O artista brasileiro é um exemplo que revela um dos principais mitos em relação à enfermidade: por ser uma doença neurodegenerativa e progressiva, muitas pessoas acreditam que não há nada a se fazer, só esperar. O neurologista Henrique Ballalai Ferraz, professor da da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e especialista em Distúrbios de Movimento, explica que o transtorno motor, quando bem tratado e acompanhado, pode ter os sintomas revertidos e permitir que o paciente desempenhe suas atividades normalmente, incluindo a capacidade de trabalhar e de morar sozinho.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o mal atinge de 1 a 2% da população acima dos 65 anos. No Brasil, as estatísticas sobem para 3,3% entre pessoas com mais de 70 anos. Além dos tremores, a doença causa lentidão de movimentos, rigidez muscular, desequilíbrio, alterações na fala e na escrita. “Entretanto, nem todo tremor é sinal de Parkinson e nem todo Parkinson se manifesta em forma de tremor. A progressão é muito variável e se apresenta de formas diferentes em cada caso”, explica Ferraz.
A assustadora tremedeira nas mãos, embora seja realmente considerada um dos primeiros sinais da doença, pode indicar, entre outros problemas, o tremor essencial - enfermidade completamente diferente. Esse outro distúrbio do movimento é muito comum entre os idosos, mas tem tratamento e causas diversas do Parkinson. Muitas vezes, nem precisa ser tratado de forma específica.
Primeiros sinais e mitos
Além do tremor, um dos primeiros sinais de alerta é a lentidão dos movimentos. Essa dificuldade se manifesta até nas ações mais simples, como se levantar de uma cadeira ou abotoar uma camisa, por exemplo. Essa característica ajuda a reforçar um outro mito a respeito da doença - o parkinsoniano é tratado como preguiçoso ou deprimido. “A família costuma recorrer primeiro a um psicólogo, para tentar conseguir que o paciente fique mais estimulado a desempenhar as atividades do dia a dia. Mais tarde, descobre-se que a razão do 'desânimo' era outra”, pondera o professor da Unifesp.
O desconhecimento a respeito da doença pode afetar a agilidade do tratamento. “Quando ouvem que a doença não tem cura e vai progredir, muitos desistem antes mesmo de tentar. Mas o acompanhamento pode devolver a qualidade de vida à pessoa com Parkinson e permitir que ela participe da vida familiar e profissional sem restrições”, reforça Ferraz. É importante deixar claro que a doença não afeta a memória, nem a capacidade intelectual do portador.
Causas e tratamento
Apesar de ser uma das doenças neurológicas mais recorrente – e cada vez mais frequente, em virtude do envelhecimento da população - a causa do Parkinson ainda não é totalmente conhecida. Mais comum a partir dos 60 anos, em casos raros pode aparecer antes – o ator canadense Michael J. Fox recebeu o diagnóstico na faixa dos 30 anos.
Descrito pela primeira vez ainda no século XIX pelo médico James Parkinson, sabe-se que o mal é caracterizado pela degeneração das células dopaminérgicas do cérebro. A dopamina que seria produzida por esses neurônios é encarregada de transmitir informações às áreas cerebrais que comandam os movimentos. Se ela faltar, portanto, pode haver uma falha no mecanismo. Algumas pesquisas indicaram ainda um vínculo com a presença anormal de radicais livres no organismo, que pode ser causada por fatores genéticos e ambientais - desde o estilo de vida até a exposição a pesticidas e à poluição.
Até mesmo pela longevidade crescente da população, há um investimento crescente em pesquisas que investigam a causa e buscam a cura, inclusive por meio das células tronco. "Por outro lado, em outras linhas de estudo, os medicamentos evoluíram muito e provocam menos efeitos colaterais. Ainda que a cura não exista, hoje já é possível manejar o problema de forma muito mais avançada e melhor para o paciente”, considera o especialista.
A droga levodopa, no mercado desde os anos 1960, ainda é a mais utilizada na terapia do Parkinson, repondo a dopamina perdida. Em alguns casos, para evitar o aparecimento de efeitos colaterais precocemente, o tratamento é iniciado com medicamentos menos potentes, chamados agonistas da dopamina. Existe ainda a possibilidade de cirurgia, no caso de o paciente não responder bem à ação medicamentosa. Ainda assim, as técnicas não são curativas, apenas aliviam os sintomas.
Os trabalhos científicos indicam também que a vontade do paciente e sua determinação para superar as limitações parece interferir diretamente nos resultados. E também na produção da dopamina em si. “A atividade física regular, mesmo que seja uma caminhada, é fundamental tanto na prevenção quanto no tratamento. A fisioterapia e a fonoaudiologia também ajudam no controle dos sintomas. Lidar bem com os desafios e se dedicar a essas atividades são posturas muito importantes e benéficas”, define Henrique Ferraz.
O próprio Paulo José é um exemplo disso. Ele pratica natação, dedica-se à escrita, voltou a tocar piano e faz sessões diárias de fonoaudiologia e fisioterapia. Embora confesse que já se sentiu deprimido em dias mais difíceis, ele diz que sua luta diária é para manter o Parkinson como um coadjuvante, e não protagonista. Para mais informações, acesse: www.parkinson.org.br