saiba mais
-
Medo de férias é fenômeno contemporâneo e afeta boa parte da população
-
O que sua mesa de trabalho (ou estudo) diz sobre você?
-
Estresse no trabalho: quando a pressão ultrapassa o cansaço
-
Pesquisa aponta que transtornos mentais podem ter relação com ambiente de trabalho
-
Trabalho nem sempre é fonte de felicidade para europeus
-
Dress code: roupas ajudam a construir imagem e a se adequar melhor ao ambiente corporativo
Daniel Rezende, consultor executive search da Dasein, afirma que a panelinha é inevitável por ser uma atitude própria e natural de o ser humano se relacionar. Ao formar grupos no ambiente corporativo, a busca é por afinidades e interesses, assim como ocorre na família, na escola ou na roda de amigos. Ele entende que no meio profissional é necessário separar o tipo de grupo e a motivação. Por isso, Daniel diferencia grupo, no sentido de equipe, do “grupo-panelinha”, sempre visto de maneira negativa. “Tem aquele que trabalha com o objetivo corporativo, em benefício de todos. E o outro que só pensa na fofoca, exclui pessoas e, de certa forma, discrimina, já que para entrar é preciso se submeter à questão comum da panelinha.”
Para Daniel, há vários tipos de panelinha e elas atuam como erva daninha dentro da organização. Uma das mais prejudiciais é a liderada por quem pensa em galgar cargos, ser promovido, influenciar e promover interesse próprio e egoísta para crescer na carreira. “Tomam tais artifícios em detrimento da dedicação, formação e desenvolvimento das competências. São pessoas que fazem favores, mas não de maneira natural, soltam insinuações maldosas a respeito de colegas, usam da bajulação e se colocam de maneira que não são. E pior, prejudicam quem está fora da panelinha ou quem pode competir com ele.” Atitudes que serão desmarcadas a curto prazo. “O correto é sustentar o crescimento na carreira com ética, tendo competências profissionais e habilidades de comportamento. Esse é o caminho sólido e adequado.”
Outro tipo comum de panelinha é a formada pelos reclamões. “A turma que se reúne só para se queixar dos problemas inevitáveis do dia a dia, do chefe, da empresa e dos colegas.” Há também aquela que abraça a galera mais descolada ou mais divertida ou mais baladeira ou a do happy hour... “Enfim, as características mais fortes vão determinando pares e, no caso das panelas, infelizmente, para o mal.” Conforme Daniel, as panelinhas, “além de não favorecer o ambiente de trabalho, corroem o tempo e a produtividade”.
RESULTADOS
Mas como são inevitáveis, o que fazer se você é um funcionário novo na empresa? Se mudou de setor? Se foi promovido para outra área? Daniel lembra que, nesses casos, a necessidade de integrar a equipe é natural. E avisa que será mais difícil no início. No entanto, não é preciso se expor e não, necessariamente, é obrigatório participar de alguma panela. “O importante é deixar claro por que você está ali. Se foi processo de seleção, promoção. A rejeição é maior se o cargo for de interesse de alguém da equipe, se for indicação do chefe, que tinha uma preferência, ou se um colega foi demitido. Para neutralizar tudo isso, adote a postura de que chegou para compor o grupo e trazer resultado em benefício de todos.”
O consultor alerta que é fundamental ter habilidade política, empatia, cordialidade e educação no trato para não afastar as pessoas. “Não assuma um papel arrogante porque ele vai construir a rejeição do grupo. Foque no seu espaço e interaja de forma a aprender e ensinar. Seja verdadeiro.” Outra saída diante das panelinhas é tentar se manter neutro ou aderir pela afinidade. No entanto, participar de uma não é negar a outra. “A negação vai gerar conflito. Ignorar, evitar o contato também não é bom. Compartilhar pensamentos, valores num ambiente onde passa grande parte do seu dia é essencial. É possível criar formas de se relacionar bem com todos sem se juntar ou se posicionar como opositor.”
Construção do autoconhecimento
Panelinha no meio profissional é inevitável. Caso se sinta perseguido, seja racional, se fortaleça e não deixe de se desenvolver profissionalmente. A solução cabe ao chefe, que deve ser transparente
A questão dos relacionamentos no ambiente corporativo é imprescindível. E há sempre o lado bom e o ruim. A panelinha do mal desfoca do trabalho e compromete o desempenho. Para a coordenadora de carreiras do Ibmec-MG, Fernanda Schroder, quem adota uma panela e não vive longe de um grupinho “são pessoas que colocam no grupo suas expectativas de crescimento”, em vez de fazer um planejamento de carreira. Por outro lado, ela assegura que se essa união “agregar e contribuir não tem problema. O fundamental é que o profissional jamais deixe de entregar resultado”.
