A comercialização de um potente novo analgésico nos Estados Unidos tem gerado polêmica entre médicos e grupos de defesa do consumidor, que temem o agravamento da crescente dependência de opiáceos, responsável por 125.000 mortes por overdose no país nos últimos 10 anos. O remédio Zohydro, do laboratório Zogdnix, foi aprovado pela FDA (agência reguladora de medicamentos norte-americana) em outubro de 2013.
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"Aprovar um medicamento que vai agravar o problema do vício é muito chocante", disse o médico Andrew Kolodny, presidente da Associação de Médicos pela Prescrição de Opiáceos de Maneira Responsável, que assinou a petição.
Círculo vicioso
A FDA "determinou que o Zohydro ER respeita nossos requisitos reguladores e que seus benefícios superam os riscos quando usado da maneira correta", garantiu um porta-voz da FDA em e-mail enviado à AFP. Analgésicos como o Zohydro são perfeitos para o tratamento da dor poucos dias depois de uma cirurgia ou em pacientes com doenças terminais, como câncer, que estão em sofrimento, explicou Kolodny.
Mas estes opiáceos "são medicamentos muito ruins" para as pessoas com dores crônicas, como dores nos ombros ou enxaquecas, explicou o médico, que ressaltou que 100 milhões de norte-americanos se encaixam nesta categoria, principal alvo dos laboratórios farmacêuticos. Estima-se que este mercado movimente 9 bilhões de dólares nos Estados Unidos.
Em outubro, o jornal Washington Post publicou uma série de e-mails mostrando que as empresas farmacêuticas pagaram dezenas de milhares de dólares a alguns centros médicos universitários para assistir a reuniões internas da FDA durante as quais foram decididos os critérios de aprovação de novos analgésicos, lembrou Kolodny.
Dois senadores norte-americanos iniciaram uma investigação e convidaram a FDA a dar maiores explicações sobre seus motivos numa carta conjunta enviada em 26 de fevereiro, em que descrevem a acusação como "muito preocupante". Em comunicado, a FDA disse "levar essas preocupações muito a sério", mas afirmou "não ter conhecimento de nenhuma irregularidade".