Saúde

Friozinho do ar-condicionado pode ajudar a emagrecer; entenda como

Segundo experimento holandês, sob baixa temperatura, o corpo usa a gordura acumulada para restabelecer o equilíbrio térmico. O cuidado com a dieta, porém, precisa ser mantido

Vilhena Soares

Polêmico nos escritórios, o friozinho do ar-condicionado pode ajudar a emagrecer. É o que indicam pesquisadores holandeses em um estudo publicado na revista americana Trends in Endocrinology & Metabolism. Segundo eles, ao permanecer em ambientes frios, o organismo gasta mais energia para manter o metabolismo em equilíbrio, o que provoca a perda de peso. Por isso, acostumar-se com as baixas temperaturas pode ser uma forma de levar vantagem na luta contra a balança.


Wouter van Marken Lichtenbel, um dos autores da pesquisa e professor do Departamento de Biologia Humana da Universidade de Maastricht Medical Center, conta que a ideia surgiu durante uma pesquisa relacionada à temperatura corporal. “Cerca de 10 anos atrás, comecei a estudar a exposição ao frio ameno. Primeiro, analisei o gasto de energia de todo o corpo. Quando observamos a termogênese (produção de calor no corpo), olhamos para o tecido que foi um dos responsáveis por esse equilíbrio em humanos adultos, o tecido marrom adiposo”, explica.

Foram selecionados, então, voluntários que ficaram seis horas por dia em ambientes frios. Após 10 sessões sob baixa temperatura, os cientistas notaram um aumento do tecido adiposo marrom e que os voluntários se acostumavam com o ambiente à medida que a temperatura abaixava (veja infográfico). “Mostramos que, quando você se adapta a esses períodos frios para produzir calor, o corpo aumenta a quantidade de gordura marrom, que queima a gordura (ruim) acumulada”, observa Marken.

Clique para ampliar e entender os efeitos do frio para o emagrecimento
Segundo Lúcio Vilar, chefe do Serviço de Endocrinologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), já havia uma desconfiança de que o aumento da gordura marrom auxilia a queima de calorias extras. A relação, no entanto, ainda não tinha sido foco de estudos na área. “Ainda assim, temos tratamentos que utilizam a premissa do frio como auxiliar de queima de gordura”, pondera.

Apesar do sucesso inicial da pesquisa holandesa, o especialista acredita que mais estudos devem ser feitos. Considerar fatores como o estilo de vida, que podem variar os resultados, está entre as questões a serem consideradas, segundo ele. “Precisamos realizar comparações com países de climas diferentes também. Esse tema é interessante, seria de grande valia desvendar detalhadamente como se dá esse processo para auxiliar no combate à obesidade”, completa.

Marken alerta que, mesmo ficando mais tempo em ambientes frios, as pessoas não perderão peso caso não se preocupem também com a alimentação. “Se você aumentar o gasto de energia no frio e, em seguida, compensar comendo mais, vai deixar de ser tão eficaz. Portanto, precisamos de estudos de longo prazo para ver se frio em combinação com outros fatores de estilo de vida, como hábitos alimentares e exercício, funcionará”, declara.

O cientista adianta que a próxima etapa da pesquisa focará nessas e em outras dúvidas. “Vamos estudar a aclimatação ao frio em idosos e a interação entre o exercício, a ingestão de alimentos e a temperatura ambiente. Nós também trabalharemos em novos modelos que possam ser usados no ambiente de compilação a fim de criar um clima interno saudável”, adianta.

Nas clínicas de estética
Tratamentos estéticos já têm utilizado o frio como uma arma a favor do emagrecimento. A crioterapia estética, por exemplo, é uma técnica que esfria o corpo por meio de cremes específicos para acabar com a gordura localizada e a celulite. Com o aumento do gasto energético ao resfriar a pele e os músculos, o organismo reage tentando reaquecer a região. Assim, acelera o metabolismo e faz uma vasodilatação para restabelecer a temperatura corporal, o que leva a queima de gorduras na região em que o creme foi aplicado. A criolipólise segue a mesma lógica. Nesse caso, um aparelho colocado sobre a pele congela as células da gordura para que sejam destruídas pelo organismo.