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O projeto cresceu e hoje atende crianças de 6 a 13 anos. “Temos sido procurados por famílias de crianças com problemas na escola ou que têm síndrome de Asperger. Os bichanos transmitem confiança a eles, porque não se sentem julgados enquanto leem, quando erram alguma palavra ou ficam em dúvida”, explica Rodriguez. Por trás dessa fofura toda, no entanto, está uma já reconhecida habilidade felina (e também de outros animais de estimação) em promover a socialização e facilitar a comunicação de crianças – desde aquelas que são apenas tímidas até as portadoras de autismo e mutismo seletivo.
Mutismo seletivo? Se você nunca ouviu falar, é compreensível. Apesar de duas vezes mais comum que o autismo, esse transtorno infantil é pouco conhecido, inclusive pelas autoridades, pelos profissionais de saúde e de educação. E este é o tema do livro 'Os gatos nunca mentem sobre o amor', escrito por Jayne Dillon. Obviamente, por mais que pareça o contrário, a publicação não é sobre gatos. Jessi-cat, a felina à qual o título se refere, só vai entrar realmente na história lá pela página 73 da edição brasileira. A obra, de linguagem simples e agradável, concentra-se, na verdade, em um problema que no Brasil conta com pouquíssimos estudos. Dentro desse espectro reduzido de pesquisadores, está a psicóloga Elisa Maria Neiva de Lima Vieira, de Sorocaba (SP), que ouviremos mais adiante.
A própria Jayne, que é mãe de Adam, hoje com 27 anos; Luke, de 13; e Lorcan (nome de origem irlandesa que quer dizer ‘guerreiro impetuoso’), hoje quase completando 11 anos, abre seu livro explicando o que é mutismo seletivo, antes de fornecer qualquer informação sobre a história que está por vir:
“Mutismo seletivo é um transtorno de ansiedade infantil. As crianças afetadas por ele falam fluentemente em algumas situações, mas permanecem caladas em outras. Sabe-se que a condição manifesta-se precocemente e pode ser transitória – mas em casos raros, pode persistir durante toda a vida escolar da criança. Ainda que se comuniquem de maneira não verbal, essas crianças não falam com seus professores e podem até permanecer caladas com seus colegas. (...) Com frequência, a criança não tem qualquer outro problema identificável e conversa livremente em casa e com amigos próximos. Ela também pode ter progressos adequados à idade na escola em áreas que não exigem a fala”
A autora acrescenta que são crianças sensíveis, mas, ao mesmo tempo, com dificuldade de expressar seus sentimentos. Geralmente sorriem pouco e, quando o fazem, estão denunciando sua ansiedade diante de alguma situação social. Este é o caso do pequeno Lorcan. No início do livro, o encontramos com 8 anos, fazendo seu primeiro discurso para a classe – algo que apenas dois anos antes seria totalmente impossível. O tema escolhido para a apresentação foi Jessi, a gatinha que, um ano antes, havia sido o alvo do primeiro “eu te amo” da vida de Lorcan.
Antes de alcançar este estágio, em que o filho caçula estava perto de ganhar um diagnóstico mais preciso, a autora descreve todas as angústias pelas quais passou, mesmo tendo uma postura muito prática diante da vida. Até chegar a “certo, temos um problema. Vamos em frente lidar com isso, então”, Jayne e seu marido, David, escalaram alguns degraus. Até os 2 anos, o comportamento do garoto, sempre calado com estranhos, mas falante em casa, era considerado normal, apenas tímido. “Como mãe, você não dá importância. É só quando isso persiste que se torna um problema (...) Sempre orientamos nossos filhos a não falarem com estranhos, então isso pode ser perfeitamente normal”. Apesar de ouvir “isso passa com a idade”, quando Lorcan completou 3 anos e ingressou na pré-escola, as preocupações aumentaram.
Foram anos e anos até conseguir uma consulta com um especialista. "Mas ficar sentindo pena de mim mesma não vai ajudar", dizia a autora. Ao longo do livro, ela conta a ‘cisma’ com a possibilidade de o caçula repetir a condição do mais velho, Adam, diagnosticado com Síndrome de Asperger, que faz parte do especto do autismo. A identificação do problema de Adam, no entanto, só veio muito tardiamente, quando ele tinha 18 anos. E este é exatamente o tipo de distúrbio que exige uma intervenção o mais precoce possível. "Você sempre ouve falar sobre a necessidade de intervenção precoce. Mas como ela pode acontecer?", se pergunta Jayne a uma certa altura, revoltada com a burocracia e a lentidão do sistema de saúde e educação inglês.
Ela toca também em um assunto delicado para europeus e norte-americanos: a suspeita de que a vacina tríplice contra sarampo, caxumba e rubéola estaria relacionada a casos de autismo no Reino Unido. Um artigo publicado na revista especializada Lancet em 1998 - e desconsiderado pela comunidade científica logo depois - provocou pânico. Casada com um médico e ela mesma profissional de saúde – Jayne é auxiliar obstétrica – a escritora relata que os três filhos tomaram todas as vacinas e que, ainda assim, tem certeza que os dois diagnosticados com sídromes relacionadas ao autismo já davam sinais do problema desde muito novos, mesmo antes de serem imunizados, descartando qualquer vínculo entre uma coisa e outra.
