Mesmo considerada um dos principais problemas de saúde pública de todo o mundo, que mobiliza pesquisas incessantes – só no Brasil duas vacinas estão sendo desenvolvidas -, ações educativas intensivas e campanhas de órgãos públicos com estrelas do esporte e do entretenimento, por que ainda assim, grande parte da população não se entusiasma nessa luta? Para se ter uma ideia, entre 2012 e 2013 a Secretaria Municipal de Saúde registrou um aumento superior a 50% no número de pneus recolhidos pela cidade. O aro de borracha é um clássico e conhecido vetor da dengue. Ano passado, 9.971 pneus foram coletados nos mutirões de limpeza contra 6.500 em 2012.
Segundo Maria Tereza Correia, pesquisas do Ministério da Saúde apontam que 80% da população cansou de ver campanha de combate à dengue. “As pessoas sabem quais são os principais criadouros, mas apenas 50% incorporam a informação na prática diária. Essa outra metade significa um excesso absurdo de gente que não se mobiliza”, diz. Para ela, a explicação pode estar no “pensamento mágico de que ‘comigo não vai acontecer’. Mesmo somando todos os que já adoeceram, é muita gente que nunca teve dengue. No entanto, não podemos esperar que toda a população tenha a doença quatro vezes”, exagera. No Brasil, circulam quatro tipos do vírus da dengue, mas na Malásia já foi encontrado um novo (saiba mais). Cobrar a participação da sociedade não é negar a importância e responsabilidade do poder público. “Mas com a colaboração da população o impacto é outro”, acredita a gerente de Vigilância em Saúde e Informação da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte.
Agentes de mudança
As irmãs Monique, de 8 anos, e Milenna, de 9, visitaram com a mãe, Viviane Aparecida dos Santos o Parque Mangabeiras na última quarta-feira. Moradoras de Sabará, aproveitaram o dia quente para visitar a cachoeira que fica dentro do espaço verde de Belo Horizonte e se divertir com as opções de brinquedos, jogos e oficinas disponíveis no mês de janeiro dentro do programa ‘Férias no Parque’, da PBH. Entre a mesa de ping pong, cama elástica, pula pula, peixes, micos e o quati, que de tão acostumado à movimentação do local se aproxima dos visitantes para ganhar comida, tem ainda o corre-corre que envolve as crianças em geral quando se juntam em um espaço ao ar livre. Com tanta distração, como chamar a atenção da garotada para uma “conversa” sobre dengue?
A tarefa até que não foi muito complicada. Quando os atores do Mobiliza/SUS-BH apareceram caracterizados e começaram a testar o som do espetáculo, meninos e meninas passavam de um lado a outro perguntando o que aconteceria ali. Quinze minutos antes do horário marcado, as cadeiras já estavam ocupadas e o chão ao redor também.
‘Circo Sustástico’ (combinação da sigla SUS com a palavra Fantástico) é um musical que narra a história de um dono de circo, Murrar, que encontrou jogada na beira de uma estrada a boneca Brisoleta. Ela é levada para morar nos fundos do picadeiro, onde ficam os animais. O lugar é sujo e descoberto. A boneca dorme em cima de um monte de pneus que acumulam água. Quando o palhaço Tim Tim observa que Brisoleta está febril e com manchas pelo corpo constata que ela está com dengue. A partir daí, toda a trupe se une para cobrar do dono do circo atitudes corretas para evitar a proliferação da doença. A princípio Murrar não aceita as críticas, mas depois se rende e assume que errou.
“Ele é o patrão
que está aqui só para mandar
não limpa o chão
e deixa a água acumular.”
que está aqui só para mandar
não limpa o chão
e deixa a água acumular.”
O trecho faz parte de uma das canções interpretada em coro pelos artistas do circo que acusam o dono da lona – diante da plateia – de ser o responsável pelo caso de dengue que acometeu Brizoleta.
“Despertar multiplicadores de informação é o foco do projeto. Sabemos que as crianças levam o conhecimento para dentro de casa e influenciam decisões familiares”, reconhece o coordenador de arte e mobilização do grupo Mobiliza/SUS-BH, Guilherme Colina. Pesquisas já comprovaram esse crédito e os meios de comunicação utilizam de discursos sofisticados para falar diretamente com esse público. Em 2011, a Viacom International Media Networks, distribuidora do canal Nickelodeon no país, divulgou o resultado de um estudo realizado em 11 países - incluindo o Brasil - que mostrou que a opinião dos filhos na hora de ir às compras é importante também quando os produtos não são destinados exclusivamente a eles: para 51% dos pais, a decisão final é tomada por eles, mas sempre ouvindo a opinião dos filhos, enquanto 49% afirmam que decidem juntos com as crianças. Mesmo quando o produto é para os pais, a opinião dos filhos é levada em consideração. Na categoria automóvel, por exemplo, 60% dos pais dizem que foram influenciados pelos filhos.
