as famílias precisam ter é na hora de escolher o leite. “Sugiro o consumo de leite tipo A, que tem uma cadeia de processo mais controlada, portanto, mais passível de ser livre de contaminação”, indica Karine Durães. Cláudia Guimarães recomenda também o leite de soja suplementado.
E uma última dica: trocar o leite com achocolatado por iogurte de morango não resolve. “Iogurtes prontos já são adoçados. O ideal é o iogurte natural batido com fruta”, afirma Karina Durães. Além disso, Cláudia Guimarães reforça que o iogurte de boa qualidade que tem lactobacilos ajuda ainda a equilibrar a flora intestinal.