Em indivíduos saudáveis, a glicose jogada no sangue pela absorção de alimentos tem a entrada nas células garantida por um hormônio produzido no pâncreas, a insulina. A glicose será usada em inúmeros tecidos e órgãos para, principalmente, a produção de energia. Ao desenvolver o diabetes tipo 2, a pessoa se torna resistente à ação desse hormônio, e o açúcar passa a se acumular no sangue. Essa condição é irreversível e, muitas vezes, além do controle da alimentação, da prática de exercícios e de medicação, é preciso doses extras injetáveis de insulina para manter o organismo sob equilíbrio. Antes disso, no entanto, a grande maioria dos diabéticos desenvolveu o pré-diabetes, que anuncia a doença crônica e pode ser revertido sem medicação para a condição normal anterior.
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Para avaliar a capacidade do teste de A1c para triagem de diabetes em pacientes de alto risco, os pesquisadores analisaram o histórico médico de 10.201 pessoas que fizeram o exame na universidade entre 2002 e 2005. Eles descobriram que, em geral, 22,5% dos pacientes desenvolveram diabetes de cinco a oito anos. Pacientes com níveis de A1c próximos a 5,5% — abaixo do limite oficial para o diagnóstico de diabetes — foram significativamente mais propensos a desenvolver o diabetes do que aqueles com níveis abaixo de 5,5%. Cada 0,5% de aumento nos níveis de A1c duplica o risco de desenvolvimento da doença metabólica.
Chance de reversão
Ainda existe uma dificuldade em caracterizar quando o diabetes começa ou qual nível de glicose no sangue é capaz de provocar problemas ao organismo. Nos estágios iniciais, a doença não causa sintomas e são necessários alguns anos para surgirem complicações. Até 50% desses pacientes vai evoluir da condição de pré-diabetes para a doença em si. Por esse motivo, a preocupação em criar o maior número possível de ferramentas capazes de identificar quem está em risco. O estágio de pré-diabetes é especialmente importante por ser a única etapa da doença que ainda pode ser revertida ou mesmo retardar a evolução para a doença crônica e suas complicações.
Hoje, o diagnóstico do diabetes é dado se o indivíduo apresenta dois testes de glicemia em jejum iguais ou acima de 126 mg/dl ou, se duas horas após a ingestão de um concentrado de glicose, o nível glicêmico estiver superior a 200 mg/dl. Já o pré-diabetes é caracterizado se a glicemia em jejum fica entre 100 e 126 mg/dl ou se, no teste de duas horas, ficar entre 140 e 200 mg/dl. Obesos, hipertensos e pessoas com alterações nos lipídios são vistos como de alto risco.
Segundo a endocrinologista Rosane Kupfer, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a pesquisa não traz uma novidade, mas é mais uma evidência científica do caminho a ser seguido “Ter uma hemoglobina glicada no nível entre 5,5% e 6,4% comparado a quem tem menor que 4,5% traz uma chance de 2,5 a 7,5 vezes de evoluir para diabetes.” Ela explica que a hemoglobina glicada é um exame que traduz a média da glicemia dos últimos 2 ou 3 meses. Seu uso é comum para avaliar o controle glicêmico durante o tratamento, mas, há cerca de três anos, passou a ser usado também para o diagnóstico.
Kupfer avalia que a proposta dos pesquisadores israelenses de dosar a hemoglobina glicada em quem tem fatores de risco para desenvolver diabetes é viável, mas ainda distante da realidade brasileira. “Apesar de não ser um exame caro, nem todos os laboratórios têm a metodologia correta e são confiáveis para dosar a hemoglobina glicada, pois realizam apenas o exame de glicemia”, explica. Segundo ela, laboratórios teriam que ser reequipados. “O que não se divulga é que, para dosar a glicemia, também se requer certa estrutura. Apesar de o frasco onde é colhido a glicose conter uma substância conservante, não se pode demorar a dosá-la para o resultado ser confiável”, complementa.
Sem jejum
Outra vantagem da hemoglobina glicada apontada pela endocrinologista é não ser necessário o jejum, podendo ser colhida a qualquer horário. Uma desvantagem estaria na coexistência de outras doenças, como a anemia falciforme, que podem alterar o resultado. Esse distúrbio tem alta prevalência principalmente no Nordeste do Brasil. “Não há dúvidas de que estamos vivendo uma epidemia de obesidade e diabetes.”
De acordo com a International Diabetes Federation, entidade ligada à ONU, existem no mundo mais de 380 milhões de diabéticos, a maioria deles com a doença associada a condições como obesidade e sedentarismo. “Essa pesquisa israelense mostra que, depois da hemoglobina glicada, o peso foi o maior preditor de diabetes.” Kupfer reforça que, mesmo sem a dosagem da hemoglobina glicada, deveriam haver mais políticas públicas voltadas para reverter esse quadro. “Não estamos no estágio dos Estados Unidos, mas a obesidade infantil e de adolescentes já é um problema em nosso meio.”
Critérios internacionais
Nos últimos anos, a Associação Americana de Diabetes (ADA, em inglês) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) adicionaram o teste às suas diretrizes como um critério para o diagnóstico do diabetes tipo 2. De acordo com a ADA, ter um nível de A1c de 6,5% ou mais é um indicador da doença e, entre 5,7 e 6,4%, é um indicador de pré-diabetes.
Sondagem mais apurada
“Esse é realmente um ótimo teste para o diagnóstico de diabetes. A grande diferença é que a glicose reflete os níveis da ocasião em que o sangue foi colhido e esse teste está relacionado aos níveis médios de glicose dos últimos 45, 60 dias, pois é a ela que está ligada a molécula de hemoglobina. Essa molécula permanece na circulação e está vinculada à glicose de forma irreversível pelo tempo de vida da hemácia na circulação. A única limitação é em relação a certos estados em que o tempo de vida das hemácias pode estar alterado, como anemias e algumas formas de variações genéticas da hemoglobina. Mas essas condições podem ser detectadas na realização do exame. Há alguns anos, a Associação Americana de Diabetes e a Asssociação Americana de Clínica Química estipularam a utilização da dosagem de A1c tanto para o diagnóstico quanto para o acompanhamento e também como estabelecimento de risco. Este estudo é interessante porque estratifica melhor o risco por meio dos níveis de A1c”
Hélio Magarinos Torres Filho, patologista clínico