Dois candidatos a maiores vilões da saúde do século XXI voltaram a capitalizar mentes e corações em 2014, graças a vídeos e entrevistas que condenam os já execrados Bisfenol A (ou BPA) e o xarope de milho rico em frutose. Nesta matéria, dividida em duas seções, conversamos com o endocrinologista pediátrico Rafael Mantovani para saber quanto há de 'terrorismo' e de realidade nos posts exaustivamente compartilhados em redes sociais. Não perca, amanhã, a segunda parte!
Um vídeo da organização PuraEco Integral Wellness, empresa sediada no Canadá com filiais no Brasil, Argentina e Estados Unidos, afirma categoricamente: o xarope de milho de alta frutose deve ser cortado totalmente da alimentação, principalmente das crianças. Caso contrário, “essa será a razão pela qual seu filho morrerá mais cedo que você”, confira:
O xarope de milho de alta frutose é muito comum nos Estados Unidos, país em que o adoçante derivado do cereal é muito mais barato do que aquele proveniente da cana-de-açúcar ou mesmo da beterraba. “O corn syrup ou high frutose corn syrup é um alimento pré-processado altamente disseminado em solo norte-americano. Ele é acusado há alguns anos de ser pior que o açúcar da cana ou do que o mel, por exemplo, mas o problema é, na verdade, o excesso”, explica Rafael Mantovani.
De acordo com o médico, boa parte do que é dito sobre o xarope é especulação que ainda carece de comprovação científica. Independentemente disso, não adianta restringir o consumo de xarope de milho de alta frutose, até mesmo porque ele é pouco utilizado no Brasil, e manter o alto consumo de açúcar comum. “Criança com menos de 2 anos não deveria nem saber que açúcar simples existe, Mas o que nós mais vemos são os pequeninos com balas e pirulitos”, pondera o pediatra. “Se uma pessoa disser que o xarope ou mesmo o açúcar é o grande vilão da saúde infantil, não podemos dizer que ela está totalmente errada. Mas não existe um único vilão ou um só salvador. É preciso melhorar nossa alimentação como um todo”, completa Mantovani.
As acusações contra o xarope de milho ganharam força há dez anos, em 2004, quando um artigo científico publicado no ‘American Journal of Clinical Nutrition’ fazia relação entre o aumento de taxas de obesidade nos Estados Unidos e o consumo de bebidas adoçadas com o produto. Alguns anos mais tarde, em 2010, o principal autor do trabalho, George A. Bray, disse em entrevista que o estudo referia-se ao consumo de todas as bebidas adoçadas; e não só ao xarope de milho. “Açúcar é açúcar. Absorvido em quantidade maior que a ideal, será prejudicial. O enfoque distorcido acabou indo para o xarope porque seu consumo estava crescendo naquele momento na sociedade americana”, disse o pesquisador e professor de medicina do Centro de Pesquisa Biomédica Pennington (Louisiana).
Também em 2010, pesquisadores de psicologia da Universidade de Princeton divulgaram os resultados de experiências realizadas em ratos, indicando que o xarope de milho geraria maior ganho de peso do que a sacarose, devido à forma como é metabolizado no organismo. O trabalho foi classificado como inconsistente, uma vez que parte das coabias não acompanhou o ganho de peso descrito.
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Mas, do ponto de vista médico e científico, não existe uma verdade absoluta. “O que existe, na realidade, é uma orientação sobre o consumo em excesso de alguns produtos e também sobre a hora certa de apresentar determinados alimentos. Nosso problema não é só o açúcar. Crianças muito novas já têm contato com refrigerantes, alimentos gordurosos e proteínas de baixo valor biológico, como gelatina, nuggets, hambúrgueres, salsichas e outros embutidos, só para citar alguns exemplos. E essa conduta, que hoje pode se manifestar de forma silenciosa, poderá ter consequências graves para o futuro da criança, como obesidade, diabetes e outros problemas metabólicos”, completa o endocrinologista.
Dica: fique de olho nos rótulos dos alimentos – inclusive nas lanchonetes; evite, tanto quanto puder, produtos industrializados; e consulte o pediatra para saber qual a alimentação ideal para a criança em cada fase da vida.
Amanhã você lê aqui no Saúde Plena: Plástico que parece brinquedo, mas é assassino?