Para esse caso, a palavra-chave é segurança. Selecionar os amigos que vão ver as imagens postadas, excluir desconhecidos do grupo de amigos ou não deixar informações de onde mora ou onde estuda a criança são dicas dos especialistas, que alertam: quando a segurança de um filho está ameaçada, não existe avanço tecnológico que seja bom.
A psicóloga, psicopedagoga e professora Patrícia Alvarenga faz parte do universo de internautas que postam fotos de seus filhos no mundo on-line. Porém, Patrícia não peca pelo exagero. Seu filho Natan, de 8 meses, tem poucas fotos na página da mãe. “Coloquei a do batizado dele e de quando ele nasceu. Se você não posta, vira, inclusive, uma reclamação dos amigos. As pessoas cobram, mas não me importo, é a minha vida e não tenho obrigação de compartilhá-la”, comenta Patrícia. Ela destaca que muitas pessoas têm em suas listas os conhecidos que não, necessariamente, são amigos reais. “Não quero que os amigos que não são verdadeiros vejam a exposição do meu filho. Muitas vezes, são pessoas que conheço pela minha carreira e não têm nada a ver com minha vida social.”
Ela conta que, muitas vezes, já viu internautas criticando crianças que estão expostas na rede. “Às vezes, as mães não sabem, mas são alvo de críticas e indagações, inclusive sobre os cuidados com o filho. Pôr a imagem de um bebê nu é um risco. Há pedófilos que têm atração por nenéns de até 1 mês”, avisa. O alerta da psicóloga é a preocupação dos especialistas em segurança na internet.
De acordo com o professor do Centro Universitário UNA Marcos Flávio Araújo, o que hoje existe é chamado de “engenharia social”. “Vamos supor que há uma família bem-estruturada e, quando cria um perfil na rede social, faz um link com os parentes. Ali, há informações que dão margem para golpes, tanto dentro quanto fora do meio cibernético”, explica.
O fato de dizer que só posta fotos para os amigos, na visão de Marcos, não é 100% seguro. “Uma pessoa mal-intencionada consegue ver sua lista de amigos e se tornar amiga de alguns deles. Há pessoas especializadas nesse tipo de golpe, fuçam tudo e descobrem, por exemplo, onde os pequenos estudam e moram.” A primeira dica de Marcos é nunca criar um perfil infantil, uma vez que, pela regulamentação do Facebook, por exemplo, só são permitidos usuários acima dos 18 anos. Outra forma, de acordo com o profissional, é marcar, um a um, os nomes das pessoas que poderão ver as publicações. “Isso evita que amigos de amigos possam ver o conteúdo disponível na sua página”, aconselha.
FUTURO
Outro ponto levantado por Mariano Sumrele, diretor de marketing de AVG, é o futuro. “Uma vez disponibilizado na internet, já não se tem mais controle sobre nada. Uma foto engraçadinha hoje pode ser uma piada para essa criança amanhã, já que seus colegas em qualquer tempo poderão ter acesso às imagens”, ressalta, lembrando que esse risco psicológico no futuro do bebê, com a possibilidade de bullying, tem que ser repensado pelos pais. “A principal dica que podemos dar é o cuidado, sempre. Tente evitar colocar fotos em que a criança apareça de uniforme ou dê para identificar o bairro onde ela more.” Mariano diz que, durante várias gerações, os pais sempre reforçaram para os filhos nunca falarem com estranhos. “Temos que ensiná-los, mais do que nunca, a não falar também no mundo virtual. Você nunca sabe quem está do outro lado.” Desta vez, esse antigo alerta vale também para os pais.
Muitos usuários postam a intimidade dos filhos quando eles estão, ainda, no útero, e divulgam arquivos de ultrassom para toda a rede. “É perigoso, porque não temos controle sobre essas imagens. E quando esse bebê estiver na adolescência e for vítima de uma brincadeira maldosa dos colegas, com o arquivo de ultrassom que os pais postaram? O que você pensará? O que sentirá? O que ele lhe dirá? Como esse adolescente vai se sentir?”, questiona Mariano, que reconhece que tudo isso é um desafio para as famílias de hoje, que devem estar antenadas. “Todo cuidado é pouco.”