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Uma das tendências é usar produtos livres de sulfatos, os detergentes dos xampus. Os compostos mais comuns dessa categoria são o lauryl sulfato de sódio e o lauryl sulfato de amonium, utilizados também em produtos de limpeza doméstica. A bandeira é levantada pelo movimento no/low poo, criado por Lorraine Massey, autora do livro Curly Girl, the handbook (Em tradução livre, Garota encaracolada, o manual).
Nesse caso, é importante criar o hábito de ler os rótulos dos produtos. Há duas linhas de cuidados. O no poo, mais radical, utiliza formas alternativas de limpeza capilar que não o xampu, como o bicarbonato de sódio e condicionadores com substâncias específicas para a limpeza. O low poo usa xampus que não tenham sulfato.
Ambas as categorias defendem que sejam deixados de lado produtos com petrolatos, os derivados de petróleo encontrados nas composições com o nome de óleo mineral, vaselina, parafina líquida, petrolatum ou óleo de parafina. Em excesso, os petrolatos podem complicar os procedimentos de hidratação e nutrição dos fios, segundo a dermatologista Bárbara Uzel. “Eles envolvem a haste capilar e formam um filme que impermeabiliza temporariamente o cabelo. Isso dificulta a penetração de outras substâncias. É como passar vaselina na pele”, compara.
Uzel explica que, como os petrolatos retiram não apenas a sujeira mas também a gordura natural dos fios, eles podem causar um dano maior às mechas, levando ao ressecamento e à quebra. Os prejuízos vão além. De acordo com publicações da Fundação Nacional de Encefalopatia Tóxica, dos Estados Unidos, essas substâncias em quantidade acima de 2% na composição dos produtos causam irritação à pele e podem desencadear alergias. A dose recomendada cai para 1% caso o produto permaneça em contato com a pele, quando, por exemplo, o cabelo é mal enxaguado e ficam resíduos.
Também polêmico, o parabeno é geralmente encontrado em cosméticos sob a nomenclatura de metilparabeno, propilparabeno, butilparabeno e isobutylparabeno. Tem função conservante, evitando, segundo a dermatologista Érica Monteiro, que o cosmético fique protegido da ação de micro-organismos. A saúde dos compradores, porém, pode ficar ameaçada. “Em alguns estudos científicos, essa substância demonstrou ter alguns efeitos deletérios ao organismo, às vezes simulando ações de hormônios se em altas quantidades”, alerta o dermatologista Lucas Nogueira. De acordo com Monteiro, há conservantes novos que tendem a substituir os parabenos.
Água com vinagre
Mais naturalistas, os seguidores do water only cuidam dos cabelos com água e substâncias naturais, como óleos vegetais, vinagre de maçã, bicarbonato de sódio, pó de cacau e amido de milho. É preciso passar por período de adaptação para aprender as necessidades dos fios e a utilizar o óleo produzido pelo próprio couro cabeludo como aliado, em vez de “atacá-lo” com xampus.
O dermatologista e especialista em doenças capilares Lucas Nogueira garante ser possível cuidar dos cabelos dessa forma, mas alerta que, se a limpeza for inadequada, pode haver acúmulo de resíduos nos fios e no couro cabeludo. “Exige muita perícia e cuidado. A concentração do bicarbonato, por exemplo, pode variar em épocas diferentes na mesma pessoa, exigindo muita observação e experiência.” Erros na eliminação da sujeira facilitam também a propensão de doenças como a caspa e dermatite seborreica.
A lista das substâncias naturais procuradas por darem aos fios brilho, maciez e força é extensa: da arnica ao ginseng. Contudo, essas opções não estão isentas de causarem eventos adversos, alerta Érica Monteiro. “O produto industrializado segue rígido controle de qualidade, tem origem conhecida, lotes padronizados, enquanto que os naturais podem variar de um lote para outro e serem comercializados por empresas clandestinas e/ou que não obedeçam às normas de vigilância sanitária e as boas práticas de produção e manufatura”, diz a dermatologista.
A falta de método de fabricação, de análise da composição qualitativa e quantitativa do produto, de testes de segurança e de eficácia do produto acabado, e de especificações das matérias-primas utilizadas, também é um risco quando se opta por cosméticos pouco ou não industrializados. “Não há garantia de estabilidade e a conservação inadequada poderá gerar contaminantes nocivos e prejudiciais à saúde”, completa a especialista.
Risco maior em alisamentos
As intervenções estruturais no cabelo demandam ainda mais cuidados com os tipos de substâncias utilizadas. Alisamentos e tinturas, em especial, geram grandes polêmicas em relação às fórmulas empregadas.
Em 2009, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a venda do formol, antes usado como alisante, em drogarias, farmácias, supermercados, empórios e lojas de conveniências. A medida foi tomada depois que a agência constatou que os danos causados pelos produtos triplicaram no primeiro semestre daquele ano em comparação ao mesmo período de 2008.
Em março do ano passado, a agência regulamentou que o chumbo pode aparecer em concentração máxima de 0,6% em tintura capilar e deve conter no rótulo a informação de que é necessário lavar as mãos após o uso do produto e que ele é inapropriado para a coloração de sobrancelha, bigode e barba. As consequências do uso irregular dessas substâncias estão relacionadas ao risco aumentado de queimaduras, alergias, intoxicação e cânceres.
Segundo a dermatologista Bárbara Uzel, cosméticos capilares costumam conter mais de 30 componentes. O equilíbrio entre eles determina a qualidade do produto. Mas é importante também adequar os produtos utilizados às características do cabelo. A estudante Brenda Lima, 18 anos, alisou os cabelos dos 9 aos 16 anos, quando decidiu pesquisar mais sobre as particularidades de suas mechas. "Eu costumava escolher os (produtos) mais caros e achava que meu cabelo ia ficar lindo. Isso realmente acontecia, mas descobri que estava gastando dinheiro sem necessidade por usar mais ativos do que meu cabelo necessitava", conta.