Ciência alcança sobrevida longa mesmo quando não há cura para o câncer

Conheça a história de quatro pessoas contam como convivem - muitas vezes, de forma até harmoniosa - com a doença

por Flávia Duarte 07/03/2014 09:00

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CB/D.A Press
Ana Alice Carvalho, 47 anos, convive há 12 anos com o câncer. O tumor começou no intestino grosso e foi descoberto em estágio avançado. "Nunca deixei cair uma lágrima por causa da doença", diz (foto: CB/D.A Press)
A notícia do diagnóstico de um câncer ainda dilacera a alma. A do paciente e a daqueles que o amam. A associação da doença à dor e à interrupção de sonhos ainda é intrínseca. Enfrentar a multiplicação insana de células enfermas significa, muitas vezes, se lançar numa luta em que não é possível prever qual será o tamanho das feridas e quem saíra vencedor no final. Se não há garantias, a tentativa é de, ao menos, fazer as pazes com esse adversário e conviver pacificamente com ele. Sim, a cronificação do câncer é uma das possibilidades reais do presente, com expectativa crescente de aumento das chances de controle da doença no futuro — próximo, diga-se —, nos casos em que a identificação do tumor chegou tarde demais ou para aqueles tipos que ainda driblam os saberes da ciência. Em um cenário otimista, e atualmente possível, seria viável dominar seu crescimento como se monitora o diabetes ou a hipertensão, por exemplo.

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Conheça histórias de quem vive com a doença há décadas

 

Parte desse sentimento de temor, incerteza e angústia diante da confirmação da doença é resultado de desconhecimento sobre esse inimigo ainda tão ardiloso. As pessoas não sabem, porém, que as estatísticas são promissoras e boa parte dos cânceres hoje são curáveis se diagnosticados a tempo de a medicina controlá-lo. Diretor-geral e especialista em Oncologia do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês, Paulo Hoff tranquiliza corações aflitos ao afirmar que “60% do casos de câncer têm cura”.

O lamento, no entanto, é que outra parcela desse pavor é completamente justificável. Cerca de 60% a 70% dos diagnósticos das neoplasias no nosso país são feitos tardiamente, o que reduz as chances de eliminar de vez o problema. Exames preventivos, como papanicolau, exame de toque retal, colonoscopia e mamografia podem identificar os sinais da doença nos primeiros estágios, mas muitas vezes são negligenciados ou não se tem a chance de fazê-los.

Nesses casos, quando vem a descoberta, a luta passa a ser por amenizar os danos, controlar a doença e oferecer ao paciente o prolongamento da vida sem esquecer a qualidade da nova rotina, que implica ciclos de diferentes quimioterápicos, exames, cirurgias. “O Brasil, do ponto de vista tecnológico, está atualizado em relação à maioria dos países do mundo. O problema é a concentração de acesso aos tratamentos a certas camadas da população”, lamenta Luiz Antonio Santini, diretor-geral do Instituto Nacional de Câncer (Inca).

O mal é prevenível. “Sabemos de forma muito clara que, se tomadas as medidas preventivas adequadas, evitamos até 50% dos casos atuais de câncer”, considera o médico Carlos Barrios, do Instituto do Câncer do Hospital Mãe de Deus e professor do Departamento de Medicina Interna da Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). E as formas de cuidar do corpo para evitar o aparecimento de tumores já são bem conhecidas: parar de fumar; tomar vacinas, como a que evita o HPV e hepatite B; moderar o consumo de álcool; cuidar do peso e evitar exposição ao sol são algumas delas.

“Sabemos que o tabagismo é responsável por 30% das mortes por câncer”, alerta Anderson Silvestrini, oncologista clínico do Grupo Acreditar e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica. O controle da dieta também evita a recidiva da doença. “Dois estudos suecos mostram ainda que pacientes operadas de câncer de mama que perderam 10% do peso e mantiveram o IMC (índice de massa corporal) adequado diminuíram cerca de 20% as chances de recidiva”, acrescenta.

Ainda assim a doença vai acometer cerca de 576 mil pessoas em 2014, segundo dados divulgados pelo Inca na última semana. A maioria deles (182 mil) serão diagnósticos de câncer de pele não melanoma; seguido pelo de próstata (69 mil); mama (57 mil); cólon e reto (33 mil); pulmão (27 mil), estômago (20 mil) e colo de útero (15 mil). Além de outros tantos, mais raros, mais agressivos e com tratamentos incipientes. O final do percurso pelo combate à doença vai depender de uma série de fatores que vão determinar os sobreviventes (curados ou não) entre essas quase 600 mil pessoas que, este ano, terão câncer.

“Temos as fases de prevenção, diagnóstico, tratamento e recorrência da doença. Na etapa do tratamento, podemos oferecer o tratamento com a cura; o tratamento ativo com o controle e o aumento da expectativa de vida ou o tratamento com controle dos sintomas e aumento da qualidade de vida”, esclarece o oncologista clínico do hospital A.C.Camargo Cancer Center, Aldo Lourenço Dettino.

"O Brasil, do ponto de vista tecnológico, está atualizado em relação à maioria dos países do mundo. O problema é a concentração de acesso aos tratamentos a certas camadas da população” - Luiz Antonio Santini, diretor-geral do Instituto Nacional de Câncer (Inca)

Armas contra a doença

Vacina anticâncer:
Expõe o paciente a um antígeno (substância que, introduzida no organismo, provoca a formação de anticorpos). Assim, o sistema imune é estimulado a ficar mais ativo para “caçar” o tumor.

Antiangiogênica:
Atuação no bloqueio da formação de novos vasos sanguíneos responsáveis pelo crescimento e suprimento dos tumores.

Imuno-oncologia:

Estimula o sistema imunológico do paciente para enfrentar o câncer.

Inibidores da transdução de sinal:

Interrompem os sinais anormais de crescimento e proliferação entre células cancerosas.

Citotóxicos/potencializadores:
Exploram os agentes com ação direta sobre a célula tumoral, provocando sua morte ou potencializando essa ação causada primariamente por outros agentes quimioterápicos.

Fonte: Pfizer.