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De acordo com uma publicação da revista Lancet organizada por 18 países, incluindo o Brasil, o mundo está, de fato, falhando em garantir equidade na saúde. A organização do poder político não tem conseguido proteger a saúde pública, alertaram os autores do relatório, que será lançado nesta terça-feira em Oslo, na Noruega. Para Ole Petter Ottersen, professor da Universidade de Oslo e presidente da comissão de especialistas que assinam o documento, o enriquecimento dos países em desenvolvimento não pode ser desacompanhado de melhorias nessa área.
“Inequidades na saúde são moralmente inaceitáveis e são exacerbadas pelo sistema de governância global atual, que coloca a geração de riqueza acima da saúde humana. A equidade na saúde é uma precondição, uma consequência e um indicador de uma sociedade sustentável, e deveria ser adotado como valor universal, como sucesso de uma nação, junto de crescimento econômico. Isso deveria ser um objetivo social e político partilhado por todos”, disse, em um comunicado de imprensa. Ottersen lembrou que, enquanto, nas duas últimas décadas, houve grandes avanços no diagnóstico e no tratamento de doenças, apenas um pequeno percentual da população mundial foi beneficiada. “Essas inequidades de saúde dentro e entre países são inaceitáveis”, alega Ottersen.
Áreas críticas
A comissão de especialistas identificou sete áreas onde injustiças econômicas e políticas afetam, em particular, a saúde da população: a crise financeira global e as consequentes políticas de austeridade, a propriedade intelectual, os tratados financeiros, a segurança alimentar, as corporações transnacionais, a migração e a violência armada. Um exemplo é a produção de alimentos, suficiente para atender 120% as necessidades dietéticas do planeta — há mais comida que gente para consumi-la. Contudo, nem todos têm acesso ao que é produzido. Alguns passam fome, enquanto outros comem demais.
“Essa inequidade não afeta apenas os milhões que experimentam subnutrição e escassez de alimentos. Há número cada vez maior de pessoas de países de todos os níveis de desenvolvimento que morrem prematuramente por má nutrição e obesidade”, lembra o documento.
Paulo Buss, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, e coautor do relatório, lembrou que a América Latina é a região mais desigual do mundo. Em nota, ele afirmou que, apesar das questões internas influenciarem, as políticas globais injustas também afetam a saúde da população. Como exemplo, ele citou o preço de medicamentos, que, por motivos de comércio global, chegam mais caros aos latino-americanos. Para ele, a situação pode mudar, dependendo de “decisões corajosas e responsáveis de líderes globais das instiuições-chaves — incluindo agências do Sistema ONU a respeito de políticas e processos coerentes”. (BS e PO)