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De acordo com dados recentes da entidade, o estado que menos fez cirurgia de redução no estômago pelo SUS até setembro foi a Paraíba, com apenas um paciente operado. Por outro lado, o campeão de procedimentos foi o Paraná, com 2.318. Em Minas Gerais, foram feitas 159 (veja quadro). Segundo avaliação de Almino, com os 8 milhões de brasileiros obesos esperando para entrar no bloco cirúrgico, não é fácil para o SUS absorver tudo isso. “Em alguns centros para o procedimento a espera é de meses, mas em outros pode chegar a anos. Há quem morra na fila”, reconhece.
Várias pessoas com o grau mais severo da doença, o 3, ouvidas pelo Estado de Minas na série “Muito além do peso”, que começou no domingo e termina hoje, estão à espera da intervenção cirúrgica e dizem que, só assim, acreditam que poderão ter uma vida novamente. A maioria já está na fila do SUS há mais de 10 anos e conta que, à medida que o tempo passa, ganha mais peso, perdendo as esperanças de ser atendida. Os especialistas apontam vantagens no procedimento, mas alertam que, se não houver acompanhamento clínico completo depois da cirurgia, é provável que o obeso volte a ter o peso que tinha antes. Para ter ideia desse risco, de acordo com dados da SBCBM, de 10% a 12% dos operados não emagrecem. “A intervenção cirúrgica está dentro de um programa de emagrecimento, de reeducação alimentar”, avisa Almino.
De acordo com ele, não é todo obeso com grau 3 que tem a cirurgia indicada. O primeiro tratamento de uma pessoa nessas condições é o procedimento clínico, com reeducação alimentar, psicólogo, psiquiatra, atividades físicas e, em muitos casos, medicação. “Se essa pessoa não conseguir e tiver problemas de saúde, como diabetes ou hipertensão, a cirurgia é indicada. Mas é importante que todos saibam que o método é uma ponta do tratamento, não é para emagrecer, é para tratar das doenças”, avisa Almino.
A cirurgia representa, segundo a entidade, 50% do resultado do tratamento da obesidade e a promessa é da perda de 30% a 40% do peso. Existem vários tipos de cirurgia (veja quadro), mas, de acordo com Almino, eles são reduzidos basicamente a dois: redução de estômago e outros procedimentos, que, além do estômago, intervêm no intestino. As mais modernas chegam a custar de R$ 20 mil a R$ 50 mil. Atualmente, de acordo com Almino Ramos, os planos de saúde têm feito a cobertura do procedimento quando o paciente recebe a indicação para operar. Mas, antes de entrar para o bloco cirúrgico, há uma preparação para que a cirurgia ocorra.
FANTASIA
No Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC/UFMG), em Belo Horizonte, antes da cirurgia, o paciente passa por vários atendimentos. Segundo conta Emma Castro, psicóloga, psicanalista e professora do Departamento de Psicologia da UFMG, de tanto esperar pelo método, muitos obesos chegam para o procedimento estressados. A cirurgia no HC/UFMG é feita desde 1994 e, segundo Emma, nos últimos anos tem aumentado a quantidade de operados. “Os pacientes são encaminhados pela Secretaria Municipal de Saúde de cada cidade. São, geralmente, 60 obesos atendidos no ambulatório por mês”, conta.
O grande problema é o pós-cirúrgico. “Na área psicológica, a gente só libera o paciente para o procedimento quando ele está apostando em si mesmo. Mas muitos não aparecem no tratamento, que deve continuar, ele não termina quando é feita a cirurgia”, comenta. “Como acham que estão bem, porque estão emagrecendo, demoram três anos para voltar a nos procurar e, quando procuram, muitos estão acima do peso novamente”, acrescenta.
O que é
A cirurgia bariátrica e metabólica – também conhecida como cirurgia da obesidade, ou, popularmente, redução de estômago – reúne técnicas com respaldo científico destinadas ao tratamento da obesidade e das doenças associadas ao excesso de gordura corporal ou agravadas por ele. O conceito metabólico foi incorporado há cerca de seis anos pela importância que a cirurgia adquiriu no tratamento de doenças causadas, agravadas ou cujo tratamento/controle é dificultado pelo excesso de peso ou facilitado pela perda de peso – como o diabetes e a hipertensão –, também chamadas de comorbidades.
Retorno é essencial
O problema não é particularidade dos pacientes do Sistema Único de Saúde. De acordo com o diretor técnico do Instituto Mineiro de Obesidade e Cirurgia, René Berindoague, os operados do sistema privado cometem o mesmo erro. Em Belo Horizonte, são feitas cerca de 30 operações de redução gástricas por dia. “No ano passado, o Hospital Life Center, na capital, esteve entre os cinco que mais operaram casos de obesidade no Brasil”, destaca Berindoague. Segundo ele, o grande problema está no retorno dos pacientes.
“A cirurgia é o maior passo que o paciente pode dar, mas ele é parte de um tratamento. Depois da cirurgia, as pessoas têm que seguir as visitas agendadas pela nossa equipe. Muitas vezes, essas consultas são trimestrais, com psicólogos, nutricionistas e outras especialidades. Mas muitos pacientes do interior não voltam; às vezes, chegam a vir apenas uma vez no ano. Cerca de 70% dos pacientes que não retornam às consultas das equipes voltam a ganhar peso”, acrescenta, referendando o mesmo cenário vivido no Hospital das Clínicas da UFMG.