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Para além da visão romântica, existe alguma situação em que os opostos realmente se atraem? Segundo Tatiana Mourão, psiquiatra e professora do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFMG, o contraste com outro pode, sim, ser suficiente para despertar uma paixão. “Na verdade, do ponto de vista da neurociência e do mapeamento de imagens cerebrais, não há nada muito bem definido em relação a essa questão. Existem sim, teorias vinculadas à psicoterapia e ao comportamento humano. E essas análises dizem que os opostos podem se atrair, mas depende da finalidade. Os opostos se atraem para quê?”, pontua.

Tema inesgotável
A psiquiatra cita que há muitos estudos, na linha da psicologia evolutiva, que relacionam comportamentos observados em alguma espécies animais ao comportamento humano (saiba mais abaixo). Apesar de muito criticados e bombardeados por discursos de parte das ciências humanas e sociais, essas teorias são capazes de, pelo menos, intrigar os estudiosos, dada as semelhanças entre vida selvagem e humanos; entre nossos antepassados e o homo sapiens. “O interesse de muitos homens por mulheres mais jovens, por exemplo, poderia ser explicado por uma vontade inerente de garantir a prole. Entretanto, à luz da psicanálise e das mudanças recentes na sociedade, esses pontos nem sempre se sustentam”, diz Tatiana. “A atração e o desejo não se esgotam em livros científicos. Pelo contrário: são explorados na arte, no cinema, na literatura, sem que haja uma palavra final ou que se possa explicar definitivamente porque uma pessoa se sentiu atraída por alguém que viu apenas uma vez”, completa a psiquiatra.

A psiquiatra explica que nem irmãos gêmeos, detentores do mesmo DNA, são pessoas iguais. “Eles podem ter, além do temperamento, até alturas diferentes, conforme os fatores ambientais. Temos que conviver com as diferenças, sempre, porque o outro sempre nos será um continente desconhecido. E a ilusão - que quase todos nós temos - de que a pessoa vai mudar, é mesmo ilusão. Fundamentalmente, não vai mudar. Pode haver, no máximo, uma maquiagem”, decreta a professora da UFMG.
Se há diferenças contornáveis e outras incontornáveis, é preciso saber identificar a medida em que um dos lados – ou os dois – começa a sofrer demais.
Sim ou não?
Portanto, os opostos podem se atrair. Não é uma regra, mas podem. Mas mesmo os opostos precisam de um fio condutor para prolongar a caminhada do casal. “Cabe a cada um aprender a ter tolerância e conviver com as diferenças. Por outro lado, se a diferença for incontornável, é preciso ter coragem de romper o ciclo. Algumas pessoas se intimidam pelos sentimentos de luto e depressão após o fim do relacionamento, mas eles podem ser superados. Não é todo mundo que vai ficar deprimido após uma separação”, completa Tatiana Mourão.

Ciência e comportamento
Na ciência, existe uma grande disputa entre a influência dos fatores biológicos, de um lado; e contextos sociais e emocionais, de outro; que poderiam determinar a escolha de um parceiro. O fascínio por essa pergunta é tão grande que o Museu de História Natural de Londres promoveu no final de 2013 uma exposição chamada 'Natureza Sexual'. O evento foi um grande sucesso de público e reuniu modelos de casais selvagens, dos anfíbios e répteis até as aves, grandes felinos e primatas. Mas, de forma inovadora, também convidou especialistas para discutirem o assunto junto com os visitantes.

A comida era trocada por favores sexuais e os machos se sentiam mais inclinados a fazer isso quando tinha a paternidade dos filhotes garantida. Por outro lado, em sociedades de macacos, quando não há grande diferença de tamanho entre os sexos, a tendência é monogâmica, como no caso dos gibões, que escolhem um parceiro para a vida toda. Já no caso dos gorilas, em que o macho é muito maior que a fêmea, a tendência é de poligamia. Como não somos macacos nem gorilas, no entanto, continuamos em busca de respostas convincentes, de acordo com a nossa inclinação mais ou menos romântica.
Volker Sommer, antropólogo especializado em reprodução sexual e professor da University College of London, que também participou desse debate, acredita na influência do viés biológico para a escolha do parceiro, mas prefere ser prático: a falta de comunicação entre o casal é a principal causa do fim de um relacionamento. “Afinal, são dois indivíduos com interesses que nem sempre coincidem. Em função disso, nós fazemos compromissos. O segredo é tentar ser feliz dentro deles. Se eu começo a contar quantas vezes eu fiz isso, quantas vezes você fez aquilo dentro da relação; é porque algo não está funcionando", afirmou o antropólogo.
Os dois especialistas concordaram, no entanto, que as listas de regras para conquistar alguém, exploradas à exaustão por publicações principalmente voltadas ao público feminino, são perigosas. “Criamos uma imagem e expectativas irreais. Depois ficamos frustrados porque a pessoa do outro lado é real, cheia de vícios e virtudes”, definiu Barker.