“A criança é agente de mudança, ela leva a sério as informações de campanhas educativas e questiona os pais. Investir na criança é aumentar a chance de o conhecimento ser incorporado com uma boa prática. É muito difícil reverter atitudes de pessoas enraizadas em más práticas, requer mais esforço”, avalia Maria Tereza Oliveira.
Que o diga a mãe de Monique e Milenna. Viviane conta que não é a primeira vez que as meninas são tocadas pelas informações de combate ao Aedes Aegypti. “Na escola, fizemos uma caminhada contra a dengue. Andamos três quarteirões”, orgulha-se Milenna. A família vive em uma casa e a filha mais velha conta que após essa ação sua irmã Monique foi picada por um mosquito. “Eu desci lá embaixo e fui olhar todos os pratinhos de plantas”, relembra. A mãe das meninas conta que o alarde no início do contato com a informação era até exagerado. “Toda vez que alguém era picado, elas ficavam preocupadas”, diz Viviane.
Satisfeitas com o final do espetáculo - elas consideraram justa a reclamação dos artistas do circo pela limpeza do local -, as irmãs se atropelam quando questionadas sobre as formas de prevenir a doença. “Não deixar pneu jogado, não deixar a água acumular, garrafa sempre tampada...”, recomendam quase em coro.
Programação ‘Férias do Parque’:
29/01 - Parque Municipal Renné Giannetti
10h às 11h30
14h às 16h30
30/01 - Parque Municipal Fazenda Lagoa do Nado
10h às 11h30
14h às 16h30
31/01 - Parque das Mangabeiras
10h às 11h30
14h às 16h30
E você: já fez a sua parte hoje?
CRIADOUROS DE AEDES AEGYPTI MAIS COMUMENTE ENCONTRADOS NOS DOMICÍLIOS E MEDIDAS RECOMENDADAS:
- Caixa d'água:
- Com tampa original: observar se está bem tampada
- Sem tampa: anotar tamanho, formato e marca e entrar em contato com o Centro de Saúde ou SOS-Saúde (3277.77.22)
- Tampada com telha de amianto, lona etc. entrar em contato com o Centro de Saúde ou SOS- Saúde.
- Vasos de plantas comuns ou plantas aquáticas dentro e fora de casa: Lavar as paredes internas para impedir a proliferação do pernilongo ou colocar areia (não acumular água acima da areia);
- Depósitos tampados (filtros, moringas, caixa d'água, tambores, utensílios de cozinha e outros depósitos vedados): Lavar periodicamente
- Calhas e Telhados: Manter limpo, retirando folhas secas para evitar acúmulo de água.
- Depósito de água para pequenos animais: Limpeza a cada dois dias, no mínimo, escovando a lateral do recipiente.
- Caixa de gordura aberta: Tampar e fazer limpeza habitual
- Cacos de vidro em muro: Quebrá-los, evitando o acúmulo de água.
- Bebedouro e suporte de água mineral: Seja feita a limpeza periodicamente.
- Reservatório (bandeja) que armazena a água do descongelamento da geladeira: Descongelar e limpar sempre.
- Garrafas de vidro: Esvaziar e colocar de boca para baixo.
- Garrafas e latas descartáveis: Furar no fundo antes de jogar no lixo
- Pneus usados: Em local fechado, e secos, não são problema.
- Folhas e troncos que acumulam água (bananeiras e bromélias), oco de árvores e de pedras: Morador deve fazer furos no encontro das folhas para que não acumulem água.
- Piscina em uso constante: Limpar periodicamente.
- Lajes com água empoçada: Morador precisa fazer o escoamento desta água.
- Aquário de peixes: Limpar periodicamente.
- Casacas de frutas (côco): Quebrar e eliminar.
CASOS EM QUE É NECESSÁRIO ENTRAR EM CONTATO COM O SOS SAÚDE: 3277.77.22
- Grandes depósitos propícios a foco (ferro-velho, borracharia etc.)
- Tanques, cisternas abandonadas e tambores destampados
- Vaso Sanitário, ralo de banheiro, banheiras em desuso
- Piscinas em desuso (sem cloração)
- Lonas plásticas para cobertura (caixa-d'água, lajes, tambores etc.)
- Depósito de água para bovinos (atenção: equinos e animais exóticos não podem ingerir água tratada com inseticida)
- Lajes de abrigo de ônibus (acumulando água)
- Lajes de construção paralisada
- Sucatas
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde/Prefeitura de Belo Horizonte