Escondidos
De acordo com o médico Selmo Gerber, especialista em reprodução assistida e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), as enfermidades que atingem os ovários são muitas vezes silenciosas e, pela localização do órgão, o acesso por meio de exames é mais difícil. É comum que, quando uma alteração é descoberta, o tumor já esteja em estágio avançado. “É uma situação muito diferente das alterações no colo do útero, por exemplo. Com um exame criado na década de 50, o papanicolau, conseguimos facilmente identificar a alteração e colher o material. A detecção e a prevenção são mais simples”, enumera.
Gerber explica que, além de tumores malignos, a retirada de um ou dois ovários pode ser indicada:
- torção: incomum, ela geralmente é causada por um cisto de tamanho considerável no órgão, que altera sua posição, comprime os vasos sanguíneos e leva à necrose de um dos ovários;
- cistos suspeitos de malignidade: caso seja possível identificar, na cirurgia, que o cisto é benigno, o ovário pode ser preservado. Se houver dúvida quanto à natureza do cisto, no entanto, a indicação geralmente é de retirada do órgão.
Mesmo nos casos em que a mulher enfrenta um câncer, é possível avaliar se haverá necessidade de retirar os dois órgãos. “É muito comum que um deles possa ser preservado, e com isso a mulher continuará a produzir óvulos”, explica o professor. Gerber pondera também que o câncer de ovário é, sim, de característica agressiva – desenvolve-se de forma rápida e alcança o estágio de metástase em ritmo acelerado. “Entretanto, o câncer não causa mais tantas mortes quanto causava antigamente. Sendo assim, podemos pensar em preservar a fertilidade da mulher. Aquela que ainda não teve, mas deseja ter filhos, pode conseguir realizar esse sonho depois do tratamento”, aponta.
Alternativas
Existe mais de um caminho para preservar a fertilidade, nos casos citados. Primeiro, é preciso avaliar se é possível preservar um dos ovários. Em caso positivo, há chances de a gravidez futura acontecer naturalmente, uma vez que existe um processo compensatório. Em vez de os ovários se revezarem, um deles vai cumprir a função todos os meses.
Em caso negativo, ainda há duas opções:
-se a cirurgia de retirada dos ovários não for realizada de forma emergencial e houver um prazo de no mínimo quinze dias até o procedimento, é possível estimular a ovulação em qualquer fase do clico menstrual, retirar os óvulos e guardá-los, congelados, em um banco;
-caso, no entanto, não haja tempo, existem técnicas, ainda consideradas experimentais, em que fragmentos do tecido ovariano são preservados. De acordo com Selmo Gerber, os resultados não são tão bons quanto a opção anterior. “Embora haja outros relatos indicados na literatura médica, considero que até hoje só houve um caso de gravidez por meio dessa técnica, até hoje, no mundo todo”, completa o especialista em reprodução assistida.
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Reposição
Além do medo da infertilidade, outro fantasma ronda a cabeça da mulher que precisa retirar os ovários – a menopausa precoce, e junto com ela vários medos, como a falta de libido. A reposição hormonal deve, no entanto, ser avaliada caso a caso. “Embora a reposição para a mulher que está na menopausa seja assunto controverso e ainda esteja sob discussão, ela pode ser recomendada para as mulheres que passam por uma ooforectomia (retirada do ovário) antes dos 50 anos. O objetivo é minimizar os efeitos da falta de estrogênio, que acontece muito antes da hora em que ocorreria naturalmente”, esclarece o médico.
A terapia, no entanto, pode ser contraindicada para mulheres com histórico de câncer de mama ou endométrio, trombose, distúrbios de coagulação sanguínea, infarto e sangramento genital de causa desconhecida. Embora não haja uma resposta universal, muitas mulheres podem ser beneficiadas pela terapia hormonal após a retirada dos ovários. O segredo é que ela seja feita com critério e acompanhamento médico.