Mais de 80% dos focos da dengue estão em domicílios; população deve ficar atenta

Campanhas educativas estão tendo alcance reduzido na população. Além dos pais, conscientizar crianças pode ajudar a reduzir números da doença

por Valéria Mendes 29/01/2014 10:00

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“O conhecimento é o primeiro passo, mas transformá-lo em prática e atitude é um grande desafio”. A constatação é da gerente de Vigilância em Saúde e Informação da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte Maria Tereza Oliveira que afirma que mais de 80% dos criadouros do Aedes Aegypti – o transmissor da dengue – estão dentro dos domicílios. Em 2013, exatos 95.584 casos foram registrados apenas na capital mineira. Em Minas Gerais, de acordo com levantamento da Secretaria de Estado de Saúde, foram 348.013.

Reinaldo Gomes/Divulgação
"Sabemos que as crianças levam o conhecimento para dentro de casa e influenciam decisões familiares" - coordenador de arte e mobilização do grupo Mobiliza/SUS-BH, Guilherme Colina (foto: Reinaldo Gomes/Divulgação)
Mesmo considerada um dos principais problemas de saúde pública de todo o mundo, que mobiliza pesquisas incessantes – só no Brasil duas vacinas estão sendo desenvolvidas -, ações educativas intensivas e campanhas de órgãos públicos com estrelas do esporte e do entretenimento, por que ainda assim, grande parte da população não se entusiasma nessa luta? Para se ter uma ideia, entre 2012 e 2013 a Secretaria Municipal de Saúde registrou um aumento superior a 50% no número de pneus recolhidos pela cidade. O aro de borracha é um clássico e conhecido vetor da dengue. Ano passado, 9.971 pneus foram coletados nos mutirões de limpeza contra 6.500 em 2012.

Segundo Maria Tereza Correia, pesquisas do Ministério da Saúde apontam que 80% da população cansou de ver campanha de combate à dengue. “As pessoas sabem quais são os principais criadouros, mas apenas 50% incorporam a informação na prática diária. Essa outra metade significa um excesso absurdo de gente que não se mobiliza”, diz. Para ela, a explicação pode estar no “pensamento mágico de que ‘comigo não vai acontecer’. Mesmo somando todos os que já adoeceram, é muita gente que nunca teve dengue. No entanto, não podemos esperar que toda a população tenha a doença quatro vezes”, exagera. No Brasil, circulam quatro tipos do vírus da dengue, mas na Malásia já foi encontrado um novo (saiba mais). Cobrar a participação da sociedade não é negar a importância e responsabilidade do poder público. “Mas com a colaboração da população o impacto é outro”, acredita a gerente de Vigilância em Saúde e Informação da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte.

Valéria Mendes/EM/D.A Press
As irmãs Milenna, 9 anos, e Monique, 8, sabem de cor como prevenir a dengue (foto: Valéria Mendes/EM/D.A Press)
Agentes de mudança

As irmãs Monique, de 8 anos, e Milenna, de 9, visitaram com a mãe, Viviane Aparecida dos Santos o Parque Mangabeiras na última quarta-feira. Moradoras de Sabará, aproveitaram o dia quente para visitar a cachoeira que fica dentro do espaço verde de Belo Horizonte e se divertir com as opções de brinquedos, jogos e oficinas disponíveis no mês de janeiro dentro do programa ‘Férias no Parque’, da PBH. Entre a mesa de ping pong, cama elástica, pula pula, peixes, micos e o quati, que de tão acostumado à movimentação do local se aproxima dos visitantes para ganhar comida, tem ainda o corre-corre que envolve as crianças em geral quando se juntam em um espaço ao ar livre. Com tanta distração, como chamar a atenção da garotada para uma “conversa” sobre dengue?

A tarefa até que não foi muito complicada. Quando os atores do Mobiliza/SUS-BH apareceram caracterizados e começaram a testar o som do espetáculo, meninos e meninas passavam de um lado a outro perguntando o que aconteceria ali. Quinze minutos antes do horário marcado, as cadeiras já estavam ocupadas e o chão ao redor também.

‘Circo Sustástico’ (combinação da sigla SUS com a palavra Fantástico) é um musical que narra a história de um dono de circo, Murrar, que encontrou jogada na beira de uma estrada a boneca Brisoleta. Ela é levada para morar nos fundos do picadeiro, onde ficam os animais. O lugar é sujo e descoberto. A boneca dorme em cima de um monte de pneus que acumulam água. Quando o palhaço Tim Tim observa que Brisoleta está febril e com manchas pelo corpo constata que ela está com dengue. A partir daí, toda a trupe se une para cobrar do dono do circo atitudes corretas para evitar a proliferação da doença. A princípio Murrar não aceita as críticas, mas depois se rende e assume que errou.

“Ele é o patrão
que está aqui só para mandar
não limpa o chão
e deixa a água acumular.”

O trecho faz parte de uma das canções interpretada em coro pelos artistas do circo que acusam o dono da lona – diante da plateia – de ser o responsável pelo caso de dengue que acometeu Brizoleta.

A Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte registrou um aumento superior a 50% no número de pneus recolhidos pela cidade no passado: foram 6.500 em 2012 contra 9.971 de 2013


“Despertar multiplicadores de informação é o foco do projeto. Sabemos que as crianças levam o conhecimento para dentro de casa e influenciam decisões familiares”, reconhece o coordenador de arte e mobilização do grupo Mobiliza/SUS-BH, Guilherme Colina. Pesquisas já comprovaram esse crédito e os meios de comunicação utilizam de discursos sofisticados para falar diretamente com esse público. Em 2011, a Viacom International Media Networks, distribuidora do canal Nickelodeon no país, divulgou o resultado de um estudo realizado em 11 países - incluindo o Brasil - que mostrou que a opinião dos filhos na hora de ir às compras é importante também quando os produtos não são destinados exclusivamente a eles: para 51% dos pais, a decisão final é tomada por eles, mas sempre ouvindo a opinião dos filhos, enquanto 49% afirmam que decidem juntos com as crianças. Mesmo quando o produto é para os pais, a opinião dos filhos é levada em consideração. Na categoria automóvel, por exemplo, 60% dos pais dizem que foram influenciados pelos filhos.

“A criança é agente de mudança, ela leva a sério as informações de campanhas educativas e questiona os pais. Investir na criança é aumentar a chance de o conhecimento ser incorporado com uma boa prática. É muito difícil reverter atitudes de pessoas enraizadas em más práticas, requer mais esforço”, avalia Maria Tereza Oliveira.

Que o diga a mãe de Monique e Milenna. Viviane conta que não é a primeira vez que as meninas são tocadas pelas informações de combate ao Aedes Aegypti. “Na escola, fizemos uma caminhada contra a dengue. Andamos três quarteirões”, orgulha-se Milenna. A família vive em uma casa e a filha mais velha conta que após essa ação sua irmã Monique foi picada por um mosquito. “Eu desci lá embaixo e fui olhar todos os pratinhos de plantas”, relembra. A mãe das meninas conta que o alarde no início do contato com a informação era até exagerado. “Toda vez que alguém era picado, elas ficavam preocupadas”, diz Viviane.

Satisfeitas com o final do espetáculo - elas consideraram justa a reclamação dos artistas do circo pela limpeza do local -, as irmãs se atropelam quando questionadas sobre as formas de prevenir a doença. “Não deixar pneu jogado, não deixar a água acumular, garrafa sempre tampada...”, recomendam quase em coro.

Programação ‘Férias do Parque’:

29/01 - Parque Municipal Renné Giannetti
10h às 11h30
14h às 16h30

30/01 - Parque Municipal Fazenda Lagoa do Nado
10h às 11h30
14h às 16h30

31/01 - Parque das Mangabeiras
10h às 11h30
14h às 16h30

Reinaldo Gomes/Divulgação
Mobiliza/SUS-BH faz ação de combate à dengue voltada para as crianças no Parque das Mangabeiras (foto: Reinaldo Gomes/Divulgação)


E você: já fez a sua parte hoje?

CRIADOUROS DE AEDES AEGYPTI MAIS COMUMENTE ENCONTRADOS NOS DOMICÍLIOS E MEDIDAS RECOMENDADAS:

  • Caixa d'água:
    - Com tampa original: observar se está bem tampada
    - Sem tampa: anotar tamanho, formato e marca e entrar em contato com o Centro de Saúde ou SOS-Saúde (3277.77.22)
    - Tampada com telha de amianto, lona etc. entrar em contato com o Centro de Saúde ou SOS- Saúde.
  • Vasos de plantas comuns ou plantas aquáticas dentro e fora de casa: Lavar as paredes internas para impedir a proliferação do pernilongo ou colocar areia (não acumular água acima da areia);
  • Depósitos tampados (filtros, moringas, caixa d'água, tambores, utensílios de cozinha e outros depósitos vedados): Lavar periodicamente
  • Calhas e Telhados: Manter limpo, retirando folhas secas para evitar acúmulo de água.
  • Depósito de água para pequenos animais: Limpeza a cada dois dias, no mínimo, escovando a lateral do recipiente.
  • Caixa de gordura aberta: Tampar e fazer limpeza habitual
  • Cacos de vidro em muro: Quebrá-los, evitando o acúmulo de água.
  • Bebedouro e suporte de água mineral: Seja feita a limpeza periodicamente.
  • Reservatório (bandeja) que armazena a água do descongelamento da geladeira: Descongelar e limpar sempre.
  • Garrafas de vidro: Esvaziar e colocar de boca para baixo.
  • Garrafas e latas descartáveis: Furar no fundo antes de jogar no lixo
  • Pneus usados: Em local fechado, e secos, não são problema.
  • Folhas e troncos que acumulam água (bananeiras e bromélias), oco de árvores e de pedras: Morador deve fazer furos no encontro das folhas para que não acumulem água.
  • Piscina em uso constante: Limpar periodicamente.
  • Lajes com água empoçada: Morador precisa fazer o escoamento desta água.
  • Aquário de peixes: Limpar periodicamente.
  • Casacas de frutas (côco): Quebrar e eliminar.

CASOS EM QUE É NECESSÁRIO ENTRAR EM CONTATO COM O SOS SAÚDE: 3277.77.22

  • Grandes depósitos propícios a foco (ferro-velho, borracharia etc.)
  • Tanques, cisternas abandonadas e tambores destampados
  • Vaso Sanitário, ralo de banheiro, banheiras em desuso
  • Piscinas em desuso (sem cloração)
  • Lonas plásticas para cobertura (caixa-d'água, lajes, tambores etc.)
  • Depósito de água para bovinos (atenção: equinos e animais exóticos não podem ingerir água tratada com inseticida)
  • Lajes de abrigo de ônibus (acumulando água)
  • Lajes de construção paralisada
  • Sucatas

Fonte: Secretaria Municipal de Saúde/Prefeitura de Belo Horizonte