“Nossa pesquisa sugere que gestantes podem exercer grande impacto sobre a saúde metabólica a longo prazo dos filhos ao controlar adequadamente a nutrição durante esse período crítico de desenvolvimento da prole”, disse Tamas Horvath, professor da Universidade de Yale e coautor do estudo. O experimento foi feito com camundongos e indicou que os filhotes de ratas que consumiram uma dieta rica em gordura durante a amamentação desenvolveram circuitos neuronais anormais no hipotálamo, região do cérebro responsável por regular o metabolismo, bem como alterações relacionadas à liberação da insulina.
A prole apresentou anormalidades no metabolismo da glicose e foi envelhecendo com problema de peso. Segundo os pesquisadores, as transformações ocorridas durante a amamentação dos ratos são equivalentes a processos no cérebro de fetos humanos no último trimestre da gestação. Nos bichos, o hipotálamo continuar a se desenvolver após o nascimento, enquanto que nas pessoas ele precisa estar totalmente desenvolvido antes do parto.
Os resultados detectados, portanto, ajudam a identificar o momento mais importante na gravidez com relação ao futuro metabólico dos filhos. De acordo com Horvath, nutrientes oriundos da alimentação materna desencadeiam uma série de alterações hormonais que influenciam o desenvolvimento dos circuitos cerebrais da prole. “As mães podem controlar ou até reverter a predisposição dos descendentes para a obesidade e as doenças resultantes alterando sua ingestão de alimentos”, disse o pesquisador.
Famintas
Os últimos três meses da gravidez também são o período em que a mulher fica com mais fome. “Trata-se da fase em que o bebê precisa de mais energia para poder se desenvolver rapidamente”, explica Priscila Cseke, do Hospital Santa Luzia. A nutricionista estima que a vontade de comer fica três vezes maior. “A mulher acaba parando no meio da rua e comprando uma besteira para comer ou comendo o que tem pronto em casa sem se preocupar com a qualidade. Esses alimentos são muito ricos em gorduras e, como tudo que a mãe come vai para o feto por meio do cordão umbilical, a criança nasce mais propícia a alimentos gordurosos.”
O obstetra Jurandir Passos, do Laboratório Pasteur, reforça o alerta. Segundo ele, existem vários estudos científicos indicando que a obesidade na criança depende de fatores aos quais ela é exposta no ambiente intrauterino. “Manter os níveis glicêmicos sob controle é uma das melhores formas de prevenção”, diz. O especialista, porém, ressalta que a fisiologia humana é diferente da dos camundongos, usados no experimento. “Não podemos nunca assumir que o que encontramos de resultado nos animais possa ser automaticamente aceito como verdade para nós”, diz, reforçando, em seguida, a existência de uma relação mais complexa no organismo humano. “A obesidade facilita muito a ocorrência do diabetes gestacional, mas o peso ideal não evita a ocorrência da doença. Os fatores que aumentam os riscos de, no futuro, a criança vir a ser obesa abrangem qualquer gestante”, garante.
Paladar comprometido
O descontrole alimentar durante a gestação afeta também o paladar da prole. Segundo a nutricionista Priscila Cseke, do Hospital Santa Luzia, estudos comprovam que, quando a grávida segue uma alimentação saudável, é mais fácil que o bebê, ao começar a fase da alimentação por via oral, aceite alimentos como verduras e legumes. “Por outro lado, se a alimentação da mulher é rica em gorduras e açúcar, a criança vai rejeitar alimentos saudáveis”, observa.
A especialista explica que a gordura, por si só, não é necessariamente a vilã. O organismo precisa, inclusive, dela para funcionar corretamente. “Basta saber qual tipo de gordura é boa e deve ser ingerida. Além disso, todo alimento tem gordura. Toda carne tem gordura na sua composição, mas algumas mais, como o cupim e a picanha. Deve-se evitar essas e preferir as magras, como peito de frango, coxão mole e filé”, indica.
Outra dica é que, ao preparar comidas em casa, a grávida tente não utilizar grande quantidade de óleo. Pode-se usar o azeite para temperar a salada, indica a nutricionista. Rico em ômega 3, ela ajuda na metabolização das outras gorduras, assim como as castanhas e o abacate. Cseke lembra que esses e outros cuidados alimentares são importantes para o filho, mas também para a saúde da mulher. “Ao evitar a ingestão de açúcar no dia a dia, elas também se previnem de um diabetes gestacional”, exemplifica. (FF)