
Segundo José Henrique Veiga Fernandes, pesquisador sênior do trabalho, a formação do sistema imunitário no feto está muito dependente de fatores ambientais. “Nosso trabalho vem estabelecer, pela primeira vez, uma ligação estreita entre os hábitos alimentares da mãe, a qualidade do sistema imunitário dos filhos e a forma como eles resistem às infecções.” Fernandes explica que a quantidade de vitamina A repassada da mãe ao filho é necessária para que os nódulos linfáticos se desenvolvam em tamanho normal, o que possibilitará respostas imunes capazes de conter infecções tanto na infância quanto na vida adulta.
A vitamina também participa do desenvolvimento embrionário, da reprodução, do metabolismo ósseo, do equilíbrio da pele e da visão. “A deficiência desse composto não causa apenas deficiências físicas, mas também compromete a eficácia das campanhas de vacinação infantil nas regiões mais pobres, particularmente na África e no sul Asiático”, acrescenta. Alexandre Pupo Nogueira, ginecologista e obstetra do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo, observa que essa, felizmente, não é uma realidade brasileira. “A alimentação habitual aqui é rica em alimentos com vitamina A. Além disso, os bebês recebem as gotinhas de vitaminas pouco depois de nascerem.”
Irreversível
O próximo passo da pesquisa de Fernandes é investigar como as estruturas imunitárias interagem com os fatores ambientais. Ele cogita que esse sistema tem “poderes sensoriais” complexos em relação ao mundo exterior. Isto é, quando o micro-organismo nocivo ainda não invadiu o corpo. “Testar essa hipótese é um dos nossos grandes desafios para o futuro”, avalia. Nogueira pondera que são necessários mais estudos, inclusive em humanos, para que os resultados possam influenciar a prática médica. “O escopo é mais o conhecimento a respeito do sistema imunológico e o desenvolvimento dele. Não podemos receitar reposição de vitaminas para as grávidas com medo das crianças nascerem deficientes”, analisa o obstetra, que conta, na pesquisa, com a ajuda da cientista Manuela Ferreira.
Reforço
O Programa Nacional de Suplementação de Vitamina A, do Ministério da Saúde, prevê que, dos 6 aos 59 meses, todas as crianças que residam em área de risco da deficiência desse nutriente recebam doses da substância de seis em seis meses. Não há contraindicações para a suplementação.