Suspeitas
As suspeitas da autora a respeito do diagnóstico do filho – para ela, Lorcan não tinha ‘apenas’ mutismo seletivo – foram aumentando com a idade e com alguns sinais, como a recusa em receber e dar carinho, além de vários constrangimentos causados pelo fato de ele levar tudo ao pé da letra e ser também literal para falar. Tanto que um dos livros preferidos do garoto na primeira infância era “Beijinhos não dou”, de Júlia Jarman, que conta a história de Jamie, um menino que é obrigado a conviver, a contragosto, com beijos e mais beijos de uma família enorme. O outro era, sem surpresa, a série Mog, de Judith Kerr, que apresenta as aventuras de um gato em diversas situações.
Para não entregar o livro inteiro, a grande luz lançada pela obra desta mãe inglesa é sobre o ignorado mutismo seletivo, que afeta 6 em cada mil crianças, em média – quase duas vezes a proporção do autismo na população. “Mas muitos médicos não têm qualquer conhecimento e os professores não estão preparados para lidar com isso. Encontrei ao longo da minha caminhada várias pessoas que simplesmente lavaram as mãos e passaram o problema para frente”, relata a autora. Mas encontrou também algumas outras pessoas muito empenhadas em ajudar Lorcan e, é claro, Jessi, uma gatinha sociável e tranquila que não se importava se o comportamento do menino estava dentro dos padrões – assim como os gatinhos do abrigo norte-americano.
Reconhecido na primeira metade do século passado como uma desordem da infância, as complicações geradas pelo mutismo seletivo podem ser simples, como a dificuldade para pedir para ir ao banheiro ou dizer que se machucou na escola. Apesar disso, geralmente são crianças que querem se comunicar com olhares ou sinais - o que não acontece em muitos casos de autismo.
Mas, segundo a psicóloga Elisa Neiva, que mantém algumas páginas no Facebook para tentar divulgar a pauta do mutismo seletivo no Brasil, uma pessoa pode ter o diagnóstico de MS na infância e permanecer assim até a vida adulta. “No adulto, a condição pode parecer apenas uma seleção muito criteriosa de contatos e vínculos. Obviamente, não é o que se espera de nossa conduta social, mas se a pessoa permanecer bem consigo mesma e com a vida, tem que ser respeitada”, esclarece. De acordo com Elisa, o paciente com MS quando adulto tem muito claro o que pode perder ou ganhar caso não supere esta situação. “Embora não exista uma categorização oficial de graus de mutismo seletivo, se a condição persistir, acredito que é mais severa e requer cuidados por toda a vida”, aponta.
A psicóloga explica que o mutismo seletivo, embora possa ter sintomas muito parecidos com o autismo, é um transtorno bem diferente. “O que os torna próximos é que tanto uma criança autista, como uma criança com mutismo seletivo, têm sérias dificuldades de contato, seja ele físico ou verbal”, esclarece a pesquisadora.
Segundo Elisa Neiva, é necessário que o psicólogo tenha bons subsídios técnicos para poder elaborar um diagnóstico diferencial. “Muitas vezes, o trabalho com mutismo seletivo nos impede de usar qualquer tipo de material em que a criança precise falar. Considero de extrema importância as entrevistas iniciais feitas com os pais, a observação da hora terapêutica e o contato com a escola”, pondera.
Ao contrário do Reino Unido e dos Estados Unidos, em que há associações nacionais específicas para reunir pais de crianças com MS, no Brasil não existe uma entidade que dê suporte psicossocial ao paciente e sua família. As iniciativas, como as da própria Elisa Neiva, estão online. Não há, também, nenhum programa que considere a adequação de crianças com MS em escolas públicas. No entanto, segundo especialistas, programas desenvolvidos individualmente podem ser implantados no ambiente escolar regular. Assim como Jayne Dillon relata no livro, geralmente as crianças com o distúrbio passam por ‘quietinhas’ e não ‘incomodam ninguém’ na sala de aula, o que que resulta na demora da intervenção.
Animais-terapeutas
Outro ponto trazido pela psicóloga brasileira é que o mutismo seletivo não é um distúrbio da fala. “Do meu ponto de vista, é uma 'condição transitória' na vida de uma criança ou adolescente, que apresentam graus elevados de ansiedade e outras comorbidades associadas. A estória de vida de pais e crianças nos revelam que aquilo que os pequenos calam com os lábios, mas expressam-se com gestos ou atitudes e até mesmo com o funcionamento de seus órgãos”, define a pesquisadora.
A escola, segundo Elisa Neiva, é um elo fundamental para o sucesso do tratamento de uma criança com MS. “Ela nos dá quase todos os subsídios para um bom e adequado diagnóstico. Se a instituição de ensino for aberta, receptiva, as trocas de conhecimento com os profissionais envolvidos já são responsáveis por 50% do sucesso do trabalho”, ressalta.
