A expressão 'custar os olhos da cara' ganhou um novo significado com as recentes invenções da moda para os globos oculares. Entre as mais recentes, estão as joias de platina e as tatuagens implantadas na parte branca dos olhos, além das mudanças na cor da íris por meio de uma cirurgia invasiva, realizada com frequência no Panamá, país da América Central que se tornou referência no procedimento - que não é autorizado no Brasil.
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"Os dois pacientes que atendi estavam com a pressão dos olhos altíssima, configurando um caso de glaucoma. Se o implante não tivesse sido removido, o quadro poderia evoluir para uma doença crônica, com uso de medicamento para o resto da vida. Ou ainda pior: o glaucoma pode causar uma lesão no nervo ótico e cegueira permanente”, alerta o médico.
Além de glaucoma e cegueira, as consequências do implante passam pelas infecções oculares, aumento da sensibilidade à luz e inflamações. No Panamá, as leis para as chamadas 'cirurgias experimentais' são mais brandas e flexíveis, permitindo que milhares de pessoas realizem a operação. Algumas clínicas nos Estados Unidos também oferecem o método, ainda que sem aprovação.
“Há a possibilidade, já relatada entre pacientes brasileiros, que a pessoa desenvolva uma opacidade da córnea, com perda de células nervosas. Essas células não se regeneram e o tratamento demanda a realização de um transplante. Ainda assim, pode haver perda parcial da visão. E tudo isso por um capricho”, completa Tibúrcio.
Uma preocupação do médico é que, mesmo após apresentar todos os problemas diagnosticados em seus pacientes, houve resistência para retirada da íris artificial.
Visão platinada
Outra 'invenção' igualmente perigosa são os implantes de 'joias' de platina no globo ocular. Colocados na parte branca, o 'piercing de olho' é um procedimento invasivo que motivou um alerta da Academia Americana de Oftalmologia. O método é perigoso e não conta com aprovação do FDA – órgão estadunidense que regula produtos e práticas vinculadas à saúde, alimentação e estética.
O objeto metálico é implantado cirurgicamente entre a conjuntiva – membrana transparente que recobre o olho - e a esclera – conhecida como parte branca do olho, composta por várias camadas.
As redes de TV americanas entrevistaram Lucy Luckayanko, jovem de 25 anos de origem russa, que teria sido a primeira a realizar o procedimento em Nova York. Por US$3 mil, ela saiu com um pequeno coração prateado nos olhos, posicionado no canto inferior, 'para que os longos cílios da moça não atrapalhem a visualização'.
Ela diz que, no início, sentia algo estranho, mas depois se acostumou. O médico que realizou a cirurgia, Emil Chyn, declarou estar satisfeito com o resultado, porque ele esperava que 'alguém atraente o suficiente para a mídia' fosse a primeira a realizar a façanha. Algumas fotos de Lucy que vazaram algumas semanas após a cirurgia, no entanto, mostraram que a vida não ficou tão cor-de-rosa assim para a jovem.
Além disso, como em qualquer cirurgia, há os riscos de infecção, que pode levar à cegueira. Como o procedimento é feito com pequenas tesouras, existe a possibilidade de uma perfuração e de hemorragia sob a conjuntiva. O sangue pode ser reabsorvido pelo organismo aos poucos, mas o aspecto durante o processo será bem antiestético.
Completam a lista de riscos a conjuntivite, devido à possibilidade de o material estar contaminado. “Quando a infecção atinge as camadas mais profundas da esclera, os antibióticos aplicado por meio de colírio não têm tanta eficácia, gerando complicações no tratamento e hipersensibilidade", pondera Tibúrcio.
Tatuagem nos olhos dos outros é...
Procedimentos estéticos extremos no globo ocular motivaram o Projeto de Lei 5790/13, em análise na Câmara dos Deputados, que proíbe a prática de tatuagem nos olhos no Brasil. Caso o projeto seja aprovado, quem não cumprir a medida ficará sujeito a pena de três meses a um ano de detenção por ofensa à integridade corporal, crime previsto no Código Penal (Decreto-Lei 2.848/40).
Segundo a proposta do deputado Rogério Peninha Mendonça (PMDB-SC), "não se trata de um preconceito contra práticas individuais, nem de tentar impor um padrão de comportamento ou estético, mas de proteger a saúde de pessoas que podem estar a um passo da mutilação".
O cirurgião Leonardo Tibúrcio tem uma regra simples para definir esses procedimentos e os riscos associados. “Se não acrescenta nada para a funcionalidade da visão, não faça. Se não há uma doença que exija esse tratamento, não há justificativa para arriscar a perda”, analisa.
“Na medicina, temos uma balança de benefícios e riscos. Sempre há risco, claro. Mas se os benefícios são maiores, vale a tentativa. Se os dois estão equilibrados, é preciso analisar com ainda mais cuidado e atenção. Agora, se os riscos e as complicações são maiores que as vantagens, não siga esse caminho”, reforça. De acordo com o especialista, esses procedimentos estéticos invasivos nos olhos estão na contramão dos princípios médicos e da saúde.