Nos estudos de Oregon e Harvard, os cientista analisaram os níveis de vitamina D no sangue dos voluntários e a função neuropsiquiátrica de cada um, sondagem que pode medir a progressão da doença e a gravidade dos sintomas. No caso dos 286 pacientes com Parkinson, o estudo liderado por Amy Peterson mostrou que aqueles com os maiores níveis de vitamina D também tinham menor severidade de sintomas e depressão, além de uma melhor cognição. Os dados foram ainda mais expressivos entre indivíduos sem sinais de demência, uma consequência comum da doença.
“O fato de a relação entre a concentração de vitamina D e o desempenho cognitivo parecer mais robusta no subconjunto não demente sugere que uma intervenção mais rápida, antes da demência se instalar, pode ser mais eficaz”, acredita Peterson. A opinião é compartilhada por Alberto Ascherio, que conduziu a pesquisa de Harvard. Ele e sua equipe analisaram amostras de sangue e resultados de ressonância magnética de 465 pacientes com esclerose múltipla durante cinco anos. Concluíram que pequenos aumentos na concentração de vitamina D dentro dos primeiros 12 meses estão associados a um risco 57% menor de recaída e de novas lesões cerebrais. Também foi percebida uma progressão anual mais lenta — o aumento do volume da lesão foi 25% menor.
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Elas receberam a suplementação por 20 semanas. Seis meses após o procedimento ter sido interrompido, percebeu-se uma redução acentuada no nível de dor, principal sintoma da desordem. “Acreditamos que os dados apresentados no presente estudo são promissores. A fibromialgia é um complexo de sintomas muito extensos que não podem ser explicados apenas pela deficiência de vitamina D. No entanto, a suplementação pode ser considerada como um tratamento relativamente seguro e econômico. Trata-se de uma alternativa extremamente rentável ou um complemento à terapia farmacológica cara, assim como terapias físicas, comportamentais e multimodais”, garante Wepner.
Hormônio
Para o neurologista Cícero Coimbra, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a eficácia da suplementação não é novidade. Segundo ele, o conhecimento sobre o composto sofreu uma revolução na última década e meia. Há cerca de 20 anos, imaginava-se que ele tinha como única função favorecer a absorção de cálcio no intestino.
A revolução a qual Coimbra se refere foi feita por novas pesquisas mostrando que não só as células intestinais, mas todas as células do corpo têm receptores de vitamina D e, portanto, respondem à ação do composto. “Na realidade, a vitamina D é um hormônio essencial de tal forma para o organismo que não se conhece um só hormônio que tenha receptores em todas as células”, reforça.
O médico trata pacientes com esclerose múltipla com superdoses de vitamina D. O uso do composto justifica-se principalmente porque o sistema imunológico é uma das áreas mais dependentes da substância. A doença é autoimune, quando as células de defesa se voltam contra o próprio organismo levando a um processo de degeneração celular. A reação imunológica presente nas doenças autoimunitárias leva o nome de TH17.
“A vitamina D seletivamente impede o desenvolvimento dessa reação imunológica TH17. Isso quer dizer que, na presença dela, o sistema imunológico não agride o próprio organismo”, explica Coimbra. O processo é seletivo e acontece sem que haja prejuízo das demais atividades das células no combate a infecções ou a invasões de qualquer micro-organismo estranho.
Crescimento neural
A extrema importância da vitamina D para as células imunológicas fica registrada na propriedade quase exclusiva que elas têm de captá-la inativa e ativá-la. Há vários locais do organismo que dependem das células renais para essa conversão. Outro grupo que conta com essa vantagem de ativação é o tecido nervoso. Níveis adequados de vitamina ativada vão estimular células auxiliares dos neurônios chamadas astrócitos. Essas, por sua vez, a partir do estímulo, produzirão proteínas que agem como fator de crescimento neural.
“A ocorrência de todas as doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Par-kinson, é favorecida por níveis baixos de vitamina D”, garante Coimbra. Ele acrescenta que uma grande ambição atual da neurociência é fazer com que esses fatores de crescimento sejam administrados com remédios.Mas as terapias existentes não são capazes de atravessar a barreira hematoencefálica, que fica entre a circulação sanguínea e a massa cinzenta. “A vitamina D passa essa barreira facilmente e chega ao tecido nervoso. Então, esse grande impedimento no uso de medicamentos para essas doenças neurodegenerativas fica resolvido com o uso dela a doses adequadas.”
Exposição obrigatória ao sol
Um dos alertas feitos pelo neurologista Cícero Coimbra é que a única fonte fisiológica real de vitamina D é a exposição solar. Segundo ele, indivíduos que não se expõem ao sol ou fazem isso fora do horário da radiação adequada para a produção do composto provavelmente estão deficientes da substância. Estima-se que 80% da população urbana esteja nessa situação. Os níveis estariam diminuindo pela ocorrência do uso de protetor solar e pelo aumento do número de horas que as pessoas permanecem em ambientes fechados.
A dermatologista e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia Gladys Martins conta que o assunto é controverso entre a comunidade médica, mas em uma coisa eles concordam: a exposição solar indicada, por mais surpreendente que pareça, é no horário disseminado como o pior para a saúde, entre 10h e 16h. Nesse período, a radiação solar atinge a energia dos raios UVB capaz de estimular a metabolização de vitamina D pelo organismo. Nos outros horários, os raios UVA são mais fortes.
“Essa exposição para a produção é bem curta. Um estudo realizado em São Paulo durante três anos mostrou que basta a exposição apenas das mãos e da face por 10 minutos diários, mesmo nos dias nublados”, diz Martins. O efeito também pode ser obtido com a exposição considerada não intencional, ou seja, quando pessoa se movimenta ao ar livre. Martins lembra que idosos têm uma queda natural da produção do composto e que o período de exposição deve ser um pouco mais extenso, algo como 15 minutos três vezes na semana. (BS)