O uso da Terapia Assistida por Animais (TAA) é também extremamente valioso. “Nos casos em que eu atendo, busco sempre fazer a junção da psicoterapia, terapia medicamentosa após avaliação e conduta psiquiátrica e a equoterapia, em que o paciente é acompanhado por uma equipe multiprofissional e mantém contato com o cavalo preparado para esta prática”, exemplifica.
O animal funciona como um polo condutor da comunicação e tem função terapêutica comprovada cientificamente. “Em minhas entrevistas de diagnose eu sempre incluo o animal de estimação da criança, pois, sem dúvida alguma, ele é um facilitador para a comunicação. Caso a família não tenha um, aconselhamos a adotar ou adquirir, dentro de suas possibilidades”, orienta.
Elisa Neiva completa que este aspecto deve, no entanto, ser muito bem pensado. “De nada vale ter um cachorro ou um gato pensando que ele será mágico no tratamento das crianças e adolescentes. O importante é o afeto que se estabelece entre a criança e o animal, a criança e a família e destes com o animal.
Em “Os gatos nunca mentem sobre o amor”, Jayne Dillon relata que, quando Lorcan disse 'eu te amo' pela primeira vez, ela não se importou que o filho não tenha direcionado a frase à mãe. Jayne sabia que ele a amava, mas demonstrava isso de outras maneiras. A autora conta que ficou, na verdade, extremamente realizada pelo fato de a criança estar conseguindo expressar um sentimento real e sentir empatia pelo outro, coisa que era muito difícil para o caçula. "Ninguém pode viver guardando todos os sentimentos para si. Jess fez com que ele encontrasse de novo sua voz", desabafa.
O trabalho em equipe deve envolver a família, que pode contribuir para diminuir angústias e ansiedades. “Uma família bem informada pode tomar uma atitude positiva, de enfrentamento do problema. Abandonar a negação significa sair da inércia, reduzir o preconceito e desenvolver uma condição mais saudável para a criança”, define Elisa Neiva. Jayne conseguiu, aos poucos, com a ajuda de amigos, políticos e da 'fama' obtida após a premiação nacional que Jessi-cat ganhou por sua parceria com Lorcan - os dois se tornaram mini-celebridades - montar um grupo de orientação a pais de crianças com mutismo seletivo e autismo. "Fico me perguntando quantas outras mães estão literalmente sofrendo em silêncio e sem receber apoio", questiona.
Veja no vídeo abaixo, da entidade que conferiu a Jessi-cat o prênio de 'gato do ano', a interação entre Lorcan e o bichinho:
As causas do mutismo seletivo são variadas, envolvendo mais de um fator – genéticos, ambientais e situações traumáticas, como separações, superproteção, mortes na família, pouco envolvimento paterno e situações de violência, por exemplo. Esses indícios não são, no entanto, definitivos, uma vez que há poucos estudos realizados sobre essa condição. Os primeiros sintomas são geralmente percebidos entre um a três anos de idade e incluem:
- timidez;
-acessos de birra e de tristeza;
-excesso de rigidez ou perfeccionismo, mesmo em crianças novas;
-dificuldade de fazer contato olho no olho;
-Não falar em situações sociais específicas, em que haveria expectativa de comunicação verbal, como na escola. Entretanto, a criança fala em outras situações e pode ter desempenho escolar dentro da média;
- o comportamento interfere no desempenho social;
-condição dura no mínimo um mês e este período não é limitado ao primeiro mês de escola –quando é comum que muitas crianças fiquem tímidas, não sendo caracterizado mutismo seletivo;
-o não-falar não está vinculado à falta de conhecimento sobre o idioma, numa situação de mudança de país, por exemplo; e também não está vinculado à gagueira;
-em alguns casos, há características físicas semelhantes entre os portadores de mutismo seletivo, que geralmente são crianças magrinhas, franzinas.
Os autores Bruna Antunes de Aguiar Ximenes e Geraldo José Ballone, afirmam, em seu artigo 'Mutismo Seletivo', de 2009, que atualmente existem muitas críticas quanto ao uso do termo, pois passaria a falsa ideia que a criança escolhe propositalmente não falar, por algum tipo de rebeldia.
Na verdade, ela não se sente segura para se comunicar em determinados espaços e situações – inclusive na terapia, cujo progresso pode demandar anos. A literatura médica atual também hesita na classificação do MS, variando entre "problemas de comunicação" e "estados de ansiedade" vivenciados pela criança.
Para mais informações, acesse: Mutismo Seletivo e Mutismo Seletivo Brasil
Para quem tem interesse em saber mais sobre a influência positiva de animais na superação de problemas graves e também sobre o enfrentamento do autismo em suas variadas modalidades, Saúde Plena indica:
Os Gatos Nunca Mentem Sobre o Amor. Autor: Dillon, Jayne / Editora: Universo dos Livros - R$25,50
Lagarta vira Pupa - Blog criado pela Andréa, brasileira radicada em Londres que é mãe de Theo, de 5 anos: ele é grandão, esperto, inteligente, carinhoso, beijoqueiro…e autista. Imperdível para todos os pais. https://lagartavirapupa.com.br/