Fernanda destaca que existem, sim, panelinhas do bem. São aquelas em que os integrantes estão juntos para a construção e não para a destruição do ambiente de trabalho. “Não é panelinha para queimar ninguém, mas para, com coerência e consciência, gerar produtividade.” Mesmo porque, ela alerta: hoje você está numa empresa e amanhã pode ser outra. “O networking ocorre ao longo da carreira. A construção de boas relações no trabalho é fundamental. Imagina fofocar sobre alguém anos numa empresa e, de repente, você sair da organização e precisar daquela pessoa para concluir um projeto do qual dependerá sua promoção?”
Mas como se comportar diante das terríveis panelinhas? Para Fernanda Schroder, vai depender da situação e da organização, já que cada empresa tem uma cultura. “Algumas têm avaliação de desempenho sistemático, o que é ideal. Quando não existe, a melhor saída para o profissional que se sentir prejudicado com a panelinha é conversar com o chefe imediato ou gestor de recursos humanos.” Ela lembra que outra postura é procurar falar com quem o incomoda. Mas, se perceber que não tem abertura, que não vai adiantar, “tome cuidado e prefira os superiores. De repente, ao analisar o perfil da pessoa, vai perceber que ela é influenciada, manipulada e, se conseguir conversar, pode virar o jogo”.
Fernanda destaca que a razão de quem sofre perseguição das panelinhas, na maioria das vezes, é por inveja pelo conhecimento. Por isso, “é essencial se manter e ter uma análise racional, já que as relações das panelinhas são emocionais”. A coordenadora do Ibmec-MG dá outras dicas para lidar com a situação: “Primeiro, se fortaleça e não deixe de se desenvolver profissionalmente. Para isso, busque o autoconhecimento. Onde estou e aonde quero chegar? Aperfeiçoe, invista nas competências que precisa e tenha claro que é importante superar obstáculos, senão qualquer interferência do meio o fará desistir de seu objetivo. Agora, se não conseguir, busque outra empresa, talvez a atual não seja para você”.
Agora, Fernanda avisa que está nas mãos do chefe o controle e a solução do problema. Só ele pode desmantelar as panelinhas do mal. Para isso, ela recomenda que “o líder tem de ser transparente com a equipe e precisa fazer um feedback construtivo, ou seja, mostrar o que não é legal e estimular outro comportamento”.
Também é o que pensa Daniel Rezende, consultor executive search da Dasein. O chefe tem de entrar em cena para coibir os grupinhos improdutivos. “Ele tem de ser observador, ter contato com a equipe, ouvir os colaboradores em grupo e individualmente, para resolver a situação. Fofoca não gera resultado e só contamina. O verdadeiro líder tem de ter relação transparente com as pessoas para não se isolar. Precisa se reunir com a equipe e deixar claro os objetivos.”
Ele comenta que tirar as pessoas da zona de conforto causa insatisfação, por isso é bom se comunicar e estar aberto a ouvir. “Só assim o chefe saberá o que ocorre nos bastidores, nos corredores e ganhará a proximidade do grupo.” Já o lado positivo, que Daniel denomina grupo, é quando os profissionais se unem por amizade, para fazer cursos extras, bater metas, ajudar uns aos outros no desenvolvimento das tarefas... “O espírito de equipe é o ideal para empresa e funcionários. Todos ganham e colhem resultados. Evoluem e crescem.”
AJUDAR
Christian Magalhães, gerente de marketing do Minas Shopping, destaca que a postura correta de qualquer profissional é ter disposição para ajudar. “Sou contra qualquer tipo de panela. Não faço parte e sempre busco contribuir e estar disponível. Ao mesmo tempo, sinto o maior orgulho como ativo profissional de ter colaborado com a evolução de muitos colegas, colaboradores, enfim, profissionais. Em empresa anterior, acompanhei promotores de evento, estagiários que cresceram e chegaram à matriz da organização, em parte pelo meu feedback ou mesmo pela minha atuação como coaching. O ponto legal é quando o profissional está disposto a ajudar.”
Para Christian, ter esse comportamento, seguramente, fará o profissional ser reconhecido pelo mercado. “Trabalhava numa empresa de telecomunicações e fui convidado pela concorrente. Mudei, mas retornei diante de uma nova proposta com o conhecimento e incentivo de todas as partes. Na época, o atual empregador reconheceu que a oportunidade era irrecusável e não poderia cobri-la. Entendi que todo o meu esforço foi recompensado. Quem contribui tem as portas abertas. Quando percebo atitudes negativas procuro dissolver com uma gestão mais próxima. O importante é ter domínio da área, identificar e resolver seus problemas antes de apontar os de outro setor. Agora, é saudável a crítica com objetivo de contribuir com o todo, assim como ter humildade para recebê-la.”