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As duas maiores novidades para tratar o câncer de próstata foram apresentadas na conferência da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco) sobre câncer geniturinário, encerrada sábado, em São Francisco, Estados Unidos. São resultados de importantes investigações, principalmente em relação à fase mais avançada da doença. Entre elas, dentro do tratamento por hormonoterapia, está o papel da droga enzalutamida antes da quimioterapia paliativa. “Trata-se de uma medicação relativamente nova, já adotada na sequência da quimioterapia e que agora se comprovou eficaz para postergar o início da químio em até 17 meses, poupando o paciente de um tratamento mais tóxico e dando a ele um ganho de sobrevida de dois meses”, explica o oncologista Túlio Eduardo Flesch Pfiffer, do Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo.
Detectado precocemente, de 85% a 90% dos casos do câncer de próstata podem ser curados. O tratamento evoluiu consideravelmente de 10 anos para cá. São cinco novas opções terapêuticas só nos últimos quatro anos. Outro estudo importante apresentado na conferência comprovou a segurança e a baixa toxicidade do cloreto de rádio 223 (Ra-223), o primeiro de uma nova classe de radiofármacos aprovado pelo Foods and Drugs Administration (FDA), a agência reguladora norte-americana. Específico para pacientes com câncer de próstata resistente à castração (CPRC), metástases ósseas sintomáticas e doenças metastáticas viscerais desconhecidas, o agente terapêutico emissor de partículas radioativas demonstrou melhorar a sobrevida global da pessoa.
“É uma estratégia de tratamento inovadora dentro da medicina nuclear. Uma molécula de rádio se deposita na lesão, atingindo um ótimo controle do câncer de próstata metastático para osso, a metástase mais comum. Já existiam radiofármacos com outras partículas capazes de aliviar a dor, mas que não tinham impacto na sobrevida como esse, que também é menos tóxico”, acrescenta Pfiffer. O tratamento já está em fase de avaliação na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), aqui no Brasil.
O ganho de sobrevida com o Ra-223 já estava comprovado, faltava avaliar se em médio e longo prazo o tratamento se manteria seguro e pouco tóxico, o que foi confirmado no estudo apresentado no congresso. Segundo o autor do trabalho, Sten Nilsson, professor-adjunto do Departamento de Oncologia e Patologia da Karolinska University Hospital de Estocolmo, na Suécia, o radiofármaco promoveu um ganho geral de 3,6 meses de sobrevida e foi bem tolerado pelos pacientes que tiveram seu quadro avaliado um ano e meio depois de tomar a última injeção. “Já são 37 países adotando o Ra-223, entre eles os Estados Unidos, Canadá e nações europeias. Na amostra final de 574 pacientes, menos de 3% tiveram mielossupressão, condição que diminui a atividade da medula óssea e é um dos principais efeitos colaterais de alguns tratamentos de câncer. Os achados sugerem agora a avaliação da combinação do radiofármaco com outros agentes terapêuticos”, explica o pesquisador.
Prevenir é o caminho
O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima a ocorrência de quase 69 mil novos casos do câncer de próstata apenas em 2014. Aos homens interessados em escapar de tais estatísticas restam duas opções: prevenir e prevenir. Segundo o oncologista Alexandre Fonseca, da Oncomed, é preciso evitar os fatores que predispõem a doença e reforçar os que protegem. Isso sugere uma alimentação rica em vegetais, particularmente aqueles que contêm licopeno, caso do tomate. A dieta baseada em gordura animal, carne vermelha e altas quantidades de cálcio (mais de dois gramas/dia) está associada ao aumento de risco e deve ser evitada. Outra frente de prevenção é o diagnóstico precoce da doença. Homens com mais de 50 anos (e mais de 45 se forem negros e tiverem histórico familiar) devem consultar um urologista anualmente. Só o especialista pode avaliar os benefícios de um rastreamento baseado no exame de toque e na dosagem de PSA, feito a partir da coleta de sangue.
Radiofármacos
Administrado apenas em centros de medicina nuclear com licença para aplicação de material radioativo, esse tipo de medicamento emite uma partícula radioativa que para agir no organismo pode ou não precisar se unir a alguma outra substância. Segundo a médica nuclear Sandra Navarro, as partículas alfa normalmente são grandes átomos, com grandes núcleos, que ao caminharem pelo corpo vão depositando grande quantidade de energia onde vão atuar. Já a partícula beta é um elétron, sete mil vezes menor que uma partícula alfa. O Ra-223, por exemplo, é um radiofármaco emissor de partícula alfa e não precisa se ligar a outra substância para atuar na metástase óssea pelo fato de ser semelhante ao cálcio presente nos ossos.
País testa planta em voluntários
Cientistas brasileiros, liderados pelos pesquisadores Luiz Francisco Pianowski, da empresa Kyolab, e Amílcar Tanuri, médico e professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), avançam nos testes com moléculas isoladas da planta medicinal avelós (Euphorbia tirucalli L) no combate ao câncer. O princípio ativo — chamado de AM10 — está sendo testado em humanos. O AM10 induz a uma maior apoptose (espécie de suicídio celular) das estruturas doentes. Na fase pré-clínica, foram observados a ação e os mecanismos da atuação da planta em testes toxicológicos com ratos e cães. O próximo passo será diversificar as características dos pacientes que participarão do teste, para aumentar o escopo da pesquisa.
“O peso recairá especialmente sobre os países de renda média e baixa. Mas mesmo as nações com rendimentos mais elevados terão dificuldades para enfrentar os crescentes custos dos tratamentos”, avalia o diretor da Iarc, Christopher Wild. Os dados foram divulgados ontem, antecipando alertas também emitidos hoje por médicos e cientistas em razão do Dia Mundial do Câncer.
O envelhecimento da população e o crescimento de hábito de risco, como fumar, acompanham o aumento dos casos de câncer, alerta a Iarc. De acordo com a agência, em 2011, as complicações em função dos tumores malignos substituíram as doenças cardíacas como a principal causa de morte. “É necessário um maior compromisso com a prevenção e detecção precoce para lidar com o aumento alarmante na incidência de câncer a nível mundial”, acrescentou Wild.
Entre os homens, o câncer mais comum, segundo o relatório, é o nos pulmões (16,7%), seguido pelo de próstata (15%), o colorretal (10%), de estômago (8,5%) e de fígado (7,5%). No caso das mulheres, o mais frequente é o de mama (25,2%), o colorretal (9,2%), de pulmões (8,7%), de útero (7,9%) e de estômago (4,8%).
O documento indica ainda diferenças regionais em relação à doença. Mais de 60% dos casos e 70% das mortes ocorrem na África, na Ásia, na América Central e na América do Sul. Na América Latina e no Caribe, o câncer de mama e o de próstata são os que têm maior incidência em mulheres e homens. No geral, o câncer é diagnosticado em uma idade mais avançada em países menos desenvolvidos. E, a nível global, o câncer de pulmão é o mais letal, com 19,4% do total de mortes, seguido pelo de fígado (9,1%) e pelo de estômago (8,8%).
O estudo pede novos esforços na prevenção, incluindo a vacinação contra a hepatite B e o vírus do papiloma humano, o que pode ajudar a reduzir a incidência de câncer de fígado e de colo do útero, respectivamente. Há também uma cobrança com relação a projetos que promovam o exercício físico para combater a obesidade e campanhas antitabagismo. A estimativa da IARC é de que, em 2010, o custo total anual do câncer foi de US$ 1,16 bilhão, sendo que “quase metade dos casos poderiam ter sido evitados”.