

Castellano e colegas coordenaram um longo e minucioso monitoramento de 113 jogadores profissionais (59 mulheres e 54 homens) durante a Champions League, campeonato organizado pela União das Federações Europeias de Futebol (Uefa). A técnica utilizada foi capaz de acompanhar os movimentos e o desempenho dos atletas nos 90 minutos de partida.
Os resultados mostram que, de maneira geral, em todas as posições, os homens percorrem uma distância muito maior durante as partidas. As mulheres, por sua vez, parecem jogar com níveis de intensidade mais elevadas. Em razão disso, elas apresentaram um cansaço maior no segundo tempo, tendo queda de rendimento. Nenhuma diferença significativa, contudo, foi encontrada quando se analisou questões técnicas, como número de passes, tempo de posse de bola e total de duelos ganhos.
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Aprendizagem
Segundo o coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano da Universidade Federal do Rio Grande Sul (UFRGS), Flávio Antônio de Souza Castro, diferenças de força, potência, resistência e velocidade são esperadas, devido a peculiaridades antropométricas, principalmente maior percentual de massa muscular e menor de gordura nos homens. “A técnica não depende, exclusivamente, das características fisiológicas já apontadas, mas também dos processos de aprendizagem motora”, explica Castro, também vice-diretor da Escola de Educação Física da UFRGS.
Para ele, quando a técnica é desenvolvida desde cedo, com processos adequados, é possível que, guardadas as diferenças de força, homens e mulheres possam ter desempenhos técnicos similares. Até se tornarem maduros, há poucas distinções fisiológicas entre meninos e meninas, que se acentuam a partir do amadurecimento.
Castro considera surpreendente a escassez de estudos desse tipo, já que a Europa e os Estados Unidos possuem muitos times e boa tradição no futebol feminino, praticado desde a fase escolar pelas garotas. Ele acrescenta que, no Brasil, características nacionais relativas ao preconceito de gênero contribuem para a menor visibilidade da prática pelas mulheres. “Ainda há muito preconceito em relação ao futebol feminino. Cabe aos educadores, aos órgãos de organização e de controle e à mídia trabalhar para que esse preconceito acabe.”
Vídeo
Foi utilizada uma técnica de localização de vídeo que reconhece cada jogador e o monitora a uma velocidade de 25 vezes por segundo. Dessa forma, os cientistas sabem onde o atleta está a cada instante da partida e podem contabilizar uma série de dados, como distâncias percorridas, velocidade alcançada e toques na bola. Esse método e outros semelhantes são cada vez mais utilizados por equipes profissionais. Esse tipo de estudo tem provocado mudanças no esporte, mostrando, por exemplo, que times que correm distâncias menores (logo tocam mais a bola) costumam se sair melhor nas competições.

“A melhor performance física dos homens já era esperada. Entretanto, eles não encontraram diferenças na técnica de jogo, o que confirma a grande evolução do futebol feminino nas últimas décadas. Já sabemos que os homens possuem capacidade aeróbica e anaeróbica superior à da mulher. Isso acontece por diferenças fisiológicas. Não podemos ignorar a questão da habilidade. Se uma garota que é excelente jogadora compete com garotos que não têm habilidade desenvolvida, esses casos ficam mais evidentes. O estudo tentou equalizar essas diferenças ao observar jogos da liga europeia. Não entendo ser necessário diferenciar as regras do futebol para homens e mulheres, devido à evolução já alcançada pelo futebol feminino. Muitas pessoas acabam preferindo ver partidas de futebol feminino. É um jogo mais cadenciado, em que a habilidade, muitas vezes, é mais importante que a força física. Isso ficou comprovado no estudo.”
Jomar Souza, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE)